666, Sexo e a O.T.O

Sobre a relação de Crowley com a magia sexual do ponto de vista de um não-thelemita.

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666, Sexo e a O.T.O

por G. J. Yorke

Em 1912, Theodor Reuss, Chefe Externo da Ordo Templi Orientis, leu o Livro das Mentiras. Para seu espanto, ele descobriu que o capítulo 36 revelava o Segredo do Nono Grau da O.T.O. Crowley, com sua aptidão para o sexo, com seu conhecimento das técnicas e tradições mágicas, e com sua familiaridade com o Oriente, descobrira por si só o segredo da magia sexual. Acreditando que o segredo havia morrido no Ocidente, ele estava orgulhoso de tê-lo redescoberto. Em 1914 ele o utilizou no Paris Working, a série de invocações de maior sucesso que sobreviveu em seus registros pessoais.

Reuss temia que o segredo principal de sua Ordem fosse dado abertamente para o mundo por um homem que na época estava publicando no The Equinox os rituais da Golden Dawn. Ele viajou da Alemanha até Londres para entrar em um acordo e teve mais sucesso do que esperava. Ele explicou para Crowley a teoria por detrás daquela escola de Alquimia que utiliza os fluídos sexuais e o elixir da vida. Ele entrou em mais detalhes sobre a tradição de Baphomet dos Cavaleiros Templários e traçou sua suposta sobrevivência através da Hermetic Brotherhood of Light e dos Illuminati. Então ele mostrou a conexão com os tântricos que seguem o caminho da mão esquerda (vāmamārga) e com os haṭhayogīs que praticam mudrās sexuais. No entanto, o mais importante é que ele ofereceu a Crowley a liderança nacional da O.T.O., uma organização fundada em 1902 com uma visão de sintetizar e controlar as várias ordens maçônicas, herméticas e rosacrucianas da época, e de disseminar sua moralidade peculiar através de “Casas Professas[1]” e colégios fundados para este propósito.

Nesta época, Crowley havia sido convencido pelo Livro da Lei. Ele havia redefinido sua “Verdadeira Vontade” e sua “Grande Obra” como estabelecer  a Lei de Thelema; embora ele não tenha prestado nenhum juramento específico quanto a isso até 1917. Ele se considerava o fundador de uma nova religião e de uma nova ética, que permitiriam que ele e seus seguidores governassem o mundo nos próximos dois mil anos. Até então, a única organização à sua disposição havia sido a A∴A∴ (a Ordem da Estrela de Prata) que ele reorganizou com um pequeno núcleo que seguia sua liderança quando ele rompeu com MacGregor Mathers. Ele estava usando esta ordem para treinar pessoas para descobrirem suas “verdadeiras vontades” e para assim tornarem-se “pessoas majestosas” sob seu comando pessoal e autocrático como A Besta 666, o “Sacerdote dos Príncipes”. Uma vez que ele tinha poucos seguidores, ele acolheu a oferta de Reuss de torná-lo chefe nacional da O.T.O. para a Irlanda, Iona e todas as Ilhas Britânicas, e solicitou que três membros da A∴A∴ fossem tornados chefes respectivamente da Austrália, da África do Sul e do continente da América do Norte, exceto o México, onde já havia sido estabelecida uma loja. Reuss concordou com Crowley, e assim garantiu a eleição de Crowley como C.E.O.[2] após a morte de Reuss.

A O.T.O. foi fundada na Alemanha em 1902. Ela tinha os graus, sinais e palavras usuais, uma constituição e uma revista chamada Die Oriflamme, mas seus rituais ainda estavam na forma de esqueleto. Crowley se ofereceu para escrevê-los, e produziu com sua habitual velocidade os rituais para cinco graus e lições para os próximos quatro, o décimo e último grau meramente significando que seu portador era o chefe nacional. Ele assumiu o título de Baphomet e desenhou seu selo pessoal como tal. Então ele escreveu sua Missa Gnóstica como um serviço no qual ele preservou o segredo do Nono Grau. Ele manteve os graus, sinais e palavras e tradições gerais da Ordem, mas com a aprovação de Reuss ele incorporou algumas das fraseologias e moralidades de seu Livro da Lei. Alguns anos depois ele adicionou um novo grau, o Décimo-Primeiro, adequado apenas para operações masculinas e para o qual mulheres não eram admitidas. Logo Reuss teve problemas com seus colegas, já que muitos deles contestaram o Livro da Lei e a forma aberta como seu segredo principal era tratado na Missa Gnóstica. Como resultado disso, ele começou a perder a confiança em Crowley, e quando ele emitiu uma patente para a Dinamarca, ele a enviou com os esqueletos de rituais originais, e não com o sistema re-escrito por Crowley.

Até então, em seu trabalho, Crowley havia usado sua própria síntese de várias práticas yogīcas e mágicas. As primeiras haviam sido tiradas de um sistema śaivita que ele aprendera de Allan Bennett no Ceilão, que antes de tornar-se budista havia estudado yoga sob Sri Parananda (Sir P. Ramanathan, Procurador Geral do Ceilão). Ele tirou sua magia da Golden Dawn, que trabalhava com o sistema enoquiano desenvolvido pelos elizabetanos Dr. Dee e Sir. Edward Kelly, enquanto baseava sua magia talismânica na do Mago Abramelin e na do Rei Salomão. Ele experimentou a grande operação de Abramelin para a obtenção do “Conhecimento e Conversação de seu Santo Anjo Guardião”, mas ele nunca a completou, então não podia ostentar familiares para servi-lo. Suas armas mágicas, espada, varinha, taça, sino e buril eram consagrados de acordo com a tradição Goetica e da Golden Dawn, e ele utilizava seu ritual do pentagrama para banimentos. Ele checava suas visões pelas correspondências tradicionais da Árvore da Vida, e a integridade das inteligências e coisas relacionadas pela Cabala numérica. Na divinação, ele preferia o Tarô, com a Geomancia como uma alternativa ocasional. Ele ainda não havia chegado ao ponto de confiar quase que unicamente no Yìjīng para este propósito.

O Livro da Lei condenava tudo isso como rituais mortos de uma época que acabou. Ele havia começado a buscar uma síntese baseada naquele livro e adequada para o mundo moderno. Reuss chegou até ele em uma época em que ele havia decidido seguir exclusivamente os princípios thelêmicos de Liber Legis, que é de ênfase tântrica. Pelo resto de sua vida ele usou e ensinou uma técnica sexual e tântrica, embora ao ser solicitado ele demonstraria outros métodos para seus seguidores. Ele nunca mais usou o sexo em vão ou apenas por prazer – em suas próprias palavras, ele nunca mais abusou do sexo. Sexo se tornou e permaneceu para ele um ato sagrado, a chave para a inspiração e adoração, e a fonte de saúde, riqueza e poder. Ele ainda usava yoga e magia, mas apenas como acessórios. Embora seja dito no Livro da Lei para sacrificar “gado pequeno e grande”, ele nunca conseguiu se forçar a fazer isso, e os únicos sacrifícios de sangue do qual algum registro sobrevive foram alguns pardais, dois pombos, um galo, um bode, um gato e uma rã. O sangue do galo foi utilizado para fazer “bolos de luz” que eram mantidos em um altar em Cefalù. O gato e o bode foram mortos por solicitação de diferentes discípulos que desejavam verificar se o uso do sangue era tão eficiente quanto a tradição sempre afirmava. Finalmente, por volta de 1912, ele começou a utilizar o Yìjīng para divinação, suplementando isso em ocasiões importantes por abrir os “Livros Santos” aleatoriamente e escolhendo uma frase ou palavra sobre a qual seu anel caía.

Agora (1912) Crowley tinha ao seu dispôr uma Ordem Internacional através da qual poderia disseminar suas doutrinas. O avanço na A∴A∴ estava restrito a aqueles que conseguiriam passar nos testes de yoga e magia prática básicos, consequentemente seus membros permaneceram poucos, secretos e escolhidos. Ele esperava alcançar um público muito mais amplo através da O.T.O., com suas afiliações maçônicas e rosacrucianas. Na época em que ele embarcou no navio rumo aos Estados Unidos no inverno de 1914, ele tinha duas lojas operando na Inglaterra, e uma no Canadá, uma na África do Sul e uma na Austrália. O número de membros ainda era pequeno, mas era um começo. Não deu em nada. As Lojas inglesas foram fechadas por autoridades como resultado de sua propaganda alemã durante a Primeira Guerra Mundial, as lojas continentais o rejeitaram, e aquelas fundadas por seus discípulos nunca saíram da obscuridade na qual foram fundadas. A O.T.O., como uma organização, provou ser uma bengala quebrada para Crowley.


Quais são as tradições e técnicas das práticas sexuais que Crowley seguiu e ensinou pela maior parte de sua vida? Religiões, vivas ou mortas, e dado que são incompreensíveis para selvagens, podem ser divididas em duas categorias, catárticas ou hedonísticas. A linha divisória é clara, mas as subdivisões de cada lado dessa linha são tão numerosas quanto as seitas. Um professor catártico sustenta que o mundo é um lugar ruim. Ele inibe os sentidos como um meio de escapar e conquistar o mundo espiritual de suas esperanças ou de sua fé. Ele pensa em termos de pecado, sofrimento e restrição. Por outro lado, o religioso hedonístico busca o espiritual através dos sentidos, e usa o sexo como um meio. Ele pensa em termos de vida, luz e amor. O Catolicismo é catártico, mas o hedonismo invade sorrateiramente com as cores, perfumes e músicas do ritual. O Bhairavī Dīkṣā é hedonístico, mas é catártico quando insiste em estrita continência em pensamento e ações durante os sete anos de probação antes que um candidato é admitido ao círculo Kaulā em que a Suvāsinī dança e é adorada nua.

O religioso hedonista considera tudo no mundo como um aspecto de Deus e, portanto, como um possível meio de consecução. Desde que Deus abrange tudo, ele também deve experimentar tudo antes de se tornar qualificado para a Visão Unitiva. Porém na prática sempre existe algo que ele não consegue se pôr a fazer. Para a maioria de nós são muitas as exceções, e nós somos “escravos” que “servem” no Livro da Lei. Os poucos e secretos escolhidos que na teoria thelêmica governarão a terra, são aqueles que podem adorar com drogas e sexo sem tornarem-se escravos de seus sentidos e de suas técnicas.

Crowley era um completo hedonista no sentido de que ele usava drogas e sexo em todas as suas formas. Mas ele fazia isso privadamente. Não há exemplo de registros de mais de duas pessoas estando presentes quando ele trabalhava ou adorava deste modo[3]. Quando ele celebrava a Missa Gnóstica na companhia dos outros, ele sempre usava uma lança falsa e tanto a Sacerdotisa quanto os dois acólitos crianças eram decorosamente vestidos[4].

Nas religiões mais espirituais o ritual supremo é o Sacramento. No Ocidente ele era restrito aos iniciados nos cultos dos Mistérios até que o Cristianismo o tornou disponível para todos de uma forma revisada e refinada. Originalmente, era um rito de fertilidade usado para celebrar a morte e o renascimento do deus em questão. No mito, o deus era assassinado e renascia. No rito um substituto é assassinado e a regeneração toma lugar quando o sacrifício é consumido. A variante sexual deste rito ainda sobrevive no Ocidente e é conhecida como a missa do elemento único, que de acordo com alguns é a prima materia do Alquimista. Não tem nada a ver com a Missa Negra com a qual comumente é confundida. Em sua forma tântrica, na Índia, é conhecida como a missa dos cinco M, o último M sendo maithuna – o ato sexual.

Em todas as religiões fálicas, o Sol representa o aspecto criativo de Deus no Macrocosmo que é o Universo, o falo no microcosmo que é o homem. Ao invés de sacrificar o sol em símbolo, de fato seu vice-regente na terra é sacrificado, e o sacrifício é consumido para realizar a regeneração.

Na Índia, Deus com D maiúsculo é considerado como a causa de tudo, o Primeiro Princípio, e não tem atributos, não sendo nem masculino e nem feminino,  mas a origem de ambos. O criador do universo, por outro lado, é um deus com d minúsculo, ou entre as comunidades Śakti, uma deusa, cada um alcançando a criação pela união com seu parceiro. Humanos, como seu criador, são ou masculinos ou femininos. Eles não podem comungar da essência de Deus com D maiúsculo até que tenham se tornado completos, embora só isso não seja o suficiente. Esta completude é alcançada momentaneamente durante a união com o sexo oposto. Em teoria, isto pode se tornar um estado permanente pela absorção ao longo dos anos do fluído vital do sexo oposto. No entanto, o mero consumo não é o suficiente, mas fornece uma base física essencial sobre a qual a operação inteira é construída.

Ainda outra teoria precisa de uma explicação antes do padrão estar completo. Até agora eu estive discutindo uma técnica de regeneração espiritual. É um trabalho interior e privado, que só afeta o participante, e está mais no reino da religião do que no da magia. Magia, em sua definição mais ampla, é a arte de causar mudanças em conformidade com a vontade – pelo menos é assim que Crowley a definiu. Esta mudança não precisa se restringir ao magista.

O ato sexual é criativo em mais do que um sentido físico – não apenas um corpo humano é concebido, mas para aqueles que acreditam em tais coisas, uma alma encarna. Ou seja, ocorrem mudanças em planos além do físico. Na tradição gnóstica e hermética um ser humano goza de três corpos, cada um operando em um plano diferente – corpo, alma e espírito. Na Cabala há quatro mundos ou planos sobre os quais um ser humano vive simultaneamente em corpos adequados para cada um; em alguns dos sistemas hindus existem cinco, em outros sete – e assim por diante. Agora, o número de nascimentos concretos e visíveis como resultado do ato sexual são comparativamente menores do que o número de atos sexuais realizados. Nesta teoria por trás desta magia, o ato sexual não pode ser concluído sem a criação em outros planos além do físico. O plano astral – ou planos astrais – como pode ser o caso – existe entre o físico e o espiritual. Se não houver criança, somente o plano astral é afetado. Dizem que Succubi, por exemplo, habitam este plano e vivem das emissões noturnas dos homens, e Incubi dos sonhos sexuais de mulheres, mas eles só se tornam nocivos nos casos de masturbação – uma teoria elegante, mas improvável, para descrever os efeitos nocivos deste hábito. É improvável porque embora Succubi tenham sido evocados à aparência visível, isso não é prova de sua existência independente fora da imaginação.

A criação do modo acima – a forma de “solve” da fórmula alquímica – é inevitável. A técnica de criação de um “ser astral” ou “forma pensamento” particular que você requer é razoavelmente simples, desde que ela meramente envolve um desenvolvimento de concentração e força de vontade dentro do escopo de um homem normal. A dificuldade começa com a segunda parte da operação – “coagula”. O “ser astral”, “forma-pensamento”, “vontade-embrião”, ou seja lá o que você escolher chamar o que você criou, precisa de nutrição e de direção. Ela não pode causar um efeito em outra pessoa ou coisa se morrer ou se você não tiver aperfeiçoado o “elo mágico” entre ela e o objeto de sua vontade. Esta técnica é e deve permanecer um segredo. Se você não consegue descobri-la por si mesmo, você não está habilitado a recebê-la.

Pode-se gastar anos prazeirosamente seguindo esta linha do sexo através de centenas de livros sobre magia e religião. Você pode fazer uma perigosa viagem para o Oriente para encontrar gurus que aparentemente fazendo tudo isso e muito mais, apenas para descobrir que eles não vão ensinar isso para você até que tenha desistido de tudo para segui-los, e mesmo assim não ensinarão até que você tenha passado por testes inquisitivos para provar a sua qualificação para o segredo. Então seria isso meramente um sonho? Crowley sabia tanto a teoria quanto a prática, e ele nunca se cansou de dizer que funciona. Ele registrava todas as operações em seus diários com a firme crença de que isso estabeleceria de uma vez por todas o como e o porquê.

Crowley não começou a experimentar seriamente com a magia sexual até após encontrar Reuss em 1912. Ele já havia alcançado a experiência do “Conhecimento e Conversação de seu Santo Anjo Guardião”, uma “inteligência praeter-humana” chamada Aiwass, que ditou a ele – ou assim ele diz – o Livro da Lei no Cairo em 1904. Ele havia recebido a mensagem e a Palavra que deveria satisfazer a raça humana pelos próximos dois mil anos – mas ele ainda não compreendia. Sendo apenas um Mestre do Templo, ele tinha de se tornar um Magus, e possivelmente um Ipsissimus antes que pudesse. Ele devotou muitos trabalhos para este fim e reivindicou sucesso em 1921. A compreensão, no entanto, não implica os meios de expressão. Antes que ele pudesse pregar sua Lei ele tinha de comentá-la. Ele começou seu longo comentário em 1922, como parte do Cephaloedium Working. Mas isso não o satisfez. Ele escreveu o Comentário chamado D durante um “Grande Retiro Mágico” especial no oásis de Nefta em 1923, e ele escreveu o comentário publicado final na Tunísia em 1925.

Seu relato de como ele escreveu o Comentário chamado D ilustra seu método de trabalho. Ele assumiu a tarefa de escrever cerimonialmente sob a inspiração direta de Aiwass um capítulo de cada vez, cada um começando exatamente no momento em que Herschel ocultava a Lua em setembro, outubro e novembro. Cada capítulo deveria ser escrito em um ímpeto de inspiração contínuo sem pausa e sem correções no manuscrito. Para adquirir a inspiração necessária, ele confiou em tomar a missa de um elemento algumas horas antes e cocaína no momento da escrita. Quando chegou a hora, ele estava desesperado. Alostrael estava doente demais para ajudá-lo, e sua própria saúde estava muito ruim para permitir recorrer ao seu garoto árabe Belgacem. Ele teve que trocar papeis com o último. Este método de trabalho sempre era desagradável para ele, e ele tinha grande dificuldade em manter sua concentração. Mas ele teve sucesso, e para sua surpresa, algumas horas depois quando ele sentou à mesa em seu quarto, ele escreveu sem pausas ou rasuras até que o comentário sobre o primeiro capítulo estivesse completo. Ele reivindicou que a escrita fora inspirada.

A maior parte de seu trabalho sexual foi feito para disseminar a Lei de Thelema. Sucesso deveria ser sua prova, mas ele não teve sucesso, embora ele não tenha falhado em conseguir um tipo de herdeiro[5]. As operações fracassaram, mas isso não é prova de sua futilidade. Se o mundo não está pronto para um novo sistema de moralidade – Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei – e para uma nova teoria sobre números – Thelemática – nenhum ser humano por si só pode alterar esse fato. Nem pode prevalecer se a mensagem for disparate.

Com o Elixir da Vida à sua disposição e nenhuma inibição de tomá-lo, Crowley deveria ter vivido em boa saúde até uma sazonada velhice. No entanto, dois anos após aprender o segredo ele começou a sofrer do agravamento de sua asma de 1921 a 1925 por causa do vício em drogas. A isto pode ser somada uma depressão nervosa aguda pelos problemas financeiros, o aparente fracasso de seu trabalho, e a atmosfera peculiar criada por aquilo que ele e seus discípulos chamavam de “o demônio Crowley”. Ele obteve maestria sobre as drogas, porque embora tenha usado heroína sob prescrição médica continuamente pelos últimos quinze anos de sua vida, o uso dela não enchia mais os seus diários com os devaneios de um viciado. Ele nunca curou sua asma e problemas associados, e em 1947 eles o mataram. No entanto, existem muitos exemplos registrados por ele e lembrados por aqueles que o conheciam bem de quando a transição do estado de asma e depressão para um de poder e entusiasmo era tão súbita que parecia miraculosa.

Se a saúde de Crowley era ruim, suas finanças eram caóticas. O Livro da Lei prometia que isso seria resolvido por um “rico homem do Oeste”. Muitas operações foram dedicadas a acelerar a chegada deste milionário, mas ele nunca se materializou. Um dos talismãs de Abramelin (Segelah) serve para “encontrar um Grande Tesouro”. Crowley o copiou transcrito para Enoquiano e sempre o carregava em seu livro de bolso. Ele contém traços de inúmeras consagrações. Nisto ele também falhou, porque até os últimos poucos anos de sua vida ele nunca alcançou estabilidade financeira, e isso só porque ele estava contente em viver em cercanias pouco mais do que degradantes. No entanto, para aqueles que o conheciam bem o modo como o dinheiro surgia do nada exatamente nas quantidades suficientes para evitar um colapso, mas nunca o suficiente para remover a ansiedade, era uma contínua fonte de perplexidade.

Considerando o número de operações registradas por Crowley em seus diários, deveria ser possível provar se o sistema funciona ou não. Ao invés disso, ficamos na estaca zero com um demônio corcunda – um ponto de interrogação. Os casos individuais onde o sucesso parece claro são equilibrados por iguais quantidades de fracassos. Os escritos para os quais foi buscada inspiração não são notavelmente melhores do que os outros compostos antes que a técnica de magia sexual foi adquirida – particularmente a poesia. Em muitos casos elas são notavelmente piores, embora em parte isso pode se dever ao uso de drogas. Um mártir para a asma, ele atingiu a idade bíblica de setenta anos e deixou uma quantidade formidável de obras não publicadas em sua morte. Sem nunca ter certeza sobre como pagar seu próximo aluguel após 1910, as vezes nem mesmo sua próxima refeição, ele publicava sua obra às suas próprias custas, e sempre mantinha uma garrafa de conhaque envelhecido e um bom charuto em um armário para um amigo. Os céticos ridicularizam. A magia, e particularmente a magia sexual – como a religião – são improváveis. Para aqueles que a experimentam, é um fato, para os outros é uma invenção da imaginação. O entusiasmo energizado é uma chave tanto para a adoração quanto para o trabalho criativo. No entanto, se você tentar estender a operação ao mundo material, o resultado parece ser tão incerto a ponto de invalidar a teoria. E sempre será assim. A magia não pode ser medida pela ciência tal qual existe hoje – mas esta é uma crítica quanto ao meio de medir, isso não é uma prova de que a magia só existe na imaginação de seus devotos.

 

[1] [Profess Houses no original. Agradecemos a Breno Zaccaro por encontrar a melhor tradução.]

[2] [“O.H.O.” (Outer Head of the Order) no original. Traduzido aqui como “Chefe Externo da Ordem”.]

[3] Incorreto, mas isso não era frequente.

[4] Eu não conheço nenhum registro em seus diários de que ele tenha participado de uma Missa Gnóstica.

[5] Errado. Ele falhou em ter um herdeiro efetivo. Isso foi escrito antes de sua morte.


Traduzido por Alan Willms em dezembro de 2018.

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