1º Æthyr: LIL
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do primeiro Ar ou Æthyr, chamado LIL
O Clamor do 1º Æthyr, chamado LIL ¶
Primeiro, que louvor e adoração e honra e glória e grande agradecimento sejam dados ao Santo que nos permitiu ir tão longe, que nos revelou os mistérios inefáveis para que eles pudessem ser revelados aos homens. E humildemente imploramos à Sua infinita bondade que ele tenha o prazer de nos manifestar até mesmo o Mistério do Primeiro Æthyr.
(Aqui segue o Chamado do Æthyr.)
O véu do Æthyr é como o véu da noite, azul escuro, repleto de incontáveis estrelas. E porque o véu é infinito, a princípio não se vê o globo alado do sol que queima em seu centro. A paz profunda me preenche – além do êxtase, além do pensamento, além do próprio ser, IAIDA. (Esta palavra significa “Eu sou”, mas em um sentido totalmente além do ser.)
(Observação. – Em letras hebraicas soma 26. Em letras hebraicas, o nome do Æthyr é 70, ayin; mas ao transformar as atribuições Yetziráticas das letras em hebraico, dá 66, que é a soma dos números de 0 a 11.)
Sim; há paz. Não há tendência de qualquer tipo, muito menos qualquer observação, sentimento ou impressão. Há apenas uma consciência débil, como o cheiro de jasmim.
O corpo do Vidente repousa em um sono desperto que é mais profundo do que o sono, e sua mente está quieta; ele parece um lago no deserto, à sombra de palmeiras sem vento.
E é noite; e porque a noite é a noite inteira do espaço, e não a noite parcial da terra, não há pensamento de amanhecer. Pois a luz do Sol faz ilusão, cegando os olhos do homem para a glória das estrelas. E a menos que ele esteja na sombra da terra, ele não consegue ver as estrelas. Então, também, a menos que ele esteja escondido da luz da vida, ele não consegue ver Nuit. Aqui, então, eu permaneço na meia-noite inalterável, totalmente em paz.
Esqueci onde estou e quem sou. Eu estou pendurado em nada.
Agora o véu se abre. (Para o Escriba: Chegue mais perto; não quero ter que falar tão alto.)
É uma criancinha coberta de lírios e rosas. Ele é apoiado por incontáveis miríades de Arcanjos. Os Arcanjos são todos do mesmo brilho incolor, e cada um deles é cego. Abaixo dos Arcanjos novamente há muitas, muitas outras legiões, e assim por diante, muito abaixo, tão longe que o olho não consegue penetrar. E em sua testa, em seu coração e em sua mão está o sigilo secreto da Besta. E de tudo isso a glória é tão grande que todos os sentidos espirituais falham, e seus reflexos no corpo falham.
É muito estranho. Há êxtase em meu coração, êxtase santo e inefável, absolutamente além da emoção; além até mesmo daquela bem-aventurança chamada Ānanda, infinitamente calma e pura. Ainda assim, nos portões de meus olhos há lágrimas, como guerreiros em vigília que se apoiam em suas lanças, ouvindo[1].
O grande e terrível Anjo fica olhando para mim como se quisesse me impedir de ter a visão. Há outro forçando minha cabeça para baixo em sono.
(É muito difícil falar, porque uma impressão leva um tempo imenso para viajar da vontade aos músculos. Naturalmente, não tenho ideia de tempo.)
Subi novamente até a criança, conduzido por dois anjos apoiando minha cabeça.
Esta criança parece ser a criança que se tentou descrever em “O Jardim de Janus”.
Cada vontade é inibida. Já tentei dizer muito, mas sempre me perdi no caminho.
Santo és tu, ó mais belo do que todas as estrelas da Noite!
Nunca houve tanta paz, tanto silêncio. Mas essas são coisas positivas. Cantando louvores de coisas eternas em meio às chamas da primeira glória, e cada nota de cada música é uma flor fresca na guirlanda da paz.
Esta criança não dança, mas é porque ela é a alma das duas danças – a mão direita e a esquerda, e nela elas são uma dança, a dança sem movimento.
Há orvalho em todo o fogo. Cada gota é a quintessência do êxtase das estrelas.
Ainda uma terceira vez sou levado a ele, me prostrando sete vezes a cada passo. Há um perfume no ar, refletido até mesmo no corpo do vidente. Esse perfume emociona seu corpo com um êxtase que é como o amor, como o sono.
E esta é a música:
Eu sou o filho de tudo, que sou o pai de tudo, porque de mim vieram todas as coisas, para que eu pudesse ser. Eu sou a fonte nas neves e sou o mar eterno. Eu sou o amante, sou o amado e sou as primícias do amor deles. Eu sou o primeiro estremecimento frágil da Luz e sou o tear em que a noite tece seu véu impenetrável.
Eu sou o capitão das hostes da eternidade; dos espadachins e dos lanceiros e dos arqueiros e dos cocheiros. Eu liderei os exércitos do leste contra os exércitos do oeste, e os exércitos do oeste contra os exércitos do leste. Pois eu sou a Paz.
Meus olivais foram plantados por uma meretriz e meus cavalos foram criados por um ladrão. Treinei minhas videiras nas lanças do Altíssimo e com meu riso matei mil homens.
Com o vinho em minha taça misturei os relâmpagos, e cortei meu pão com uma espada afiada.
Com minha loucura eu desfiz a sabedoria do Magus, assim como com meus julgamentos subjuguei o universo. Eu comi a romã na Casa da Ira, e esmaguei o sangue de minha mãe entre pedras de moinho para fazer pão.
Não há nada que eu não tenha pisoteado. Não há nada que eu não tenha colocado na guirlanda em minha testa. Eu enredei todas as coisas ao redor de minha cintura como um cinto. Escondi todas as coisas na caverna do meu coração. Eu matei todas as coisas porque sou Inocência. Eu me deitei com todas as coisas porque sou a Virgindade intocada. Eu dei à luz todas as coisas porque sou a Morte.
Imaculados são meus lábios, pois são mais vermelhos do que a púrpura da videira e do sangue com que estou intoxicado. Imaculada é minha testa, pois é mais branca do que o vento e o orvalho que a resfria.
Eu sou luz, sou noite e sou aquilo que está além deles.
Eu sou a fala, sou o silêncio e sou o que está além deles.
Eu sou a vida, e eu sou a morte, e eu sou o que está além deles.
Eu sou a guerra, e eu sou a paz, e eu sou o que está além deles.
Eu sou fraqueza, sou força e sou o que está além deles.
No entanto, por nada disso o homem pode me alcançar. No entanto, por cada um deles o homem deve chegar até mim.
Tu rirás da tolice do tolo. Tu aprenderás a sabedoria dos Sábios. E serás iniciado nas coisas sagradas. E serás aprendido nas coisas do amor. E tu serás poderoso nas coisas da guerra. E serás adepto das coisas ocultas. E tu interpretarás os oráculos. E tu deverás conduzir todos estes à tua frente em tua carruagem, e embora por nenhum destes tu possas chegar até mim, ainda por cada um destes tu deves me alcançar. E tu deves ter a força do leão, e a discrição do eremita. E tu deves girar a roda da vida. E tu deves segurar a balança da Verdade. Tu deves passar pelas grandes Águas, como um Redentor. Tu deves segurar a cauda do escorpião, e as flechas envenenadas do Arqueiro, e os chifres terríveis do Bode. E assim tu deves demolir a fortaleza que guarda o Palácio do Rei meu filho. E tu deves trabalhar pela luz da Estrela e da Lua e do Sol, e pela terrível luz do julgamento que é o nascimento do Espírito Santo dentro de ti. Quando estes tiverem destruído o universo, então tu podes entrar no palácio da Rainha minha filha.
Bendito, bendito, bendito; sim, bendito; três vezes e quatro vezes bendito é aquele que conseguiu olhar para o teu rosto. Pois eu vou arremessar-te da minha presença como um raio rodopiante para guardar os caminhos, e quem tu golpeares será realmente ferido. E quem tu amares deve ser amado de fato. E quer por castigo ou por amor tu trabalhastes, cada um verá meu rosto, um vislumbre através de mil véus. E eles se levantarão do sono de amor ou da morte, e se cingirão com um cinto de pele de cobra para a sabedoria, e eles devem vestir a túnica branca da pureza, e o avental de laranja flamejante da vontade, e sobre os ombros eles devem lançar a pele de pantera da coragem. E eles devem usar o nêmis da discrição e a coroa ateph da verdade. E em seus pés calçarão sandálias de pele de bestas, para que pisem tudo o que eram, mas também para que sua dureza os sustente e proteja seus pés, ao passarem pelo caminho místico que passa pelos pilones. E sobre seus peitos estará a Rosa e a Cruz de luz e vida, e em suas mãos o cajado e o lampião do eremita. Assim, eles iniciarão a jornada sem fim, na qual cada passo é uma recompensa indizível.
Santo, Santo, Santo, Santo; sim, três vezes e quatro vezes santo és tu, porque conseguiste olhar para minha face; não só por meu favor, nem só por tua magia, pode isso ser conquistado. No entanto, está escrito: “Para o mortal perseverante, os Imortais abençoados são rápidos”.
Poderoso, poderoso, poderoso, poderoso; sim, três vezes e quatro vezes poderoso és tu. Aquele que se levantar contra ti será derrubado, embora tu não levantes sequer o teu dedo mínimo contra ele. E aquele que fala mal contra ti será envergonhado, ainda que teus lábios não pronunciem a menor sílaba contra ele. E aquele que pensa mal a respeito de ti será confundido em seus pensamentos, embora em tua mente não surja o menor pensamento sobre ele. E eles serão submetidos à sujeição a ti e te servirão, embora tu não o desejes. E será para eles uma graça e um sacramento, e todos vós deveis sentar-vos juntos no banquete celestial e festejar com o mel dos deuses e vos embriagar-vos do orvalho da imortalidade – PORQUE EU SOU HÓRUS, A CRIANÇA COROADA E CONQUISTADORA, QUE NÃO CONHECESTES!
Passai adiante, portanto, Ó tu Profeta dos Deuses, para o Altar Cúbico do Universo; lá receberás cada tribo e reino e nação na poderosa Ordem que se estende desde as fortalezas da fronteira que guarda o Abismo Supremo até Meu Trono.
Esta é a fórmula do Æon, e com ela termina a voz de LIL, que é o Lampião da Invisível Luz. Amém.
Biskra, Argélia.
19 de dezembro de 1909. 13h30 às 15h30.
Há longos intervalos de tempo entre muitos destes parágrafos, o Vidente tendo se perdido do Ser. O leitor observará que “O Grande e Terrível Anjo” não foi mencionado, mas chega subitamente. Isso ocorre porque a fala do Vidente era inaudível, ou nunca ocorreu. Este anjo era o “Gênio Superior” do Vidente. ↩︎
Traduzido por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.