13º Æthyr: ZIM
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do décimo-terceiro Ar ou Æthyr, chamado ZIM
O Clamor do 13º Æthyr, chamado ZIM ¶
Surge na Pedra uma imagem de águas brilhantes, reluzindo ao sol. Sua beleza é insondável, pois são límpidas e o chão é de ouro. No entanto, o sentido disso é infrutífero.
E um Anjo apareceu, de puro ouro claro, caminhando sobre as águas. Acima de sua cabeça há um arco-íris, e a água espuma sob seus pés. E ele disse: Diante de sua face venho eu, que tenho os trinta e três trovões de crescimento em sua mão. Da água dourada tu colherás milho.
Todo o Ar atrás dele é ouro, mas se abre como se fosse um véu. Há dois gigantes pretos terríveis lutando em ódio mortal. E há um pequeno pássaro em um arbusto, e o pássaro bate suas asas. Com isso, a força dos gigantes se rompe, e eles caem em montes no chão, como se de repente todos os seus ossos tivessem sido quebrados.
E agora ondas de luz rolam pelo Æthyr, como se estivessem brincando. Assim, de repente, estou em um jardim, no terraço de um grande castelo que fica sobre uma montanha rochosa. No jardim há fontes e muitas flores. Também há garotas no jardim, altas, magras, delicadas e pálidas. E agora vejo que as flores são as garotas, pois elas mudam de uma para a outra; tão variado, luminoso e harmonioso é todo este jardim, que parece como uma grande opala.
Surge uma voz: Esta água que vês é chamada de água da morte. Mas NEMO encheu nossas fontes dela.
E eu disse: Quem é NEMO?
E a voz respondeu: Um dente de golfinho, e chifres de carneiro, e a mão de um homem que é enforcado, e o falo de um bode. (Com isso eu entendo que nun é explicado por shin, e hé por resh, e mem por yod, e ayin por tau. Portanto, NEMO é chamado de 165 = 11 × 15; e é em si 910 = 91 Amém × 10; e 13 × 70 = O Olho Único, Achad Ayin.)
E agora surge um Anjo no jardim, mas ele não tem nenhum dos atributos dos Anjos anteriores, pois ele é como um jovem, vestido com trajes de linho branco.
E ele disse: Nenhum homem jamais viu a face de meu Pai. Portanto, aquele que a contemplou é chamado NEMO. E saibas que todo homem chamado NEMO tem um jardim para cuidar. E todo jardim que existe e floresce foi preparado a partir do deserto por NEMO, regado com as águas que eram chamadas de morte.
E eu digo-lhe: Para qual finalidade é preparado o jardim?
E ele disse: Primeiro, por sua beleza e deleite; e a seguir porque está escrito, “E o Tetragrammaton Elohim plantou um jardim no leste do Éden”. E por último, porque embora cada flor produza uma donzela, ainda há uma flor que dará à luz um filho varão. E seu nome será NEMO, quando ele contemplar a face de meu Pai. E aquele que cuida do jardim não busca distinguir a flor que será NEMO. Ele nada faz senão cuidar do jardim.
E eu disse: Agradável de fato é o jardim, e leve é o trabalho de cuidar dele, e grande é a recompensa.
E ele disse: Pensas que NEMO viu a face de meu Pai. Somente Nele está a Paz.
E eu disse: Todos os jardins são como este jardim?
E ele acenou com a mão, e no Ar através do vale apareceu uma ilha de coral, rosada, com palmeiras verdes e árvores frutíferas, no meio do mais azul dos mares.
E ele acenou com a mão novamente, e apareceu um vale cercado por poderosas montanhas de neve, e nele havia agradáveis riachos de água correndo, e rios largos e lagos cobertos de lírios.
E ele acenou com a mão novamente, e houve uma visão, como se fosse de um oásis no deserto.
E novamente ele acenou com a mão, e havia uma região sombria com rochas cinzentas, urzes, tojos e samambaias.
E ele acenou com a mão mais uma vez, e havia um parque, e uma pequena casa nele, cercada de teixos. Desta vez, a casa se abre, e vejo nela um velho sentado à mesa. Ele é cego. No entanto, ele escreve em um grande livro, constantemente. Eu vejo o que ele está escrevendo: “As palavras do Livro são como as folhas das flores no jardim. De fato, muitas dessas minhas canções sairão como donzelas, mas há uma entre elas, que eu desconheço, que será um filho varão, cujo nome será NEMO, quando ele contemplar a face do Pai, e ficar cego”.
(Toda essa visão é extraordinariamente agradável e pacífica, inteiramente sem força ou êxtase, ou qualquer qualidade positiva, mas igualmente livre dos opostos de qualquer uma dessas qualidades.) E o jovem parece ler meu pensamento, ou seja, que eu deveria amar ficar neste jardim e não fazer nada para sempre; pois ele me diz: Vem comigo e contempla como NEMO cuida de seu jardim.
Assim, entramos na terra, e há uma figura velada, em absoluta escuridão. No entanto, é perfeitamente possível vê-lo, de modo que os mínimos detalhes não nos escapem. E sobre a raiz de uma flor ele derrama ácido para que essa raiz se contorça como se fosse uma tortura. E outra ele corta, e o guincho é como o guincho de uma mandrágora arrancada pela raiz. E outra ele cauteriza com fogo, e ainda outra ele unge com óleo.
E eu disse: Pesado é o trabalho, mas realmente grande é a recompensa.
E o jovem me respondeu: Ele não verá a recompensa, ele cuida do jardim.
E eu disse: O que lhe acontecerá?
E ele disse: Isso tu não podes saber, nem é revelado pelas letras que são os totens das estrelas, mas apenas pelas estrelas.
E ele me diz, de maneira bastante desconexa: O homem da terra é o aderente. O amante dá sua vida ao trabalho entre os homens. O eremita segue solitário, e só dá de sua luz aos homens.
E eu lhe pergunto: Por que ele me diz isso?
E ele diz: eu não te digo. Tu disseste a ti mesmo, pois pensaste nisso por muitos dias e não encontraste a luz. E agora que tu és chamado NEMO, a resposta para cada enigma que não encontraste surgirá em tua mente, inesperadamente. Quem pode dizer em que dia uma flor desabrochará?
E tu darás a tua sabedoria ao mundo, e esse será o teu jardim. E a respeito do tempo e da morte, nada tens a ver com essas coisas. Pois embora uma pedra preciosa esteja escondida na areia do deserto, ela não prestará atenção ao vento do deserto, embora seja apenas areia. Pois o trabalhador trabalhou nisso; e porque é clara, é invisível; e porque é dura, não se move.
Todas essas palavras são ouvidas por todos que se chamam NEMO. E com isso ele se aplica ao entendimento. E ele deve compreender a virtude das águas da morte, e deve compreender a virtude do sol e do vento, e do verme que gira a terra, e das estrelas que cobrem o jardim. E ele deve compreender a natureza separada e a propriedade de cada flor, senão como ele deve cuidar de seu jardim?
E eu disse a ele: Com relação à Visão e à Voz, eu saberia se essas coisas são da essência do Æthyr, ou da essência do vidente.
E ele responde: É da essência daquele que é chamado NEMO, combinado com a essência do Æthyr, pois do 1º Æthyr ao 15º Æthyr, não há visão e nem voz, exceto para aquele que é chamado de NEMO. E aquele que busca a visão e a voz nela é conduzido por demônios com cara de cão que não demonstram nenhum sinal da verdade, seduzindo para longe dos Mistérios Sagrados a menos que seu nome seja NEMO.
E se não tivesses sido preparado, tu também serias levado, porque diante do portão do 15º Æthyr está escrito: Ele lhes enviará forte engano para que acreditem em uma mentira. E novamente está escrito: O Senhor endureceu o coração do Faraó. E novamente está escrito que Deus tenta o homem. Mas tu tens a palavra e o sinal, e tu tens a autoridade de teu superior, e licença. E tu fizeste bem naquilo que não ousastes, e naquilo que ousarás. Pois ousadia não é presunção.
E ele disse mais: Faz bem em guardar silêncio, pois vejo quantas perguntas surgem em tua mente; no entanto, já sabes que o responder, assim como o pedir, deve ser em vão. Pois NEMO tem tudo em si. Ele veio aonde não há luz ou conhecimento, apenas quando não precisa mais deles.
E então nos curvamos silenciosamente dando um certo sinal, chamado de Sinal de Isis Regozijando. E então ele permanece para vigiar o Æthyr, enquanto eu volto para a margem de areia que é o leito do rio perto do deserto.
O leito do rio perto de Bou Saâda.
4 de dezembro de 1909. 14h10 às 15h45.
Traduzido por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.