16º Æthyr: LEA
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do décimo-sexto Ar ou Æthyr, chamado LEA
O Clamor do 16º Æthyr, chamado LEA ¶
Há imagens esmaecidas e cintilantes em uma paisagem enevoada, todas muito transitórias. Mas a impressão geral é do nascer da lua à meia-noite e de uma virgem coroada montada em um touro.
E eles vêm até a superfície da pedra. E ela está cantando um cântico de louvor: Glória àquele que tomou sobre si a imagem da labuta. Pois pelo seu labor o meu labor é realizado. Pois eu, sendo uma mulher, desejo sempre acasalar-me com alguma besta. E esta é a salvação do mundo, que sempre sou enganada por algum deus, e que minha criança é guardiã do labirinto que tem setenta e dois caminhos.
Agora ela se foi.
E agora há Anjos andando para cima e para baixo na pedra. Eles são os Anjos da Sagrada Tabela Sétupla. Parece que eles estão esperando o Anjo do Æthyr aparecer.
Agora, finalmente, ele aparece na escuridão. Ele é um Rei poderoso, com coroa, orbe e cetro, e suas vestes são de púrpura e ouro. E ele lança o orbe e o cetro no chão, e ele arranca sua coroa, e a joga no chão, e a pisoteia. E ele arranca seu cabelo, que é de ouro avermelhado tingido de prata, e ele puxa sua barba, e clama com uma voz terrível: Ai de mim que fui derrubado de meu lugar pelo poder do novo Æon. Pois os dez palácios estão destruídos, e os dez reis são levados à escravidão, e eles são colocados para lutar como os gladiadores no circo daquele que colocou suas mãos sobre onze. Pois a antiga torre foi destruída pelo Senhor da Chama e do Relâmpago. E os que andam sobre as mãos deles edificarão o lugar santo. Abençoados são aqueles que viraram o Olho de Hoor ao zênite, pois eles serão preenchidos com o vigor do bode.
Tudo o que estava ordenado e estável foi abalado. O Æon das Maravilhas chegou. Como gafanhotos eles se reunirão, os servos da Estrela e da Cobra, e eles comerão tudo o que está sobre a terra. Por quê? Porque o Senhor da Retidão se deleita neles.
Os profetas profetizarão coisas monstruosas e os feiticeiros farão coisas monstruosas. A feiticeira será desejada por todos os homens, e o encantador governará a terra.
Bênção ao nome da Besta, pois ele lançou uma poderosa torrente de fogo de sua masculinidade, e de sua feminilidade ele lançou uma poderosa torrente de água. Cada pensamento de sua mente é como uma tempestade que arranca as grandes árvores da terra e sacode as suas montanhas. E o trono de seu espírito é um trono poderoso de loucura e desolação, de modo que aqueles que olham para ele clamam: Eis a abominação!
De um único rubi esse trono será construído, e será colocado sobre uma alta montanha, e os homens o verão de longe. Então reunirei minhas carruagens, meus cavaleiros e meus navios de guerra. Por mar e por terra meus exércitos e minhas marinhas o cercarão, e eu acamparei ao redor dele e o sitiarei, e por sua chama serei totalmente devorado. Muitos espíritos mentirosos eu enviei ao mundo para que meu Æon pudesse ser estabelecido, e eles serão todos destruídos.
Grande é a Besta que surge como um leão, o servo da Estrela e da Cobra. Ele é o Eterno; Ele é o Todo-Poderoso. Bem-aventurados aqueles para quem ele olhará com favor, pois nada permanecerá diante de sua face. Amaldiçoados são aqueles a quem ele olhará com escárnio, pois nada permanecerá diante de sua face.
E todo mistério que não foi revelado desde a fundação do mundo, ele revelará aos seus escolhidos. E eles terão poder sobre todos os espíritos do Éter; e da terra e sob a terra; em terra seca e na água; do ar rodopiante e do fogo impetuoso. E eles terão poder sobre todos os habitantes da terra, e todo flagelo de Deus será subjugado sob seus pés. Os anjos virão a eles e caminharão com eles, e os grandes deuses do céu serão seus hóspedes.
Mas devo sentar-me à parte, com poeira sobre minha cabeça, descoroado e desolado. Devo me esconder em cantos proibidos da terra. Devo conspirar secretamente nas vielas das grandes cidades, no nevoeiro e nos pântanos dos rios da pestilência. E toda a minha astúcia não me servirá. E todos os meus empreendimentos serão reduzidos a nada. E os ministros da Besta me capturarão e arrancarão minha língua com pinças de ferro em brasa, e marcarão minha testa com a palavra de escárnio, e rasparão minha cabeça, arrancarão minha barba e me farão de exemplo.
E o espírito de profecia virá sobre mim ocasionalmente, a despeito de mim, como agora mesmo sobre meu coração e minha garganta; e sobre a minha língua estão queimadas com ácido forte as palavras: Vim patior. Pois assim devo dar glória àquele que me suplantou, que me lançou no pó. Eu o tenho odiado, e com o ódio meus ossos estão podres. Eu teria cuspido nele, e minha saliva teria sujado minha barba. Peguei a espada contra ele, e caí sobre ela, e minhas entranhas estão ao redor de meus pés.
Quem deverá se esforçar contra sua força? Não tem ele a espada e a lança do Guerreiro Senhor do Sol? Quem o enfrentará? Quem se levantará contra ele? Pois o fecho de sua sandália é mais do que o elmo do Altíssimo. Quem o alcançará em súplica, senão aqueles que ele pôs em seus ombros? Quisera Deus que minha língua fosse arrancada pela raiz, minha garganta cortada e meu coração arrancado e dado aos abutres, antes de dizer isso que devo dizer: Bênção e Adoração ao Profeta da Amável Estrela!
E agora ele está completamente caído no chão, em uma pilha, e há poeira sobre sua cabeça; e o trono em que ele se sentava está estilhaçado em muitos pedaços.
E vagamente aparecendo nesta escuridão indizível, muito, muito acima, está o rosto que é o rosto de um homem e de uma mulher, e na sobrancelha há um círculo, e no peito há um círculo, e na palma da mão direita há um círculo. Gigantesca é sua estatura, e ele tem a coroa de Uraeus, a pele de leopardo e o avental laranja flamejante de um deus. E invisível ao seu redor está Nuit, e em seu coração está Hadit, e entre seus pés está o grande deus Ra Hoor Khuit. E em sua mão direita há uma varinha de fogo, e em sua mão esquerda um livro. No entanto, ele está em silêncio; e aquilo que foi entendido entre mim e ele não será revelado neste lugar. E o mistério será revelado a quem disser, com êxtase de adoração em seu coração, com uma mente clara e um corpo apaixonado: É a voz de um deus, e não de um homem.
E agora toda aquela glória se retirou; e o velho Rei jaz prostado, abjeto.
E a virgem que montava no touro vem, conduzida por todos aqueles Anjos da Sagrada Tabela Sétupla, e eles estão dançando ao redor dela com guirlandas e arranjos de flores, trajes soltos e cabelos dançando ao vento. E ela sorri para mim com brilho infinito, de modo que todo o Æthyr esquenta, e ela diz com um significado sutil, apontando para baixo: Por isto, aquilo.
E eu segurei e beijei a mão dela, e lhe disse: Não estou quase purificado da iniquidade de meus antepassados?
Com isso, ela se abaixa, beija-me na boca e diz: “Um pouco ainda, e no teu braço esquerdo levarás um filho varão e dar-lhe-ás de beber do leite dos teus seios. Mas eu sigo dançando”.
E eu aceno minha mão, e o Æthyr está vazio e escuro, e eu me curvo diante dele no sinal que eu, e somente eu, posso conhecer. E eu afundo em ondas de escuridão, pairando sobre uma águia, para baixo, para baixo, para baixo.
E dou o sinal que só eu posso conhecer.
E agora não há nada na pedra, exceto a cruz negra de Themis, e sobre ela estas palavras: Memento: Sequor. (Essas palavras provavelmente significam que o Equinócio de Hórus deve ser seguido pelo de Themis.)
Bou Saâda.
2 de dezembro de 1909. 16h50 às 18h05.
Traduzido por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.