18º Æthyr: ZEN

Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz

O clamor do décimo-oitavo Ar ou Æthyr, chamado ZEN

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O Clamor do 18º Æthyr, chamado ZEN

Uma voz surge antes de qualquer visão: Amaldiçoados são aqueles que entram aqui e têm pregos, pois eles serão perfurados com eles; ou se eles tiverem espinhos, porque eles serão coroados com eles; ou se tiverem chicotes, porque com chicotes serão açoitados; ou se tiverem vinho, porque o seu vinho se tornará amargo; ou se tiverem uma lança, porque com uma lança serão perfurados até o coração. E os pregos são desejos, dos quais existem três; o desejo de luz, o desejo de vida, o desejo de amor.

(E os espinhos são pensamentos e os chicotes são arrependimentos, e o vinho é facilidade, ou talvez instabilidade, especialmente em êxtase, e a lança é apego.)

E agora começa a aparecer a cena da Crucificação; mas o Crucificado é um morcego enorme, e no lugar dos dois ladrões há duas crianças. É de noite, e a noite está cheia de coisas horríveis e uivos.

E um anjo apareceu e disse: Cuidado, pois se tu mudares tanto quanto o estilo de uma letra, a palavra sagrada será blasfemada. Mas entrai na montanha das Cavernas, pois isto (quanto mais então aquele Calvário que zomba dele, como seu macaco zomba de Thoth?) é apenas a casca vazia do mistério de ZEN. Em verdade, eu te digo, muitos são os adeptos que viram as costas de meu pai e clamaram, “nossos olhos desfalecem diante da glória de teu semblante”.

E com isso ele dá o sinal da abertura do véu e destrói a visão. E vejam! colunas giratórias de luz ígnea, setenta e duas delas. Elas sustentam sobre si uma montanha de cristal puro. A montanha é um cone, o ângulo do ápice é de sessenta graus. E dentro do cristal há uma pirâmide de rubi, como a Grande Pirâmide de Gizé.

Entrei pela pequena porta e cheguei na câmara do rei, que é moldada como a cripta dos adeptos, ou melhor, é adequado dizer que a cripta dos adeptos é uma vil imitação desta. Pois a câmara tem quatro lados, os quais com o teto, o piso e a própria câmara perfazem sete. Assim também o pāstōs é sete, pois o que está dentro é semelhante ao que está fora. E não há móveis e não há símbolos.

Jorra luz de todos os lados sobre o pāstōs. Esta luz é da cor azul de Hórus que conhecemos, mas sendo refinada, é brilhante. Pois a luz de Hórus só parece azul por causa da imperfeição de nossos olhos. Mas embora a luz jorre do pāstōs, o pāstōs permanece perfeitamente escuro, de modo que é invisível. Ele não tem forma: apenas, em certo ponto da câmara, a luz é repelida.

Deito-me prostrado no chão diante desse mistério. Seu esplendor é impossível de descrever. Só posso dizer que seu esplendor é tão grande que meu coração para com o terror, maravilha e êxtase dele. Estou quase louco. Um milhão de imagens insanas se perseguem através do meu cérebro… Uma voz surge: (é minha própria voz – eu não sabia). “Quando tu me conheceres, Ó tu, Deus vazio, minha pequena chama se extinguirá completamente em teu grande N.O.X.” Não há resposta… (20 minutos. O.V.) …

E agora, depois de tanto tempo, o Anjo[1] me levanta e me tira da sala, e me coloca em uma pequena câmara onde está outro Anjo como um belo jovem em trajes brilhantes, que me faz participar dos sacramentos; pão, que é trabalho; e fogo, que é sagacidade; e uma rosa, que é pecado; e vinho, que é morte. E tudo ao nosso redor é uma grande companhia de anjos em trajes multicoloridos, rosa e verde primaveril, e azul celeste, e ouro claro, e prata e lilás, cantando solenemente sem palavras. É uma música maravilhosa além de tudo que possa ser pensado.

E agora saímos da câmara; à direita há um pilone, e a figura da direita é Isis, e a figura da esquerda é Néftis, e elas estão dobrando suas asas e apoiando Rá.

Eu queria voltar à Câmara do Rei. O Anjo me empurrou, dizendo: “Tu verás essas visões de longe, mas não partilharás delas, exceto da maneira prescrita. Pois se tu mudares tanto quanto o estilo de uma letra, a palavra sagrada será blasfemada”.

E esta é a maneira prescrita:

Que haja uma sala mobiliada como para o ritual de passagem através do Tuat. E que o aspirante esteja vestido com as vestes de seu grau, e que ele porte as insígnias de seu grau. E ele será pelo menos um neófito.

Três dias e três noites ele estará na tumba, vigilante e jejuando, pois não dormirá mais do que três horas de cada vez, e beberá água pura, e comerá bolinhos doces consagrados à lua, e frutas, e ovos de pata, ou de gansa, ou de tarambola. E ele ficará trancado, para que nenhum homem interrompa sua meditação. Mas nas últimas doze horas não comerá nem dormirá.

Então ele quebrará seu jejum, comendo comida rica e bebendo vinhos doces e vinhos que espumam; e ele banirá os elementos e os planetas e os sinais e as sephiroth; e então ele tomará a tabela sagrada que fez para o seu altar; e ele receberá o chamado do Æthyr do qual partilhará, o qual ele escreveu nos caracteres angelicais, ou nos caracteres do alfabeto sagrado que é revelado em Popé, sobre uma bela folha de velino virgem; e com isso ele conjurará o Æthyr, entoando o chamado. E no lampião que está pendurada acima do altar ele queimará o chamado que ele escreveu.

Então ele se ajoelhará diante da tabela sagrada, e será concedido a ele do mistério do Æthyr.

E sobre a tinta com a qual ele escreverá; para o primeiro Æthyr que seja ouro, para o segundo escarlate, para o terceiro violeta, para o quarto esmeralda, para o quinto prata, para o sexto safira, para o sétimo laranja, para o oitavo índigo, para o nono cinza, para o décimo preto, para o décimo primeiro marrom, para o décimo segundo castanho-avermelhado, para o décimo terceiro verde acinzentado, para o décimo quarto âmbar, para o décimo quinto oliva, para o décimo sexto azul claro, para o décimo sétimo carmesim, para o décimo oitavo amarelo brilhante, para o décimo nono carmesim adornado com prata, para o vigésimo malva, para o vigésimo primeiro verde claro, para o vigésimo segundo rosa claro, para o vigésimo terceiro cobalto violeta, para o vigésimo quarto marrom-escaravelho, cor marrom-azulada, para o vigésimo quinto um cinza escuro e frio, para o vigésimo sexto branco salpicado de vermelho, azul e amarelo; as bordas das letras serão verdes, para a vigésima sétima nuvem raivosa de marrom avermelhado, para a vigésima oitava índigo, para a vigésima nona verde azulado, para a trigésima cores misturadas.

Esta deverá ser a forma a ser usada por aquele que partilhará do mistério de qualquer Æthyr. E que ele não mude tanto quanto o estilo de uma letra, para que a palavra sagrada não seja blasfemada.

E que ele se acautele, depois de ter sido permitido partilhar deste mistério, que ele aguarde o término da 91ª hora de seu retiro antes de abrir a porta do local de seu retiro; para que ele não contamine sua glória com impureza, e para que aqueles que o contemplam não sejam feridos por sua glória até a morte.

Pois este é um mistério sagrado, e aquele que primeiro conseguiu revelar o alfabeto disso, não percebeu uma décima milésima parte da franja que está sobre sua vestimenta.

Parta! porque as nuvens se reuniram, e o Ar se ergueu como o ventre de uma mulher que está de parto. Parta! para que ele não perca os relâmpagos de sua mão e libere seus cães de trovão. Parta! Pois a voz do Æthyr se realizou. Parta! Pois o selo de Sua benevolência está assegurado. E que haja louvor e bênção indizíveis para aquele que se senta no Trono Sagrado, pois ele derruba misericórdias como um esbanjador que espalha ouro. E ele encerrou o julgamento e o escondeu como um avarento que acumula moedas de pouco valor.

Tudo isso enquanto o Anjo me empurrava para trás, e agora ele se transformou em uma cruz dourada com uma rosa em seu coração, e essa é a cruz vermelha na qual está colocada a pedra dourada.

Bou Saâda.
1 de dezembro de 1909. 14h30 às 16h10.


  1. Nenhum anjo foi mencionado. O Vidente estava perdido da capacidade de ser. ↩︎


Traduzido por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.

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