19º Æthyr: POP
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do décimo-nono Ar ou Æthyr, chamado POP
O Clamor do 19º Æthyr, chamado POP ¶
No início, há uma teia negra sobre a face da pedra. Um raio de luz a penetra por trás e por cima. Então vem uma cruz negra, alcançando a amplitude de toda a pedra; depois uma cruz dourada, não tão grande. E há uma inscrição em um arco que abrange a cruz, em um alfabeto em que as letras são todas formadas por pequenas adagas, com punho cruzado, dispostas de maneiras diferentes. E a escrita é: Adorai no corpo as coisas do corpo; adorai na mente as coisas da mente; adorai no espírito as coisas do espírito.
(Este alfabeto sagrado deve ser escrito por pecadores, isto é, por aqueles que são impuros.)
“Impuro” significa aqueles de quem cada pensamento é seguido por outro pensamento, ou que confundem o superior com o inferior, a substância com a sombra. Cada Æthyr é verdadeiro, embora seja apenas uma sombra, pois a sombra de um homem não é a sombra de um macaco.
(Nota. – Tudo isso veio a mim sem voz, sem visão, sem pensamento.)
(A pedra de vidência é pressionada em minha testa e causa uma dor intensa; à medida que avanço de Æthyr a Æthyr, parece mais difícil abrir o Æthyr.)
A cruz dourada tornou-se uma pequena porta estreita, e um velho como o Eremita do Tarô a abriu e saiu dela. Eu lhe peço para ser admitido: e ele balança a cabeça gentilmente, e diz: Não é dado à carne e ao sangue desvendar os mistérios do Æthyr, pois nele há bigas de fogo, e o tumulto dos cavaleiros; quem entra aqui pode nunca mais olhar para a vida com olhos iguais. Eu insisto.
O pequeno portão é guardado por um grande dragão verde. E agora toda a parede caiu repentinamente; há um fulgor de bigas e cavaleiros; uma batalha furiosa está acontecendo. Não se ouve nada além do choque de aço, o relinchar dos cavalos de batalha e os gritos dos feridos. Mil caem a cada encontro e são pisoteados. No entanto, o Æthyr está sempre cheio; existem reservas infinitas.
Não; está tudo errado, pois esta não é uma batalha entre duas forças, mas uma batalha em que cada guerreiro luta por si mesmo contra todos os outros. Não consigo ver alguém que tenha sequer um aliado. E os menos afortunados, que caem mais cedo, são os que estão nas carruagens. Pois assim que eles começam a lutar, seus próprios cocheiros os apunhalam pelas costas.
E no meio do campo de batalha há uma grande árvore, como uma árvore quinar. No entanto, dá frutos. E agora todos os guerreiros estão mortos, e eles são os frutos maduros que caíram – o chão está coberto deles.
Há uma risada em meu ouvido direito: “Esta é a árvore da vida”.
E agora há um deus poderoso, Sebek, com cabeça de crocodilo. Sua cabeça é cinza, como lama de rio, e suas mandíbulas preenchem todo o Ar. E ele tritura a árvore inteira e o chão e tudo mais.
Agora então finalmente surge o Anjo do Æthyr, que é como o Anjo da décima quarta chave da Rota, com belas asas azuis, vestes azuis, o sol no cinto dela como um broche, e as duas crescentes da lua moldadas como sandálias para os pés. Seu cabelo é de ouro esvoaçante, cada brilho como uma estrela. Em suas mãos estão a tocha de Penélope e a taça de Circe.
Ela vem e me beija na boca, e diz: Bendito és tu que viste Sebek meu Senhor em sua glória. Muitos são os campeões da vida, mas todos foram derrubados pela lança da morte. Muitos são os filhos da luz, mas seus olhos serão todos apagados pela Mãe das Trevas. Muitos são os servos do amor, mas o amor (que não é apagado por nada, senão o amor) será eliminado, assim como a criança pega o pavio de uma vela entre o polegar e o dedo, pelo deus que está sentado só.
E na boca dela, como um crisântemo de luz radiante, há um beijo, e nela está a monograma I.H.S. As letras I.H.S. significam In Hominī Salūs e Īnstar Hominis Summus, e Imāgō Hominis deuS. E há muitos, muitos outros significados, mas todos eles implicam uma coisa; que nada tem importância senão o homem; não há esperança ou ajuda a não ser no homem.
E ela diz: Doces são meus beijos, ó viajante que vagas de estrela a estrela. Doces são meus beijos, ó chefe de família que se esgota entre quatro paredes. Tu estás preso dentro do teu cérebro, e minha flecha o perfura, e tu estás livre. Tua imaginação devora o universo como o dragão que devora a lua. E em minha flecha está concentrada e amarrada. Veja como ao teu redor se reúnem os meus guerreiros, fortes cavaleiros em belas armaduras, prontos para a guerra. Olhe para minha coroa; está acima das estrelas. Veja seu brilho e rubor! Sobre tua bochecha está a brisa que agita aquelas plumas da verdade. Pois embora eu seja o Anjo da décima quarta chave, também sou o Anjo da oitava chave. E do amor destas duas surgi, eu que sou a vigilante de Popé[1] e o servo dos que nele habitam. Embora todas as coroas caiam, a minha não cairá; pois minhas plumas alcançam até os joelhos Daquele que está sentado no trono sagrado e que vive e reina para todo o sempre como o equilíbrio da retidão e da verdade. Eu sou o Anjo da lua. Eu sou a velada que se senta entre os pilares velados com um véu brilhante, e em meu colo está o Livro aberto dos mistérios da luz inefável. Eu sou a aspiração ao superior; eu sou o amor pelo desconhecido. Eu sou a dor cega dentro do coração do homem. Eu sou a ministra do sacramento da dor. Eu balanço o incensário da adoração e borrifo as águas da purificação. Eu sou a filha da casa do invisível. Eu sou a Sacerdotisa da Estrela de Prata.
E ela me pega como uma mãe pega seu filho, e me segura em seu braço esquerdo, e coloca meus lábios em seu seio. E no seio dela está escrito: Rosa Mundī est Līlium Coelī.
E eu olho para baixo para o Livro aberto dos mistérios, e ele está aberto na página onde está a Tabela Sagrada com os doze quadrados no meio. Ela irradia um clarão de luz, deslumbrante demais para ser possível distinguir os caracteres, e uma voz diz: Nōn haec piscis omnium.
(Para interpretar isso, devemos pensar em Ἰχθύς, que não oculta Iesous Christos Theon Uios Soter como tradicionalmente afirmado, mas é um mistério da letra Nun e da letra Qoph, como pode ser visto ao somá-las.
Ἰχθύς só está relacionado ao cristianismo porque era um hieróglifo da sífilis, que os romanos supunham ter sido trazida da Síria; e parece ter sido confundida com a lepra, que também pensaram ser causada pela ingestão de peixe.
Um significado importante de Ἰχθύς: ele é formado pelas iniciais de cinco divindades egípcias e também de cinco divindades gregas; em ambos os casos, está oculta uma fórmula mágica de tremendo poder.)
Quanto à própria Tabela Sagrada, não consigo vê-la por causa do brilho da luz; mas fui levado a entender que ela aparece em outro Æthyr, do qual forma praticamente todo o conteúdo. E eu sou convidado a estudar a Tabela Sagrada muito intensamente, a fim de ser capaz de me concentrar nela quando ela aparecer.
Eu cresci, de modo que sou tão grande quanto o Anjo. E nós estamos de pé, como se crucificados, face a face, nossas mãos e lábios e peito e joelhos e pés juntos, e os olhos dela perfuram meus olhos como flechas de aço que giram, de modo que eu caio de cabeça para trás através do Æthyr – e há é um grito repentino e tremendo, absolutamente atordoante, frio e brutal: Osíris era um deus negro[2]! E o Æthyr bate palmas, mais alto do que o estrondo de mil trovões poderosos.
Eu estou de volta.
Bou Saâda.
30 de novembro de 1909. 22h às 23h45.
Traduzido e anotado por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.