21º Æthyr: ASP
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do vigésimo primeiro Ar ou Æthyr, chamado ASP
O Clamor do 21º Æthyr, Chamado ASP ¶
Um vento poderoso sopra por todo o Æthyr; há uma sensação de vazio absoluto; sem cor, sem forma, sem substância. Porém de vez em quando parece haver como se fossem sombras de grandes anjos se movendo. Sem som; há algo muito implacável no vento, sem paixão, que é muito terrível. De certa forma, é estressante. É como se algo continuasse tentando abrir atrás do vento e, quando está prestes a abrir, o esforço se esgotasse. O vento não é frio nem quente; não há nenhum tipo de sentido relacionado a ele. Ele nem mesmo é sentido, pois se está na frente dele.
Agora, a coisa abre atrás, só por um segundo, e eu vislumbro uma aleia de pilares, e no final um trono, sustentado por esfinges. Tudo isso de mármore preto.
Agora eu pareço ter atravessado o vento e estar diante do trono; mas aquele que está sentado ali é invisível. No entanto, é dele que procede toda essa desolação.
Ele está tentando me fazer entender colocando sabores na minha boca, muito rapidamente, um após o outro. Sal, mel, açúcar, assa-fétida, betume, mel de novo, um gosto que não conheço de jeito nenhum; alho, algo muito amargo como nux vomica, outro sabor, ainda mais amargo; limão, cravo, folhas de rosa, mel novamente; o suco de alguma planta, como um dente-de-leão, eu acho; mel de novo, sal, um gosto parecido com fósforo, mel, louro, um gosto muito desagradável que não conheço, café, depois um gosto ardente, depois um gosto azedo que não conheço. Todos esses sabores emanam de seus olhos; ele os sinaliza.
Agora eu consigo ver seus olhos. Eles são muito redondos, com pupilas perfeitamente pretas, íris perfeitamente brancas e a córnea azul-claro. A sensação de desolação é tão aguda que continuo tentando me afastar da visão.
Eu disse a ele que não conseguia entender sua linguagem de paladar, então, em vez disso, ele começou a zumbir muito parecido com uma grande usina elétrica com dínamos funcionando.
Agora a atmosfera é de um azul noturno profundo; e pelo poder daquela atmosfera, os pilares se acendem em um carmesim brilhante e opaco, e o trono é um ouro opaco e avermelhado. E agora, através do zumbido, vêm notas muito claras, como sinos, e mais além um murmúrio, como o de uma tempestade que se aproxima.
E agora eu ouço o significado do murmúrio: Eu sou aquele que existia antes do começo, e em minha desolação eu bradei alto, dizendo: que eu contemple o meu semblante no côncavo do abismo. E eu contemplei, e vede! na escuridão do abismo meu semblante era negro e vazio, e distorcido, que era (uma vez) invisível e puro.
Então fechei os olhos, para que eu não o vesse, e por isso estava tudo consertado. Agora está escrito que um olhar de meus olhos o destruirá. E os meus olhos não me atrevo a abrir, por causa da avareza da visão. Portanto, eu olho com esses dois olhos por todo o êon. Não existe um de todos os meus adeptos que virá a mim, e cortará fora minhas pálpebras, para que eu possa ver e destruir?
Agora pego uma adaga e, procurando seu terceiro olho, busco cortar as pálpebras, mas elas são muito rígidas. E a ponta da adaga entorta.
E lágrimas caem de seus olhos, e há uma voz triste: Assim sempre foi: assim sempre será! Embora tenhas a força de cinco touros, não conseguirás usá-la nisto.
E eu disse-lhe: Quem conseguirá? E ele me respondeu: Eu não sei. Mas a adaga da penitência tu deves temperar sete vezes, afligindo os sete cursos de tua alma. E tu deverás afiar seu fio sete vezes pelos sete ordálios.
(Continua-se olhando em volta para tentar encontrar outra coisa por causa do terror. Mas nada muda. Nada além do trono vazio, e os olhos, e a aleia de pilares!)
E eu disse-lhe: Ó tu, que és o primeiro semblante antes do tempo; tu de quem está escrito que “Ele, Deus, é um; Ele é o eterno, sem igual, filho ou companheiro. Nada ficará diante de Sua face”; tudo o que ouvimos de tua glória e santidade infinitas, de tua beleza e majestade, e vede! não há nada além dessa abominação da desolação.
Ele fala; não consigo ouvir sequer uma palavra; algo sobre o Livro da Lei. A resposta está escrita no Livro da Lei, ou algo parecido.
Este é um longo discurso; tudo o que consigo ouvir é: De mim derramam os fogos da vida e aumenta continuamente sobre a terra. De mim fluem os rios de água, óleo e vinho. De mim surge o vento que traz a semente das árvores e flores e frutos e todas as ervas em seu peito. De mim vem a terra em sua variedade indescritível. Sim! tudo vem de mim, nada vem a mim. Portanto, estou sozinho e horrível neste trono sem proveito. Somente aqueles que nada aceitam de mim podem trazer algo para mim.
(Ele continua falando: Não consigo ouvir nenhuma palavra. Posso ter ouvido cerca de um vigésimo do que ele disse.) E eu lhe digo: Foi escrito que seu nome é Silêncio, mas tu falas continuamente.
E ele responde: Não, o murmúrio que ouves não é a minha voz. É a voz do macaco.
(Quando digo que ele responde, significa que é a mesma voz. O ser no trono não pronunciou uma palavra.) Eu digo: Ó tu, macaco que falas por Aquele cujo nome é Silêncio, como saberei que tu falas verdadeiramente o pensamento Dele? E o murmúrio continua: Ele nem fala nem pensa, de modo que o que digo é verdade, porque minto ao falar os pensamentos Dele.
Ele continua, nada o detém; e o murmúrio vem tão rápido que não consigo ouvi-lo de modo algum.
Agora o murmúrio cessou ou é superado pelos sinos, e os sinos, por sua vez, são superados pelo zumbido, e agora o zumbido é superado pelo silêncio. E a luz azul se foi, e o trono e os pilares voltaram à escuridão, e os olhos daquele que está sentado no trono não são mais visíveis.
Eu procuro chegar perto do trono, e sou empurrado para trás, porque não consigo dar o sinal. Dei todos os sinais que conheço e tenho direito, e tentei dar o sinal de que sei e não tenho direito, mas não tenho as prerrogativas necessárias; e mesmo se tivesse, seria inútil; pois há mais dois sinais necessários.
Acho que estava errado ao sugerir que um Mestre do Templo tinha o direito de entrar no templo de um Magus ou de um Ipsissimus. Pelo contrário, a regra que é válida abaixo, também é válida acima. Quanto mais alto você vai, maior é a distância de um grau a outro.
Estou sendo lentamente empurrado para trás na aleia, na direção do vento. E desta vez sou apanhado pelo vento e soprado rodopiando para baixo como uma folha morta.
E um grande Anjo varre o vento, e me agarra, e me sustenta contra ele; e ele me coloca do outro lado do vento e sussurra em meu ouvido: Vá para o mundo, ó três e quatro vezes abençoado que contemplou o horror da solidão d’O Primeiro. Nenhum homem contemplará seu rosto e viverá. E tu viste os olhos dele e compreendeste seu coração, pois a voz do macaco é a pulsação de seu coração e o trabalho de seu peito. Vá, portanto, e regozija-te, pois tu és o profeta do Êon que surge, onde Ele não é. Louve tua senhora Nuit, e o senhor dela Hadit, que são para ti e tua noiva, e os vencedores do ordálio X.
E com isso chegamos à muralha do Æthyr, e há um pequeno portão estreito, e ele me empurra através dele, e de repente estou no deserto.
O deserto perto de Bou Saâda[1].
29 de novembro de 1909. 13h30 às 14h50.
Esta noite eu levei minha pedra-de-vidência para segurá-la em meu peito ao dormir, e imediatamente um Dhyāna surgiu do sol, visto mais claramente depois disso como a Estrela. Seu brilho era demasiado. ↩︎
Traduzido por Alan Willms em agosto de 2021.