24º Æthyr: NIA

Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz

O clamor do vigésimo quarto Ar ou Æthyr, chamado NIA

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O Clamor do 24º Æthyr, chamado NIA

Um anjo surge na pedra como um guerreiro vestido em uma armadura de cota de malha. Sobre a sua cabeça há plumas cinzentas, espalhadas como a cauda de um pavão. Aos seus pés há um grande exército de escorpiões e cães, leões, elefantes, e muitas outras bestas selvagens. Ele estica seus braços para o céu e brada; No crepitar do relâmpago; no rolar do trovão; no bater das espadas e no arremessar das flechas: que teu nome seja exaltado!

Rios de fogo saem do céu, um azul claro brilhante, como plumas. E eles se reúnem e se estabelecem sobre seus lábios. Seus lábios são mais vermelhos do que rosas, e as plumas azuis se reúnem em uma rosa azul, e debaixo das pétalas da rosa surgem beija-flores de cores brilhantes, e a rosa derrama orvalho — orvalho cor-de-mel. Eu fico debaixo de onde ele goteja.

E sai uma voz da rosa: Saia! Nossa carruagem é puxada por pombos. De madrepérola e marfim é a nossa carruagem, e suas rédeas são os nervos dos corações[1] dos homens. Todo momento que voamos cobrirá um æon. E todo lugar em que descansamos será um jovem universo regozijando em sua força; seus prados serão cobertos com flores. Ali descansaremos apenas uma noite, e pela manhã partiremos, confortados.

Agora, imaginei para mim a carruagem de onde a voz falou, e olhei para ver quem estava comigo na carruagem. Ela era um Anjo de cabelo dourado e pele dourada, cujos olhos eram mais azuis do que o mar, cuja boca era mais vermelha do que o fogo, cujo hálito era ar de ambrosia. Suas túnicas eram mais finas do que teia de aranha. E elas eram das sete cores.

Tudo isso eu vi; e então a voz oculta ficou baixa e doce: Saia! O preço da jornada é pequeno, embora seu nome seja morte. Tu deves morrer para tudo aquilo que tu temes e anseias e odeias e amas e pensas e és. Sim! tu morrerás, como precisais morrer. Pois tudo o que tu tens, tu não tens; e tudo o que tu és, tu não és!

NENNI OFEKUFA ANANAEL LAIADA I MAELPEREJI NONUKA AFAFA ADAREPEHETA PEREGI ALADI NIISA NIISA LAPE OL ZODIR IDOIAN.

E eu disse: ODO KIKALE QAA. Por que estais escondido de mim, a quem eu ouço?

E a voz respondeu e disse a mim: Audição é só do espírito. Tu comungas do mistério quíntuplo. Tu deves enrolar os dez divinos como um pergaminho, e dali moldar uma estrela. No entanto, tu deves velar a estrela no coração de Hadit.

Pois o sangue de meu coração é como um banho morno de mirra e âmbar-gris; banha-te ali. O sangue de meu coração está todo reunido em meus lábios se eu te beijo, queima na ponta de meus dedos se eu te acaricio, queima em meu ventre quando tu te achas em minha cama. Poderosas são as estrelas; poderoso é o sol; poderosa é a lua; poderosa é a voz daquele que sempre vive, e os ecos de seu sussurro são os trovões da dissolução dos mundos. Mas meu silêncio é mais poderoso do que eles. Fechai os mundos como uma casa exausta; fechai o livro do registrador, e que o véu engula o relicário, pois eu estou erguida, Ó meu belo, e não há mais necessidade de todas estas coisas.

Se uma vez te separei de mim, foi pelo prazer de brincar. O fluxo e refluxo das marés não é uma música do mar? Vinde, escalemos a Nuit nossa mãe e nos percamos! Que o ser seja tornado vazio no abismo infinito! Pois só por mim tu escalarás; tu não tens outras asas senão as minhas.

Tudo isso enquanto a Rosa estava lançando chamas azuis, reluzindo como cobras através do Ar inteiro. E as cobras assumiram a forma de frases. Uma delas é: Sub umbra alarum tuarum Adonai quies et felicitas. E outra: Summum bonum, vera sapientia, magnanima vita, sub noctis nocte sunt. E outra é: Vera medicina est vinum mortis. E outra é: Libertas evangelii per jugum legis ob gloriam dei intactam ad vacuum nequaquam tendit. E outra é: Sub aquâ lex terrarum. E outra é: Mens edax rerum, cor umbra rerum; intelligentia via summa. E outra é: Summa via lucis: per Hephaestum undas regas. E outra é: Vir introit tumulum regis, invenit oleum lucis.

E ao redor de todo este conjunto de coisas, estão as letras TARO; mas a luz é tão terrível que eu não consigo ler as palavras. Vou tentar novamente. Todas estas serpentes estão densamente reunidas nas beiradas da roda, porque há um incontável número de frases. Uma é: tres annos regimen oraculi. E outra é: terribilis ardet rex עליוז. E outra é: Ter amb (amp?) (não consigo enxergá-la) rosam oleo (?). E outra é: Tribus annulis regna olisbon. E a maravilha é que com aquelas quatro letras você consegue obter um conjunto de regras completo para fazer todas as coisas, tanto para a magia branca quanto a negra.

E agora eu vejo o coração da rosa novamente. Eu vejo o rosto daquele que é o coração da rosa, e na glória daquele rosto eu estou acabado. Meus olhos estão fixos nos olhos dele; meu ser é sugado através de meus olhos para dentro daqueles olhos. E eu vejo através daqueles olhos, e vede! o universo, como redemoinhos de fagulhas de ouro, soprado como uma tempestade. Eu pareço crescer para dentro dele novamente. Minha consciência preenche o Æthyr inteiro. Eu ouço o clamor de NIA, vibrando repetidamente dentro de mim. Soa como música infinita, e atrás do som está o significado do Æthyr. Novamente não há palavras.

Durante todo esse tempo, os redemoinhos de fagulhas de ouro prosseguem, e eles são como céu azul, com várias nuvens um tanto finas nele, do lado de fora. E agora eu vejo montanhas redondas, montanhas azuis distantes, montanhas púrpuras. E no meio há um pequeno vale verde de terreno pantanoso, que está brilhando por completo com orvalho que pinga da rosa. E eu estou deitado naquele terreno pantanoso com meu rosto voltado para cima, bebendo, bebendo, bebendo, bebendo, bebendo o orvalho.

Eu não consigo descrever para você a alegria e a exaustão de tudo o que houve, e a energia de tudo o que há, pois é só um cadáver que está deitado no terreno pantanoso. Eu sou a alma do Æthyr.

Agora ele reverbera como as espadas dos arcanjos, colidindo com a armadura dos condenados; e ali pareciam estar os ferreiros do céu batendo o aço dos mundos sobre as bigornas do inferno, para fazer um teto para o Æthyr.

Pois se a grande obra fosse realizada e todos os Æthyrs fossem apanhados em um, então a visão falharia; então a voz seria silente.

Agora tudo desapareceu da pedra.

Aïn El Hadjel.
26 de novembro de 1909, 2h às 3h25 da tarde.


  1. «Heart-strings no original, um nervo que supostamente sustentava o coração. Hoje em dia o termo é empregado para as emoções.» ↩︎


Traduzido e anotado por Alan Willms em agosto de 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.

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