4º Æthyr: PAZ
Este artigo é um capítulo de A Visão e a Voz
O clamor do quarto Ar ou Æthyr, chamado PAZ
O Clamor do 4º Æthyr, chamado PAZ ¶
A Pedra está translúcida e luminosa, e nenhuma imagem entra nela.
Uma voz diz: Eis o brilho do Senhor, cujos pés estão postos sobre aquele que perdoa a transgressão. Eis a Estrela sêxtupla que flameja na Cripta, o selo do casamento do grande Rei Branco e sua escrava preta.
Então eu olhei para a Pedra e contemplei a Estrela sêxtupla: todo o Æthyr é como nuvens fulvas, como a chama de uma fornalha. E há uma poderosa hoste de Anjos, azuis e dourados, que se aglomeram, e eles clamam: Santo, Santo, Santo és tu, que não foste abalado nos terremotos e nos trovões! O fim das coisas chegou sobre nós; o dia do sê-conosco está próximo! Pois ele criou o universo, e o destruiu, para que pudesse deleitar-se nisso.
E agora, no meio do Æthyr, eu contemplei aquele deus. Ele tem mil braços, e em cada mão há uma arma de terrível força. Seu rosto é mais terrível do que a tempestade, e de seus olhos brilham relâmpagos de brilho intolerável. De sua boca correm mares de sangue. Sobre sua cabeça há uma coroa de todas as coisas mortais. Em sua testa está o tau ereto, e em cada lado dele há sinais de blasfêmia. E ao redor dele se segura uma jovem, como a filha do rei que apareceu no nono Æthyr. Mas ela se tornou rosada por causa da força dela, e sua pureza tingiu seu preto de azul.
Eles estão apertados em um abraço furioso, de modo que ela é despedaçada pelo terror do deus; no entanto, ela se apega tão fortemente a ele, que ele é estrangulado. Ela forçou a cabeça dele para trás e a garganta está lívida com a pressão dos dedos dela. Seu grito conjunto é uma angústia intolerável, mas é o grito de seu êxtase, de modo que toda dor, e toda maldição, e todo luto, e toda morte de tudo em todo o universo, é apenas uma pequena rajada de vento naquela tempestade-grito de êxtase.
A voz daquilo não é articulada. É vão buscar comparação. É absolutamente contínuo, sem pausas ou batidas. Se parece haver vibração nela, é por causa da imperfeição dos ouvidos do vidente.
E aí vem uma voz interior, que diz ao vidente que ele treinou bem seus olhos e pode ver muito; e ele treinou um pouco os ouvidos e pode ouvir um pouco; mas seus outros sentidos ele mal treinou e, portanto, os Æthyrs são quase silenciosos para ele naqueles planos. Por sentidos entendem-se as correlações espirituais dos sentidos, não os sentidos físicos. Mas isso pouco importa, porque o Vidente, na medida em que é um vidente, é a expressão do espírito da humanidade. O que vale para ele vale para a humanidade, de forma que mesmo se ele tivesse sido capaz de receber os Æthyrs completos, ele não poderia tê-los comunicado.
E um Anjo fala: Vede, esta visão está totalmente além do teu entendimento. No entanto, tu deverás te esforçar para te unir ao terrível leito matrimonial.
Assim, eu sou dilacerado, de nervo a nervo e de veia a veia, e mais intimamente – célula a célula, molécula a molécula, e átomo a átomo, e todos esmagados juntos ao mesmo tempo. Escreva que separar é um esmagamento. Todos os fenômenos duplos são apenas duas maneiras de olhar para um único fenômeno; e o único fenômeno é a Paz. Não há sentido em minhas palavras ou em meus pensamentos. “Rostos semi-formados surgiram”. Este é o significado daquela passagem; elas são tentativas de interpretar o Caos, mas o Caos é Paz. Cosmos é a Guerra da Rosa e da Cruz. Então este foi o “rosto semi-formado” que eu disse. Todas as imagens são inúteis.
Escuridão, escuridão intolerável, antes do início da luz. Este é o primeiro versículo de Gênesis. Santo és tu, Caos, Caos, Eternidade, todas as contradições em termos!
Ó, azul! azul! azul! cujo reflexo no Abismo é chamado de o Grande da Noite do Tempo; entre vós vibra o Senhor das Forças da Matéria.
O Nox, Nox quī cēlās īnfāmiam īnfandī nefandī, Deō solō sit laus quī dedit signum nōn scrībendum. Laus virginī cuius stuprum trādit salūtem.
Ó Noite, que deixas sugar em teus mamilos a feitiçaria, e roubo, e estupro, e gula, e assassinato, e tirania, e para o Horror sem nome, cubra-nos, cubra-nos, cubra-nos do Cetro do Destino; pois o Cosmos deve vir, e o equilíbrio será estabelecido onde não houver necessidade de equilíbrio, porque não havia injustiça, mas apenas verdade. Mas quando os pesos da balança estão iguais, escala equiparada a escala, então o Caos retornará.
Sim, como em um espelho, assim em tua mente, que é apoiada com o metal falso da mentira, todo símbolo é lido ao contrário. Vede! tudo em que tu confiaste deve confundi-lo, e aquilo de que tu fugiste era o teu salvador. Portanto, gritaste no Sabá Negro quando beijaste as nádegas peludas do bode, quando o deus nodoso te rasgou em pedaços, quando a catarata gelada da morte te varreu.
Grite, portanto, grite alto; misture o rugido do leão ferido e o gemido do touro dilacerado, e o clamor do homem que é dilacerado pelas garras da Águia, e o grito da Águia que é estrangulada pelas mãos do Homem. Misture todos estes no grito de morte da Esfinge, pois o cego profanou o mistério dela. Quem é este, Édipo, Tirésias, Erínias? Quem é este, que é cego e um vidente, um tolo acima da sabedoria? A quem os cães do céu seguem e os crocodilos do inferno aguardam? Aleph, vau, yod, ayin, resh, tau, é o nome dele.
Abaixo de seus pés está o reino e sobre sua cabeça a coroa. Ele é espírito e matéria; ele é paz e poder; nele está o Caos e a Noite e Pã, e sobre BABALON sua concubina, que o embriagou com o sangue dos santos que ela reuniu em sua taça dourada, ele gerou a virgem que agora ele deflora. E isto é o que está escrito: Malkuth será elevada e colocada no trono de Binah. E esta é a pedra dos filósofos que é colocada como um selo sobre a tumba de Tetragrammaton, e o elixir da vida que é destilado do sangue dos santos, e o pó vermelho que é a trituração dos ossos de Choronzon.
Terrível e maravilhoso é o Mistério disso, ó tu Titã que subiste na cama de Juno! Certamente tu és amarrado e despedaçado sobre a roda; ainda assim tu descobriste a nudez do Santo, e a Rainha do Céu está em trabalho de parto, e seu nome será chamado de Vir, e Vis, e Virus, e Virtus, e Viridis, em um nome que é todos estes, e que está acima de todos estes.
Desolado, desolado é o Æthyr, pois tu deves retornar às habitações da Coruja e do Morcego, aos Escorpiões da areia, e aos besouros pálidos sem olhos que não têm nem asa nem chifre. Retorna, embota a visão, limpa da tua mente a memória disso; abafa o fogo com lenha verde; consome o Sacramento; cobre o Altar; vela o relicário; fecha o Templo e espalha tendas no local do mercado; até que chegue o tempo determinado em que o Santo declarará a ti o Mistério do Terceiro Æthyr.
Ainda assim, estejas vigilante e te acauteles, pois o grande Anjo Hua está ao teu redor, e te cobre, e a qualquer momento ele pode vir até ti sem perceberes. A voz de PAZ acabou.
Biskra, Argélia.
16 de dezembro de 1909. 9h às 10h30.
Traduzido por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.