Fragmento II - Os Dois Caminhos
Este artigo é um capítulo de A Voz do Silêncio
Reúne preceitos espirituais retirados do Livro dos Preceitos de Ouro, que tem uma origem comum com as Estâncias de Dzyan, ou assim afirma a autora.
Fragmento II - Os Dois Caminhos
E AGORA, ó Mestre da compaixão, ensina tu o caminho aos outros homens. Olha, todos aqueles que, batendo para que os admitam, esperam na ignorância e na escuridão ver abrir-se a porta da suave Lei!
A voz dos candidatos:
Não quererás tu, Mestre da tua própria misericórdia, revelar a doutrina do coração (50)? Recusar-te-ás a conduzir os teus servos até ao Caminho da libertação?
Diz o mestre:
Os caminhos são dois; as grandes perfeições três; seis as virtudes que transformam o corpo na árvore da sabedoria (51).
Quem se aproximará delas?
Quem primeiro entrará para elas?
Quem primeiro ouvirá a doutrina dos dois caminhos em um, a verdade sem véu a respeito do Coração Secreto (52)? A lei que, rejeitando o aprender, ensina a sabedoria, revela uma história de dor.
Ai de nós, ai de nós, que todos os homens possuam Alaya, sejam unos com a grande Alma, e que, possuindo-a, Alaya de tão pouco lhes sirva!
Repara como, qual a lua se reflete nas ondas tranqüilas, Alaya é refletida pelos pequenos e pelos grandes, espelhado nos átomos ínfimos, e contudo não consegue chegar ao coração de todos. Ai de nós, que tão poucos sejam os homens que se aproveitem do dom, do dom sem preço, de aprender a verdade, a verdadeira percepção das coisas existentes, o conhecimento do não-existente!
Diz o aluno:
Ó Mestre, que farei eu para atingir a sabedoria? Ó Sábio, que farei para conseguir a perfeição?
Procura os caminhos. Mas, ó Lanu, sê puro de coração antes que comeces a tua jornada. Antes que dês o primeiro passo, aprende a separar o real do falso, o transitório do eterno. Aprende sobretudo a separar a ciência da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina dos “olhos” da doutrina do “coração”.
Sim, a ignorância é como uma vasilha fechada e sem ar; a Alma uma ave dentro dela. Não canta, nem pode mexer uma pena; mas jaz num torpor e morre de não poder respirar.
Mas mesmo a ignorância é melhor do que a ciência de cabeça sem a sabedoria de Alma para a iluminar e guiar.
As sementes da sabedoria não podem germinar e crescer no espaço sem ar. Para viver e comer experiência, o espírito precisa espaço e profundidade e pontos que o guiem para a Alma de Diamante (53). Não procures esses pontos no reino de Maya; mas ergue-te acima das ilusões, busca o eterno e imutável Sat (54), desconfiando das falsas sugestões de fantasia.
Porque a mente é como um espelho; cobre-se de pó ao mesmo tempo que reflete (55). Precisa que as brisas leves da sabedoria de Alma limpem o pó das nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir a tua mente e a tua Alma.
Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles mentem. Mas dentro do teu corpo - escrínio das tuas sensações - procura no impessoal o Homem Eterno (56) e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda (57).
Rejeita o aplauso, ó crente; o aplauso conduz à ilusão de si próprio. O teu corpo não é Personalidade, a tua Personalidade é, em si, sem corpo, e o elogio ou a censura não a atingem.
O contentamento de si próprio, ó discípulo, é uma torre altíssima, à qual um insensato orgulhoso subiu. Ali se senta em orgulhosa solidão, invisível a todos, salvo a si próprio.
A falsa ciência é rejeitada pelos sábios, e espalhada aos ventos pela Boa Lei. A sua roda gira para todos, tanto para os humildes como para os orgulhosos. A doutrina dos olhos é para a multidão; o doutrina do coração para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosos: “Vede, eu sei”; os últimos, aqueles que humildemente fizeram a sua colheita, confessam em voz baixa: “Assim ouvi” (58).
“A Grande Joeira” é o nome da Doutrina do Coração, ó discípulo.
A roda da Boa Lei gira rapidamente. Noite e dia mói. Afasta o joio do trigo dourado, e a casca da farinha. A mão do Carma guia a roda; as rotações marcam o bater do coração cármico.
O verdadeiro conhecimento é a farinha, a falsa ciência é a casca. Se queres comer o pão da sabedoria, tens de amassar a tua farinha com a água límpida de Amrita (59). Mas, se amassas cascas com o orvalho de Maya, só podes criar alimento para as pombas negras da morte, as aves da nascença, da decadência e da tristeza.
Se te disserem que para te tornares Arhan tens de deixar de amar todas as coisas - dize-lhes que mentem.
Se te disserem que para te libertares tens de odiar a tua mãe e desprezar o teu filho; de renegar o teu pai e chamar-lhe dono de casa (60); de renunciar toda a compaixão pelos homens e pelos animais - dize-lhes que as suas palavras são falsas.
Assim ensinam os Tirthikas (61), os descrentes.
Se te ensinarem que o pecado nasce da ação e a felicidade da inação absoluta, dize-lhes que se enganam. A não-permanência da ação humana, a libertação da mente da sua escravidão pela cessação do pecado e das culpas não são coisas para os Eus Devas (62). Assim reza a doutrina do coração.
O Dharma (63) dos olhos é a corporização do externo e do não-existente.
O Dharma do coração é a corporização de Bodhi (64), o eterno e o permanente.
A lâmpada brilha bastante quando estão limpos pavio e óleo. Para limpá-los é preciso quem os limpe. A chama não sente o processo de limpeza. “Os ramos de uma árvore são sacudidos pelo vento; o tronco fica imóvel”.
Tanto a ação como a inação podem caber em ti; o teu corpo agitado, a tua mente tranqüila, a tua Alma límpida como um lago de montanha.
Queres tu tornar-te um iogue do círculo do tempo? Então, ó Lanu:
Não creias que sentando-te em florestas escuras, em orgulhosa reclusão, longe dos homens; não creias que a vida alimentada a plantas e raízes, saciada a sede com a neve da. grande Cordilheira - não creias, ó devoto, que isto te levará à meta da libertação final.
Não julgues que o partir dos ossos, o rasgar da carne e dos músculos, te unirá à tua Personalidade silenciosa (65). Não julgues que quando estão vencidos os pecados da tua forma grosseira, ó vítima das tuas sombras (66), o teu dever está cumprido para com a natureza e com os homens.
Os bem-aventurados não quiseram fazer assim. O Leão da Lei, o Senhor da Misericórdia (67), percebendo a verdadeira causa da dor humana, imediatamente abandonou o repouso suave mas egoísta das solidões sossegadas. De Aranyaka (68) tornou-se o Mestre da humanidade. Depois de Julai (69) ter entrado para o Nirvana, ele pregou em montanhas e planícies, fez sermões nas cidades, aos Devas, aos homens e aos Deuses (70).
Semeia boas ações e colherás o seu fruto. A inação num ato de misericórdia passa a ser a ação num pecado mortal.
Assim diz o Sábio:
Por que queres abster-te da ação? Não é assim que a tua Alma conseguirá a sua liberdade. Para chegar ao Nirvana é preciso chegar ao conhecimento de Si próprio, e o conhecimento de Si próprio é filho de ações caridosas.
Tem paciência, candidato, como quem não teme falhar, nem procura triunfar. Fixa o olhar da tua Alma na estrela cujo raio és (71), a estrela chamejante que brilha nas profundezas sem luz do ser eterno, nos campos sem limite do desconhecido.
Tem perseverança, como aquele que tem de sofrer eternamente. As tuas sombras vivem e desaparecem (72); aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti conhece (porque é o conhecimento) não é da vida transitória; é o Homem que foi, que é, e que há de ser, para quem a hora nunca soará.
Se queres colher a suave paz e o descanso, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores da nascença.
Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das três vestes do Caminho (73).
Essas vestes são: Nirmanakaya, Sambhogakaya, e Dharmakaya, traje sublime (73).
A veste Shangna, (74) é certo, pode comprar a luz eterna. A veste Shangna, por si só, dá o Nirvana da destruição; pára o renascer, mas, ó Lanu, também mata a compaixão. Os Budas perfeitos, que vestem a glória do Dharmakaya, já não podem contribuir para a salvação humana. Ai de nós! Devem as personalidades ser sacrificadas a uma só? Deve a humanidade ser sacrificada ao bem de indivíduos?
Aprende, ó principiante, que este é o caminho aberto, o caminho para a felicidade egoísta, evitado pelos Bodhisattvas do Coração Secreto, os Budas da Compaixão.
Viver para servir a humanidade é o primeiro passo. Praticar as seis virtudes gloriosas (75) é o segundo.
Vestir a veste humilde do Nirmanakaya é rejeitar para si a felicidade eterna, para poder auxiliar a salvação humana. Chegar à felicidade do Nirvana, mas renunciar a ela, é o passo supremo, final - o mais alto no caminho da renúncia.
Aprende, ó discípulo, que é este o caminho secreto, escolhido pelos Budas da perfeição, que sacrificaram a sua Personalidade a personalidades mais fracas.
Mas, se a doutrina do coração é alta demais para ti, se precisas te auxiliar a ti próprio e receias oferecer auxílio aos outros - então, tu de coração tímido, acautela-te a tempo; contenta-te com a doutrina ocular da Lei. Continua esperando. Porque se o Caminho Secreto não é atingível hoje, amanhã (76) estará ao teu alcance, Aprende que não há esforço, por pequeno que seja quer no bom sentido, quer no mau - que possa perder-se e desaparecer no mundo das causas. Mesmo o fumo dado ao vento não é sem rastro. “Uma palavra brusca dita em vidas passadas não se perde, mas renasce sempre” (77). A pimenteira não produz rosas, nem a estrela de prata do jasmim se torna espinho ou cardo.
Podes criar hoje tuas oportunidades de amanhã. Na Grande Jornada (78), as causas semeadas cada hora produzem cada qual a sua colheita de efeitos, porque uma justiça inalterável rege o mundo. Com o vasto alcance de ação infalível ela traz aos mortais vida de alegria ou de angústia, a prole cármica dos nossos pensamentos e ações anteriores.
Aceita, pois, tanto quanto o mérito te reserva, ó de coração paciente. Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal é o teu Carma, o Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, na sua dor e tristeza, nascem a ti ligados, riem e choram de vida a vida, presos às tuas ações anteriores.
Age tu por eles hoje, e eles agirão por ti amanhã.
É do botão da renúncia da sua própria personalidade que nasce o fruto doce da libertação final.
Condenado a perecer é aquele que por medo de Mara deixa de auxiliar os homens, receando agir em proveito próprio. O peregrino que quer refrescar os seus membros lassos em águas correntes, mas não mergulha por medo à corrente, arrisca-se a morrer de calor. A inação baseada no medo egoísta não pode dar senão mau fruto.
O devoto egoísta vive inutilmente. Vive em vão o homem que não realiza na vida a obra para que nasceu.
Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a tua raça e os do teu sangue, para com o amigo e o inimigo, e fecha a tua mente tanto aos prazeres como à dor. Esgota a lei da retribuição cármica. Adquire siddhis (79) para o teu nascimento futuro.
Se não podes ser o sol, sê então o humilde planeta. Sim, se te é impossível brilhar como o sol do meio-dia sobre o monte nevado da pureza eterna, então escolhe, ó neófito, uma carreira mais humilde.
Aponta o caminho - por vagamente que o faças, e perdido entre a multidão - como a estrela da tarde àqueles que caminham pela escuridão.
Olha Migmar (80), quando nos seus véus carmesins o seu olhar se derrama sobre a Terra que dorme. Olha a aura de fogo da mão de Lhagpa (81) estendida com amorosa proteção por sobre as cabeças dos seus ascetas. Ambos são agora servos de Nyima (82), ficando, na sua ausência, como sentinelas silenciosas na noite. Foram, contudo, em kalpas passados, Nyimas brilhantes, e talvez em dias futuros se tornem outra vez dois sóis. Tais são as descidas e subidas da lei cármica na natureza.
Sê, ó Lanu, como eles. Dá luz e conforto ao peregrino cansado, e procura aquele que sabe ainda menos do que tu; que na sua desolação miserável está faminto do pão da sabedoria e do pão que alimenta a sombra, sem Mestre, esperança ou consolação, e fá-lo ouvir a Lei.
Dize-lhe, ó candidato, que aquele que faz do orgulho e do egotismo servos da devoção; que aquele que, tenaz da sua existência, em todo o caso depõe a sua paciência e submissão à Lei como uma flor aos pés de Shakya-Thub-pa (83), se torna um Srotapatti (84) neste nascimento. Os Siddhis da perfeição podem ainda estar longe, muito longe; mas está dado o primeiro passo, ele entrou para o rio, e pode adquirir a visão da águia das montanhas, o ouvido da tímida corça.
Dize-lhe, ó aspirante, que a verdadeira devoção pode tornar a dar-lhe o conhecimento, aquele conhecimento que era seu nas suas vidas anteriores. A visão dévica e o ouvido dévico não se podem obter em uma breve vida.
Sê humilde, se queres adquirir a sabedoria: sê mais humilde ainda, quando a tiveres adquirido.
Sê como o oceano, que recebe todos os rios e riachos. A calma imensa do oceano não se perturba; recebe-os e não os sente.
Domina o teu ser interior com o teu ser divino. Domina o divino com o eterno.
Sim, grande é aquele que mata o desejo: maior ainda é aquele em quem a divina Personalidade matou o próprio conhecimento do desejo.
Põe-te de guarda ao inferior, para que não macule o superior.
O caminho para a libertação final está dentro da tua personalidade. Esse caminho começa e acaba fora da personalidade (85).
Sem elogios de todos os homens e humilde é a mãe de todos os rios na vista orgulhosa de Tirthika (86); vazia a forma humana, ainda que cheia das águas suaves de Amrita ao olhar dos insensatos. E, contudo, a origem dos rios sagrados é a terra sagrada (87), e aquele que possui a. sabedoria é respeitado por todos os homens.
Arhans e Sábios da visão ilimitada (88) são raros como a flor da árvore Udumbara. Os Arhans nascem à meia-noite, com a planta sagrada de nove e sete caules (89), a flor sagrada que desabrocha e floresce na escuridão, saída do orvalho puro e do leito gelado das alturas nevadas, alturas que nenhum pé pecador pisou.
Nenhum Arhan, ó Lanu, se torna um naquela vida em que pela primeira vez a Alma começa a ansiar pela libertação final. E, contudo, ó ansioso, a nenhum guerreiro oferecendo-se voluntariamente para a terrível luta entre o vivo e o morto (90), a nenhum recruta pode ser recusado o direito de entrar no caminho que conduz ao campo de batalha.
Porque ou vence ou cai.
Sim, se vence, o Nirvana será seu. Antes de abandonar a sua sombra, de enjeitar a sua veste mortal, essa causa abundante de angústia e de dor ilimitável, os homens honrarão nele um Buda grande e sagrado.
E se cai, mesmo assim não cai em vão; os inimigos que abateu na última batalha não tornarão a viver na sua próxima encarnação.
Mas, se queres chegar ao Nirvana, ou rejeitar esse prêmio (91), não deixes o fruto da ação e da inação ser o teu motivo, ó de coração indômito.
Aprende que ao Bodhisattva que troca a libertação pela renúncia para vestir as angústias da vida secreta (92), chama-se três vezes venerado, ó candidato à dor através dos ciclos.
O Caminho é um, discípulo, mas, no fim, duplo. Marcados estão os seus estágios por quatro e sete portas. A uma extremidade a felicidade imediata, à outra, felicidade renunciada. Ambos são a recompensa do mérito: a escolha a ti pertence.
O um toma-se os dois, o Aberto e o Secreto (93). O primeiro leva à meta, o segundo à imolação de si próprio.
Quando ao permanente o mutável se sacrifica, o prêmio é teu; volta a gota ao lugar de onde veio, O Caminho Aberto conduz à mudança imutável - Nirvana, o estado glorioso de absoluto, a felicidade para além da concepção humana.
Assim, o primeiro caminho é a Libertação.
Porém, o segundo caminho é a Renúncia; por isso é chamado o Caminho da Dor.
O Caminho Secreto conduz o Arhan a uma angústia mental inexprimível; dor pelos mortos que estão vivos (94), e compaixão inútil pelos homens da tristeza cármica; o fruto do Carma não ousam os Sábios fazer parar.
Porque está escrito: “Ensina a evitar todas as causas; à maré do efeito, como à grande onda, deixarás seguir o seu curso”.
O Caminho Aberto, mal chegaste ao seu fim, levar-te-á a rejeitar o corpo bodhisattvico, e far-te-á entrar para o estado três vezes glorioso de Dharmakaya (95), que é o eterno esquecimento dos homens e do mundo.
A estrada secreta também conduz à felicidade paranirvânica - mas ao termo de kalpas inúmeros; Nirvanas ganhos e perdidos por uma piedade e compaixão ilimitadas pelo mundo de mortais iludidos.
Mas diz-se: “O último será o maior”. Samyak Sambuda, o Mestre da perfeição, abandonou a sua Personalidade para salvação do mundo, parando no limiar do Nirvana, o estado de pureza.
Tens agora o conhecimento a respeito dos dois Caminhos. Chegará o momento em que terás de escolher, ó de Alma ansiosa, quando tiveres chegado ao fim e passado as sete portas. A tua mente está lúcida. Já não estás preso a pensamentos ilusórios, porque aprendeste tudo. Sem véu está ante ti a Verdade, e fita-te gravemente. Diz ela:
“Doces são os frutos do descanso e da libertação por causa da Personalidade; porém, mais doces ainda os frutos do dever longo e amargo; sim, da renúncia por amor aos outros, aos homens que sofrem”.
Aquele que se converte em Pratyeka-Buda só presta obediência à sua Personalidade.
O Bodhisattva que ganhou a batalha, que tem o prêmio na mão, mas exclama, na sua divina compaixão:
“Por amor aos outros abandono esta grande recompensa” - realiza a renúncia maior.
Ele é um Salvador do Mundo.
Repara! A meta da felicidade e o longo Caminho da dor estão no extremo fim. Podes escolher um ou outro, ó aspirante à tristeza, através dos ciclos que hão de vir!
Om vairapani hum
Notas
50. Às duas escolas da doutrina do Buda, a esotérica e a exotérica, chama-se respectivamente a doutrina do “coração” e a doutrina dos “olhos”. A Budhidharma, a religião da sabedoria da China - donde os nomes passaram para o Tibete - chamou-lhes os homens do Tsung (escola esotérica) e os Kiau (escola exotérica). A primeira é assim chamada porque é o ensinamento que emanou do coração do Gautama Buda, ao passo que a doutrina dos olhos foi produto da sua cabeça ou cérebro. A doutrina do coração também se chama o selo da verdade, ou o verdadeiro selo, símbolo esse que se encontra encimando quase todas as obras esotéricas. Voltar.
51. A árvore da sabedoria é o título dado pelos aderentes da Religião da Sabedoria (Bodhidharma) àqueles que atingiram a altura do conhecimento místico - aos Adeptos. A Nagarjuna, o fundador da Escola Madhyrnika, chamavam a “Árvore-Dragão”, sendo o dragão o símbolo da sabedoria e do conhecimento. A árvore é respeitada porque foi sob a árvore Bodhi (da sabedoria) que Buda recebeu a sua nascença e esclarecimento, pregou o seu primeiro sermão, e morreu. Voltar.
52. O Coração Secreto é a doutrina esotérica. Voltar.
53. A Alma de Diamante, Vajrasattva, um título do Buda supremo, Senhor de todos os mistérios, chamado Vajradhara e Adi-Buda. Voltar.
54. Sat, a única realidade e verdade eterna e absoluta, sendo tudo mais ilusão. Voltar.
55. Da doutrina de Shin-Sien, que ensina que a mente humana é como um espelho que atrai e reflete todos os átomos de pó, e, como esse espelho, tem de ser cuidada e limpa todos os dias. Shin-Sien foi o sexto patriarca da China Setentrional, que ensinou a doutrina esotérica do Bodhidharma. Voltar.
56. Os Budistas do Norte chamam ao Eu reencarnante o Homem Eterno, que se torna, em união com o seu ser superior, um Buda. Voltar.
57. Buda significa “Iluminado”. Voltar.
58. A fórmula costumeira que precede as escrituras budistas, e significa que o que segue foi notado de direta tradição oral do Buda e dos Arhats. Voltar.
60. Rathapala, o grande Arhat, assim se dirige a seu pai na lenda chamada Rathapala Sutrasanne. Mas como todas essas lendas são alegóricas (por exemplo: o pai de Rathapala tem uma casa com sete portas), compreende-se a reprimenda àqueles que as aceitam literalmente. Voltar.
61. Brâmanes ascéticos, visitadores de sacrários, sobretudo lugares de banhos sagrados. Voltar.
62. Os Eus reencarnantes. Voltar.
63. Doutrina, lei, dever. Voltar.
64. A sabedoria verdadeira e divina. Voltar.
65. A Personalidade Superior, o sétimo princípio. Voltar.
66. Nossos corpos físicos são chamados sombras, nas escolas místicas. Voltar.
68. Um eremita que se retira para as selvas, vivendo numa floresta ao tornar-se iogue. Voltar.
69. Julai é o nome chinês para Thatagata, título dado ao Buda. Voltar.
70. Todas as tradições do Norte e do Sul concordam em mostrar que Buda saiu da sua solidão logo que resolveu o problema da vida - isto é, recebeu o esclarecimento interior - e ensinou publicamente aos homens. Voltar.
71. Segundo o ensinamento esotérico, cada Eu espiritual é um raio de um espírito planetário. Voltar.
72. Às personalidades, ou corpos físicos, chamam-se sombras, por serem evanescentes. Voltar.
73. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. Voltar.
74. A veste Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca, segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação dos neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China do Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se crescendo num lugar limpo” - diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. Voltar.
75. “Praticar o caminho Paramita” quer dizer tornar-se iogue com o fim de se tornar asceta. Voltar.
76. “Amanhã” quer dizer a renascença ou reencarnação seguinte. Voltar.
77. Dos preceitos da escola Prasanga. Voltar.
78. A grande jornada é o ciclo completo de existências em uma volta. Voltar.
79. Siddhis são as faculdades psíquicas, os poderes anormais do homem. Voltar.
80. Migmar ou Marte, na astrologia tibetana, é simbolizado por um olho. Voltar.
81. Lhagpa ou Mercúrio é simbolizado por uma mão. Voltar.
82. Nyima é o sol na astrologia tibetana. Voltar.
84. Srotapatti ou “aquele que entra na corrente do rio” do Nirvana, a não ser que atinja a meta devido a razões excepcionais, raras vezes poderá atingir o Nirvana em uma só vida. Em geral diz-se que um chela começa o esforço ascensional em uma vida e o acaba ou chega à meta apenas na sua sétima nascença depois dessa. Voltar.
85. Isto é, o ser inferior pessoal. Voltar.
86. Os Tirthikas, sectários bramânicos de além dos Himalaias, são chamados infiéis pelos budistas na terra sagrada, o Tibete, e vice-versa. Voltar.
88. A visão ilimitada, ou seja, a visão psíquica, sobre-humana. Diz-se que um Arhan vê e sabe tudo, perto ou longe que esteja. Voltar.
89. A veste Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca, segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação dos neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China do Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se crescendo num lugar limpo” - diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. Voltar.
90. O vivo é o Eu superior e imortal e o morto o Eu inferior e pessoal. Voltar.
91. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. Voltar.
92. A vida secreta é a vida como Nirmanakaya. Voltar.
93. O Caminho Aberto é o que é ensinado ao lado, é o exotérico e geralmente aceito, ao passo que o Caminho Secreto é um cuja natureza é explicada na Iniciação. Voltar.
94. Os homens ignorantes das verdades e sabedoria esotéricas, são chamados de os mortos que vivem. Voltar.
95. O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. Voltar.