Setembro de 1909

Este artigo é um capítulo de Editoriais do The Equinox

Uma coletânea com todos os editoriais dos onze primeiros números do periódico The Equinox.

.
Leia em 11 min.
Banner

Editorial,
The Equinox Vol. I N° 2,
Setembro de 1909 e.v.

Passaram-se quatrocentos e setenta e sete anos desde o problema no Monastério. Ali se reuniram muitos homens santos de todas as partes do mundo civilizado, doutores cultos, príncipes da Igreja, bispos, abades, reitores, toda a sabedoria do mundo; pois a Questão era importante — quantos dentes havia na boca de um cavalo.

Durante muitos dias o debate girou desta forma e daquela, conforme Padre era citado contra Padre, Evangelho contra Epístola, Salmo contra Provérbio; e uma vez que o verão era quente e a sombra dos jardins do mosteiro era agradável, um jovem monge cansado da discussão, e levantando-se presunçosamente dentre aqueles homens reverenciados, despudoradamente propôs que eles deveriam examinar a boca de um cavalo e resolver a questão.

Ora, não havia precedentes para um método tão ousado, e não devemos nos surpreender que aqueles homens santos logo se levantaram furiosamente e caíram sobre o jovem e o espancaram muito.

Após tê-lo colocado em uma cela solitária, eles retomaram o debate, mas no final das contas “na grave falta de opiniões teológicas e históricas”, declararam o problema como sendo insolúvel, um mistério eterno pela Vontade de Deus.

Hoje em dia, seus sucessores adotam os mesmos princípios no que diz respeito ao mais escuro dos cavalos, a A∴A∴. Eles não apenas se recusaram a abrir nossas bocas, mas também a olhar para elas quando nós próprios chegamos ao ponto de abri-las bem abertas na frente deles.

No entanto, tem havido outros. Se nós estamos confiantes demais ou eles facilmente desencorajados, é uma pergunta que não é preciso discutir. Esperávamos romper com um só golpe as suas amarras; pelo menos devemos tê-las afrouxado. Mas a luta deles, que deveria ter ajudado em nossos esforços, lhes pareceu muito difícil. Eles ficaram perplexos ao invés de iluminados pela luz que brilhou sobre eles; e mesmo que ela tenha mostrado um caminho, não deu nenhuma razão suficiente para que ele devesse ser seguido.

Disto nós humildemente imploramos o perdão; e em resposta a um desejo aparentemente generalizado de saber se queremos dizer alguma coisa, e se sim, O quê? solicitamos a aqueles que querem conhecer a Verdade do Iluminismo Científico que olhem para a boca aberta de sua doutrina, que sigam seus ensinamentos simples passo-a-passo e não virem as costas para ele e assim, caminhando na direção oposta, declarem que um problema simples é um mistério eterno.

Portanto, nós não estamos preocupados com aqueles que ainda não examinaram a nossa doutrina da Teurgia cética, ou iluminismo científico, ou aquilo que está além. Que eles examinem sem preconceitos.

Alguns, também, levantaram armas contra nós, pensando nos ferir. Mas a malícia é apenas resultado da ignorância; que eles nos analisem, e nos amarão. Ainda não foi forjada uma espada que possa dividir aquele cujo elmo é a Verdade. Também não há flecha emplumada que possa perfurar a carne de alguém que está vestido com a armadura reluzente do júbilo. Então, aqui e agora, e conosco; aquele que sobe a Montanha que apontamos para ele, e que nós escalamos; aquele que viaja pelo mapa que nós demos a ele, e que temos seguido, em seu retorno virá para nós como alguém que tem autoridade; pois só aquele que escalou o cume pode falar em verdade das coisas que de lá podem ser vistas, pois ELE SABE. Mas que fica longe, e zomba, dizendo: “Não é uma montanha, é uma nuvem; não é uma nuvem, é uma sombra; não é uma sombra, é uma ilusão; não é uma ilusão, de fato não é nada! “— quem, senão um idiota, dará atenção a ele? pois não tendo viajado sequer um passo, ELE NÃO SABE sobre essas coisas das quais ele fala.

Agora para sermos completamente claros para todos que não nos compreenderam, formularemos nossa afirmação de diversos modos, para que possa ser encontrado pelo menos um que seja aceitável para cada aspirante que está aberto à convicção.

I

1. Percebemos no mundo sensível, o Sofrimento. Em última análise é isso; admitimos a Existência de um Problema que requer solução.

2. Aceitamos as provas de Hume, Kant, Herbert Spencer, Fuller e outros desta tese:

A Faculdade de Raciocínio ou Razão do Homem contém em sua natureza essencial um elemento de autocontradição.

3. Seguindo isso, dizemos:

Se houver qualquer resolução para estes dois problemas, a Futilidade da Vida e a Futilidade do Pensamento, deve estar na consecução de uma Consciência que transcende a ambos. Chamemos isso de consciência supranormal, ou, na falta de um nome melhor, “Experiência Espiritual”.

4. A fé tem sido proposta como um remédio. Mas percebemos muitas formas incompatíveis de Fé baseadas na Autoridade — os Vedas, o Alcorão, a Bíblia; Buda, Cristo, Joseph Smith. Para escolher entre eles precisamos recorrer à razão, que já mostrou ser um guia enganador.

5. Há apenas uma Rocha que o Ceticismo não pode abalar; a Rocha da Experiência.

6. Portanto, nós nos esforçamos em eliminar das condições da aquisição da Experiência Espiritual seus elementos dogmáticos, teológicos, acidentais, climáticos e outros elementos que não são essenciais.

7. Exigimos o emprego de um método estritamente científico. A mente do investigador deve ser imparcial: todos os preconceitos e outras fontes de erro devem ser percebidos como tal e eliminados.

8. Portanto, desenvolvemos um Método Sincrético e Eclético combinando a essência de todos os métodos, rejeitando todas as suas armadilhas, para atacar o Problema através de experimentos exatos e não suposições.

9. Para cada pupilo nós recomendamos um método diferente (em detalhes) adaptado às suas necessidades; assim como um médico prescreve o remédio adequado a cada paciente em particular.

10. Além disso, acreditamos que a Consumação da Experiência Espiritual se reflete como Gênio nas esferas do intelecto e da ação, de modo que, pegando um homem comum, através do treino podemos produzir um Mestre.

Esta hipótese exige provas: esperamos fornecer tais provas produzindo Gênios à vontade.

II

1. Não há esperança na vida física, uma vez que a morte do indivíduo, da raça, e finalmente do planeta, acaba com tudo.

2. Não há esperança na razão, desde que ela se contradiz, e em qualquer caso, não é nada mais do que uma reflexão sobre os fatos da vida física.

3. A esperança que pode haver na Investigação dos fatos físicos da Natureza em linhas Científicas já está sendo pesquisada por um corpo forte e bem organizado de homens de probidade perfeita e de alta capacidade.

4. Não há esperança na Fé, pois há muitas Fés em conflito, todas igualmente positivas.

5. Os adeptos da Experiência Espiritual nos prometem coisas maravilhosas, a Percepção da Verdade, e a Conquista do Sofrimento, e há unidade suficiente em seu método para tornar possível um Sistema Eclético.

6. Estamos decididos a investigar este assunto mais profundamente em linhas Científicas.

III

1. Somos Místicos, sempre buscando entusiasmadamente uma solução dos fatos desagradáveis.

2. Somos Homens da Ciência, sempre entusiasmadamente adquirindo fatos pertinentes.

3. Somos Céticos, sempre entusiasmadamente examinando esses fatos.

4. Somos Filósofos, sempre entusiasmadamente classificando e coordenando estes fatos bem criticados.

5. Somos Epicuristas, sempre entusiasmadamente apreciando a unificação destes fatos.

6. Somos Filantropos, sempre entusiasmadamente transmitindo nosso conhecimento desses fatos aos outros.

7. Além disso, somos Sincretistas, pegando a verdade de todos os sistemas, antigos e modernos; e Ecléticos, implacavelmente descartando os fatores não essenciais em qualquer sistema, não importa quão perfeito.

IV

1. Fé, Vida, Filosofia falharam.

2. A Ciência já está estabelecida.

3. O Misticismo, sendo baseado na experiência pura, é sempre uma força vital; mas devido à falta de observação treinada, sempre foi uma massa de erros. A Experiência Espiritual, interpretada em termos do Intelecto, é distorcida; assim como o nascer do sol mostra o verde da grama e o azul do mar. Ambos eram invisíveis até o amanhecer; mas a diversidade das cores não está no sol, mas sim nos objetos sobre os quais recai sua luz, e sua contradição não prova que o sol seja uma ilusão.

4. Corrigiremos o Misticismo (ou Iluminismo) pela Ciência, e explicaremos a Ciência pelo Iluminismo.

V

1. Nós temos um método, o da Ciência.

2. Nós temos um objetivo, o da Religião.

VI

Era uma vez um Morador de uma terra chamada Utopia, que reclamou na Companhia de Água que a água dele era impura.

“Não”, respondeu o Homem da Água, “ela não pode ser impura, pois nós a filtramos”.

“Ó, de fato!” respondeu o Morador, “mas minha esposa morreu ao bebê-la”.

“Não”, disse o Homem da água; “eu te asseguro que esta água vem das mais puras nascentes em Utopia; além disso, que essa água, por mais impura que fosse, não poderia ferir ninguém; além disso, que eu tenho um certificado de sua pureza que veio da própria Companhia de Água”.

“As pessoas que te pagam!” ridicularizou o Morador. “Para suas outras afirmações, Haeckel provou que toda água é veneno, e eu acredito que você pega a sua água de uma fossa. Porque, olha para ela!”

“E água clara e bonita ela é!” disse o Homem da Água. “Límpida como cristal. Vale um guinéu a gota!”

“É mais ou menos o que você cobra por ela!” revidou o Morador irado. “Ela parece bastante clara, eu admito, no crepúsculo. Mas essa não é a questão. Um veneno não precisa de água turva”.

“Mas”, insistiu o outro, “um dos nossos diretores é um profeta, e ele profetizou — claramente, em muitas palavras — que a água seria pura este ano. E, além disso, o nosso fundador foi um homem santo, que fez um milagre especial para torná-la pura para sempre”!

“Sua evidência está tão contaminada quanto a sua água”, respondeu o chefe de família agora enfurecido.

Então eles procuraram o Juiz.

O Juiz ouviu o caso cuidadosamente. “Meus bons amigos!” disse ele, “nenhum de vocês tem uma perna sobre a qual se apoiar; pois em tudo que vocês dizem não há nenhum grão de prova — O caso está encerrado”.

O Inspetor da Água levantou alegre, quando do meio do Tribunal veio uma voz calma e delicada.

“Eu poderia sugerir respeitosamente, Meritíssimo, que a água em questão fosse examinada através de meu Microscópio?”

“O que raios é um Microscópio?” bradaram os três ao mesmo tempo.

“Um instrumento, Meritíssimo, que eu construí baseado nos princípios admitidos da ótica, para demonstrar pela experiência que estes senhores estão discutindo sobre hipóteses e boatos”.

Então ambos se levantaram contra ele, e o amaldiçoaram.

“Disparate anticientífico!” disse o Homem da Água, pela primeira vez falando respeitosamente da Ciência.

“Blasfêmia sem sentido!” disse o Morador, pela primeira vez falando respeitosamente da Religião.

“Esperem e vejam”, disse o Juiz; pois ele era um Juiz justo.

Então o Homem com o Microscópio explicou o uso deste instrumento novo e estranho. E o Juiz investigou pacientemente todas as fontes de erro, e no final concluiu que o instrumento era um verdadeiro revelador dos segredos da água. E ele pronunciou um julgamento justo.

Mas os outros estavam cegos pela paixão e pelo interesse próprio. Eles só discutiam mais alto, e acabaram sendo expulsos do tribunal. Mas o Juiz fez com que o Homem com o Microscópio fosse nomeado Analista do Governo com um salário de 12.000 libras por ano.

O Homem da Água é o Crente, e o Morador o Incrédulo. O Juiz é o Agnóstico — no sentido de Huxley da palavra; e o Homem com o Microscópio é o Iluminista Científico.

Por mais curioso que isso possa parecer, tudo isso foi mais cuidadosamente explicado no Nº 1 da presente Revista, no “The Magic Glasses” de Sr. Frank Harris.

Sr. Allett é o Materialista, Canon Bayton o Idealista, a filha do Juiz é o Agnóstico, e Matthew Penry o Iluminista Científico. Se a menina tivesse sido capaz de “seguir a luz”, ela poderia ter visto Penry, a cabeça e os pés brancos como a lã, e seus olhos como um fogo abrasador!

Então esta, em uma linguagem ou outra, é a nossa posição filosófica. Mas para aqueles que não estão contentes com isso, seja dito que há algo mais por trás e além. Entre nós estão aqueles que experimentaram coisas de uma natureza tão exaltada que nenhuma palavra escrita poderia esboça-las ligeiramente. A comunicação de tal conhecimento, tanto quanto é possível fazê-la, deve ser uma coisa pessoal; e nós a oferecemo-la de mãos abertas.

É simples escrever para o Chanceler da A∴A∴ aos cuidados dos editores, em Paternoster Row 23, E.C.; um neófito da Ordem será apontado para encontrar o inquiridor. O Neófito lerá para ele a História da Ordem e explicará a tarefa do Probacionista. Pois nós damos a cada inquiridor um ano de estudo; mútuo, para que ele possa decidir se nós realmente podemos dar aquilo que ele deseja, e para que possamos saber exatamente qual treinamento é adequado a ele.

Também, porque somos sutis de mente, muitos ficam ofendidos. Pois nós desejamos testar o mundo pelo critério do The Equinox. Aqueles que perceberam o ouro essencial que jaz oculto nesta rocha dura agora estão ocupados investigando o mesmo; muitos estão se tornando ricos assim.

Então eu que escrevo isto para os Irmãos, com toda a humildade e admiração, seriamente convoco todos os homens à Busca, até mesmo aqueles que estão ofendidos porque eu rio, olhando nos Olhos do Amado; e aqueles que estão ofendidos porque eu odeio véu das palavras que escondem o rosto do Amado; e aqueles que estão ofendidos porque a minha paixão pelo Amado é viril e ávida demais para se adequar à admiração deles; talvez eles se esqueçam de que paixão significa sofrimento.

Mas que eles saibam que meu Amado é meu, e eu sou Dele; ele se deleita entre os lírios.


Traduzido em janeiro de 2019 por Alan Willms.

Gostou deste artigo?
Contribua com a nossa biblioteca