O Flagelo, a Adaga e a Cadeia

Este artigo é um capítulo de Liber ABA – Magick – O Livro Quatro

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Capítulo IV
O Flagelo, a Adaga e a Cadeia


O Flagelo, a Adaga e a Corrente; incluindo o frasco para o Óleo Santo

O Flagelo, a Adaga e a Corrente representam os três princípios alquímicos de Enxofre, Mercúrio e Sal. Estes não são as substâncias atualmente designadas por tais nomes; representam “princípios” cuja operação os químicos têm achado mais conveniente explicar de outras formas. O Enxofre representa a energia das coisas, o Mercúrio a sua fluidez, o Sal, a fixidez. São análogos ao Fogo, ao Ar e à Água; mas significam muito mais, pois representam algo mais profundo e sutil, e, no entanto, mais verdadeiramente ativo. Uma analogia quase exata é dada pelas Três Gunas dos hindus: Sattvas, Rajas e Tamas. Sattvas é Mercúrio, estável, calmo, claro; Rajas é Enxofre, ativo, excitável, feroz mesmo; Tamas é Sal, grosso, lerdo, pesado, escuro[1].

Mas a filosofia hindu está tão preocupada com a ideia principal de que só o Absoluto tem valor, que ela tende a considerar estas três Gunas (mesmo Sattvas) como malignas. Este ponto de vista é correto, mas somente olhando de cima; e nós preferimos, se somos realmente sábios, evitar a eterna queixa que caracteriza o pensamento da península indiana: “Tudo o que existe é sofrimento”, etc. Se aceitamos a doutrina deles das duas fases do Absoluto, será necessário, se quisermos ser consistentes, classificarmos as duas fases juntas, quer como boas, quer como más; pois se uma é boa e a outra é má, nós voltamos à ideia de dualidade, justamente o que tentamos evitar quando inventamos o Absoluto.

A ideia cristista de que o pecado valeu a pena porque deu à salvação tão maior valor, e de que a redenção é tão esplêndida que a perda da inocência valeu a pena, é mais satisfatória. “São Paulo” diz: “Onde abundava o pecado, mais abundou a graça. Então devemos nós fazer o mal para que o bem nos venha? Deus proíba”. Mas (claramente!) isto é exatamente o que Deus Mesmo fez, ou por que haveria Ele de criar Satã com o germe de sua própria “queda” em si mesmo?

Em vez de condenar imediatamente as três qualidades, deveríamos considerá-las como partes de um sacramento. Este aspecto particular do Flagelo, da Adaga e da Cadeia, sugere o sacramento da penitência.

O Flagelo é Enxofre; sua aplicação excita nossas naturezas lerdas; e pode além disso ser usado como um instrumento de correção, para castigar volições rebeldes. Isto é aplicado a Nephesh, à Alma Animal, os desejos naturais.

A Adaga é Mercúrio; é usada para acalmar um calor demasiado através da sangria; e é esta é a arma mergulhada no lado do Magista para encher a Santa Taça. As faculdades que estão entre os apetites e a razão são assim ordenadas.

A Cadeia é Sal; serve para limitar os pensamentos divagantes; e por este motivo é colocada em volta do pescoço do Magista, onde está Daäth.

Estes instrumentos também nos lembram a morte, a dor e a servidão. Os estudantes dos evangelhos se lembrarão de que no martírio de Cristo estes três são usados, a adaga sendo substituída pelos pregos[2].

O Flagelo deveria ser feito com um punho de ferro; o látego é composto de nove tiras de fino arame de cobre, nas quais estão entrançados pedacinhos de chumbo. O ferro representa severidade, o cobre amor, e o chumbo austeridade.

A Adaga é feita de aço trabalhado com ouro; e o punho também é de ouro.

A Cadeia é feita de ferro doce. Tem 333 elos[3].

Torna-se agora evidente porque estas armas estão agrupadas em volta do frasco de cristal de rocha que contém o Óleo Santo.

O Flagelo mantém intensa a aspiração; a Adaga expressa a determinação de sacrificar tudo; a Cadeia restringe qualquer divagação.

Podemos agora considerar o Óleo Santo propriamente dito.


  1. Existe uma longa descrição destas três Gunas no Bhagavadgita. ↩︎

  2. Isto é fato para todos os instrumentos mágicos. O Monte Gólgota é o círculo, e a Cruz é o Tau. Cristo tem robe, coroa, cetro, etc.; esta tese deve algum dia ser desenvolvida por completo. ↩︎

  3. Veja-se o Equinox I (5), “A Visão e a Voz”: décimo Æthyr. ↩︎


Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.

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