Pranayama e seu Paralelo na Fala, Mantrayoga

Este artigo é um capítulo de Liber ABA – Magick – O Livro Quatro

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Capítulo II
Pranayama e seu Paralelo na Fala, Mantrayoga

O elo entre a respiração e a mente será detalhadamente discutido na Segunda Parte deste livro, quando falarmos sobre a Espada Mágica; mas poderá ser útil se introduzirmos aqui alguns detalhes práticos. Vários manuais hindus, e os escritos de Zhuang Zi apresentam notáveis teorias sobre métodos de controlar a respiração, e seus resultados. Mas neste nosso sistema cético, em que seguimos o método científico, é melhor que nos contentemos com afirmações que a prática de qualquer pessoa comprova.

Como a finalidade última da meditação é aquietar a mente, podemos considerar que uma aquietação de todas as funções corporais é uma medida preliminar útil. Isto já foi explicado no capítulo sobre Asana. Podemos mencionar aqui que alguns iogues levam esse controle das funções corporais ao ponto de atrasar e praticamente parar as batidas do coração. Quer esta habilidade seja desejável ou não, ela é inútil ao principiante; portanto ele deve se esforçar, antes de mais nada, por tornar sua respiração muito lenta e muito regular. As regras para esta prática são dadas em Liber CCVI.

A melhor maneira de marcar o compasso do ritmo respiratório, depois que alguma habilidade tenha sido adquirida usando um relógio para verificação, é através do uso de um mantra. Os mantras agem sobre o pensamento de uma forma muito análoga àquela em que Pranayama age sobre a respiração. O pensamento é amarrado a um ciclo que se repete: quaisquer pensamentos que tentam se intrometer são repelidos pelo mantra da mesma maneira em que pedaços de barro são arremessados de uma roda em movimento: quanto mais rápida for roda, mais difícil será grudar-se a ela o que quer que seja.

Esta é a maneira apropriada de praticar um mantra: pronunciemo-lo tão alto e tão lentamente quanto possamos, dez vezes. A seguir, não tão alto, e ligeiramente mais rápido, dez vezes mais. Continuemos este processo até não haver mais que um rápido movimento de nossos lábios: este movimento deverá ser continuado com velocidade crescente e intensidade decrescente, até que o murmúrio mental absorva por completo o murmúrio físico. O estudante estará agora completamente quieto, com o mantra correndo em seu cérebro; ele deve, no entanto, continuar a acelerar a velocidade até atingir seu limite no qual ele deverá persistir tanto tempo quanto puder. Então ele finalizará a prática invertendo o processo descrito acima.

Qualquer frase pode ser usada como um mantra, e é possível que os hindus tenham razão quando dizem que para cada um de nós existe uma frase particular que dá o melhor resultado. Algumas pessoas consideram que os mantras árabes do Corão, que soam tão líquidos, deslizam com demasiada facilidade, de forma que seria possível continuar um processo diverso de pensamento ao mesmo tempo em que se pronuncia o mantra, sem perturbar a execução deste (a ideia é meditar sobre o significado do mantra enquanto o pronunciamos). Talvez o estudante possa construir para si um mantra que represente o Universo em som, tal como o Pantáculo[1] representa o Universo em forma. Às vezes um mantra pode ser “dado”, isto é, ouvido de alguma forma inexplicável durante uma meditação. Certo estudante usou as palavras: “E esforça-te por ver em todas as coisas a vontade de Deus.” A outro, quando lutava por destruir pensamentos, vieram as palavras “Empurra para baixo”, aparentemente referindo-se à ação dos centros inibidores que ele estava usando, empregando esta frase ele conseguiu o seu resultado.

O mantra ideal deve ser rítmico, poderíamos mesmo dizer musical: mas deve haver suficiente ênfase em alguma sílaba para auxiliar a faculdade da atenção. Os melhores mantras são os de comprimento mediano, pelo menos para os principiantes. Se o mantra é demasiado longo, a gente tende a esquecê-lo, a não ser que se pratique muito e durante muito tempo. Por outro lado, os mantras de uma só sílaba, tais como Aum[2], saem um tanto às sacudidelas; perde-se o senso de ritmo. Eis aqui alguns mantras úteis:

1. Aum: É o som produzido aos expirarmos com força do fundo da garganta enquanto fechamos gradualmente a boca. Os três sons representam os Princípios Criador, Preservador e Destruidor. Existem muitos outros pontos sobre este mantra, suficientes para encher um volume.

2. Aum tat sat Aum: Este mantra é puramente espondaico.

Significa “Oh, aquela Existência! Oh!” Uma aspiração pela Realidade, pela Verdade.

3. Aum mani padme hum: dois troqueus entre duas cesuras.

Significa: “Oh, a Joia do Lótus! Amém!” Refere-se a Buda e a Harpócrates, mas também ao simbolismo da Rosa Cruz.

4. Aum shivaya vashi: três troqueus.

Note que “shi” significa repouso, o aspecto absoluto (imanifesto), ou macho, da Deidade; “va” é energia, o aspecto manifestado, ou fêmea, da Deidade. Este mantra por tanto expressa o curso inteiro do Universo, do Zero através do Finito e de volta ao Zero. Dá o ciclo da criação. A paz se manifestando como poder, o poder dissolvendo-se em paz.

5. Allah: As sílabas deste são acentuadas por igual, com uma curta pausa entre elas, e são usualmente combinadas por faquires com um movimento rítmico, em vai e vem, do corpo.

Significa “deus”. Sua soma é 66, a soma dos 11 primeiros números.

6. Húa állah úlládhi la ilaha ílla húa: Significa: “Ele é Deus, e não existe nenhum outro Deus senão Ele.”

Eis aqui alguns mantras mais longos:

7. O famoso Gayatri:

Aum! Tat savitur vaneryan
Bhargo devasya dhimahi
Dhiyo yo nah pracodayat.

Pronuncia-se isto em tetrâmetros trocaicos.

Significa: “Oh, meditemos estritamente na luz adorável daquela divina Savitri (o Sol interior, etc.).

Possa ela iluminar nossas mentes!”

8. Qul: Húa allahú achád; Allahú as samád; Lám yalid wa lám yulád; Wa lám yakún lahú kufwán achád.

Significa: “Ele só é Deus! Deus o Eterno! Ele não concebe e não é concebido! Não há nenhum como Ele!”

9. Este mantra seguinte é o mais santo de todos que existem ou podem existir. É a Estela da Revelação[3].

A ka dua
Tuf ur biu
Bi a’a chefu
Dudu ner af an nuteru.

Significa:

Ultimal Unidade demonstrada!
Adoro Teu poder, Teu sopro forte,
Deus supremo, terrível flor do nada,
Que fazes com que os deuses e que a morte Tremam diante de Ti:
Eu, eu adoro a ti!

Estes mantras são suficientes para a escolha[^4].

Existem muitos outros mantras. Sri Sabapaty Swami dá um em particular para cada um dos Cakkrams. Mas que o estudante escolha um mantra, e atinja perfeita mestria deste.

Nós nem sequer começamos a dominar um mantra antes que ele continue sem parar durante o sono. Isto é muito mais fácil do que parece.

Algumas escolas aconselham praticar um mantra com o auxílio de instrumentos musicais e de dança. Certos efeitos notáveis são assim obtidos, no que concerne a “poderes mágicos”; se grandes resultados espirituais são igualmente frequentes, é duvidoso. Pessoas desejosas de estudar tais métodos devem ponderar que hoje em dia o Saara está bem perto, e há sempre algum faquir milagreiro ansioso por se exibir. Esta discussão da técnica paralela de Mantra Yoga nos desviou bastante do assunto de Pranayama.

Pranayama é extremamente útil para aquietar as emoções e apetites e, quer devido à pressão mecânica que produz, quer devido à combustão completa que assegura nos pulmões, é admirável do ponto de vista da saúde física. Especialmente os distúrbios digestivos são facilmente eliminados desta forma. Purifica tanto o corpo quanto as funções mais baixas da mente. É impossível combinar Pranayama devidamente executado com estados de agitação emotiva. Devemos recorrer a Pranayama imediatamente quando quer que, durante a nossa vida, a calma seja perturbada. Pranayama deve ser praticado certamente não menos que uma hora diária pelo estudante sério.

Quatro horas por dia é melhor, uma regra áurea; dezesseis horas é demais para a maior parte das pessoas.

De modo geral, as práticas que se faz andando são mais úteis à saúde que as sedentárias, pois as caminhadas ao ar livre são assim asseguradas. Mas algumas das práticas sedentárias devem ser praticadas e combinadas com meditação. Claro, se temos pressa em obter resultados, caminhar é uma distração.


  1. Veja a Parte II. ↩︎

  2. Entretanto, ao pronunciar um mantra contendo a palavra Aum, a gente às vezes esquece as outras palavras e permanece concentrado, repetindo o Aum a intervalos; mas isto é o resultado de uma prática já avançada, e não o começo de uma prática. ↩︎

  3. Veja-se The Equinox I (7). ↩︎


Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.

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