Liber CL vel נעל, Uma Sandália, De Lege Libellum

Uma explicação adicional sobre o Livro da Lei, com referência aos Poderes e Privilégios concedidos por sua aceitação.

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De Lege Libellum[1]

sub figūrā CL

נעל
Uma Sandália
L – L – L – L – L

Publicação da A∴A∴ em Classe E

Imprimātur:

N. Fra. A∴A∴Prō Coll. Summ.
I.
V.V.
7=4
6=5
Prō Coll. Int.
I.
S.L.E.
L.L.L.
Præmonstrātor
Imperātor
Cancellārius
Prō Coll. Ext.

Prefácio.
A Lei

Faz o que tu queres será o todo da Lei.

Em Retidão de coração vinde aqui, e ouvi-me: pois fui eu, ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ, quem deu esta Lei a todo aquele que se considera santo. Sou eu, e não outro, quem deseja a vossa completa Liberdade, e o surgimento de pleno Conhecimento e Poder dentro de vós.

Vede! o Reino de Deus está dentro de vós, assim como o Sol está eternamente nos céus, tanto à meia-noite quanto ao meio-dia. Ele não se ergue; ele não se põe; é a sombra da terra que o esconde, ou as nuvens sobre a sua face.

Então que eu vos declare este Mistério da Lei, tal como ele me foi revelado em vários lugares, sobre montanhas e em desertos, mas também em grandes cidades; algo que vos declaro para vosso conforto e boa coragem. E assim seja com todos vós!

Sabei primeiro que da Lei surgem quatro Raios ou Emanações: de modo que, se a Lei for o centro de vosso ser, eles inevitavelmente vos encherão com sua bondade secreta. E estes quatro são Luz, Vida, Amor e Liberdade.

Pela Luz contemplareis a vós mesmos e vereis Todas as Coisas que em Verdade são só Uma Coisa, que tem sido chamada de Nada por um motivo que mais tarde vos será declarado. Mas a substância da Luz é Vida, já que sem Existência e Energia seria nada. Portanto, pela Vida vós vos tornais vós mesmos, eternos e incorruptíveis, flamejando como sóis, autocriados e autossustentados; cada um sendo o único centro do Universo.

Assim como pela Luz vistes, pelo Amor sentis. Há um êxtase de puro Conhecimento e outro de puro Amor. E este Amor é a força que une coisas diversas, para a contemplação de sua Unidade na Luz. Aprendei que o Universo não está em repouso; mas em um movimento extremo cuja soma é Repouso. E este entendimento de que Estabilidade é Mudança, e Mudança Estabilidade, que Ser é Tornar-se, e Tornar-se é Ser, é a Chave do Palácio Dourado desta Lei.

Por fim, pela Liberdade há o poder de direcionar vosso curso de acordo com vossa Vontade. Pois a extensão do Universo não tem limites, e vós sois livres para fazer o que quiserdes, visto que a diversidade do ser também é infinita. Pois esta também é a Alegria da Lei, que não há duas estrelas iguais, e vós deveis compreender que esta Multiplicidade é, em si, Unidade, e que sem ela a Unidade seria impossível. E esta é uma afirmação dura contra a Razão; vós compreendereis quando, elevando-se acima da Razão, que é apenas uma manipulação da Mente, chegardes ao Conhecimento puro pela percepção direta da Verdade.

Aprendei também que essas quatro Emanações da Lei flamejam em todos os caminhos; vós devereis usá-las não só nessas Rodovias do Universo sobre as quais escrevi, mas em qualquer Atalho de vossas vidas diárias.

Amor é a lei, amor sob vontade.

I
Da Liberdade

É sobre Liberdade que eu primeiro lhes escreveria; pois a menos que sejais livres para agir, não podeis agir. No entanto, todas as quatro dádivas da Lei devem ser exercidas em algum grau, já que as quatro são uma. Mas para o Aspirante que vem ao Mestre, a primeira necessidade é libertação.

A maior de todas as amarras é a ignorância. Como um homem pode ser livre para agir, se não conhece seu próprio propósito? Vós deveis, portanto, inicialmente descobrir qual estrela de todas as estrelas vós sois, vossa relação com as outras estrelas em vosso redor, e vossa relação e identidade com o Todo.

Em nossos Livros Sagrados são fornecidos diversos meios de realizarmos esta descoberta; e cada um deve fazê-lo por si só, alcançando uma convicção absoluta pela experimentação direta; não apenas raciocinando e calculando o que é provável. E a cada um de vós virá o conhecimento de vossa vontade finita, pela qual um é poeta, outro profeta, outro ferreiro, outro joalheiro. Mas também a cada um virá o conhecimento de sua Vontade infinita, seu destino de realizar a Grande Obra, a percepção de seu Verdadeiro Self. Portanto, deixai-me falar claramente a todos desta Vontade, já que ela pertence a todos.

Compreendei agora que existe em vós um certo descontentamento. Analisais bem sua natureza: em todo caso, no final chegareis a uma única conclusão. O problema surge da crença em duas coisas, o Self e o Não-Self, e do conflito entre elas. Isto também é uma restrição da Vontade. Aquele que está doente está em conflito com seu próprio corpo; aquele que é pobre está em conflito com a sociedade; e assim por diante. Portanto, em última análise, o problema consiste em como destruir esta percepção de dualidade, para alcançar a apreensão da unidade.

Suponhamos que viestes à presença do Mestre, e que Ele vos declarou o Caminho para esta consecução. O que vos impede? Ai! ainda há muita Liberdade ao longe.

Entendei isto claramente: que se estais certos de vossa Vontade, e certos de vossos meios, então quaisquer pensamentos ou ações que contrariem esses meios contrariam também aquela Vontade.

Se, portanto, o Mestre vos ordenasse a que prestásseis um Voto de Santa Obediência, concordar em fazer isto não seria uma rendição da Vontade, mas um cumprimento desta.

Pois vede, o que vos impede? Ou vem de fora ou vem de dentro, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Pode ser fácil para o buscador obstinado pisotear a opinião pública, ou arrancar de seu coração os objetos que ele ama, em certo sentido; mas sempre permanecerão dentro dele muitas afeições discordantes, como também os vínculos do hábito; e estes também devem ser conquistados.

Em nosso Livro mais sagrado está escrito: “tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faz aquilo, e nenhum outro dirá não”. Também escrevei isso em vosso coração e em vosso cérebro: pois esta é a chave do assunto todo.

Aqui que a própria Natureza seja vosso pregador: pois em todo fenômeno de força e movimento ela proclama em voz alta esta verdade. Até mesmo em um assunto tão pequeno como o ato de pregar um prego em uma tábua, eis este mesmo sermão. Vosso prego precisa ser duro, liso, de ponta fina, ou não se moverá rapidamente na direção desejada. Imaginai então um prego feito de lenha e com vinte pontas – na verdade isso não é mais um prego. No entanto, quase toda a humanidade é assim. Eles desejam uma dúzia de carreiras diferentes; e a força que poderia ter sido suficiente para atingir a eminência em uma é desperdiçada nas outras; elas se anulam.

Aqui então deixai-me confessar abertamente e dizer isto: embora eu tenha me dedicado quase desde a infância à Grande Obra; embora em meu auxílio tenham vindo as mais possantes forças do Universo para me ater a este intuito; embora agora o próprio hábito me atenha à direção correta, no entanto, eu não tenho cumprido minha Vontade; diariamente me desvio da tarefa. Eu vacilo. Eu fraquejo. Eu me atraso.

Então que isso seja de grande conforto para todos vós; que se eu sou tão imperfeito – e por muita vergonha eu não enfatizei esta imperfeição – se eu, o escolhido, ainda fracasso, então quão fácil será para vós me superarem! Ou mesmo se apenas me igualásseis, como seria grande a vossa consecução!

Portanto, alegrai-vos, pois tanto o meu fracasso quanto o meu sucesso são argumentos encorajadores para vós.

Eu vos rogo que vos examinai astutamente; analisai vossos pensamentos mais íntimos. E primeiro vós descartareis todos aqueles obstáculos grosseiros e óbvios à vossa Vontade: a preguiça, as amizades tolas, as ocupações ou diversões desperdiçadas; não listarei os conspiradores contra o bem-estar de vosso Estado.

Em seguida, determinai tempo diário mínimo que realmente é indispensável à vossa vida natural. O resto vós dedicareis aos Verdadeiros Meios da vossa Consecução. E mesmo essas horas necessárias vós deveis consagrar à Grande Obra, dizendo sempre conscientemente, enquanto realizais essas Tarefas, que vós as fareis apenas a fim de manter a saúde de vosso corpo e da vossa mente para a correta dedicação a esse Objeto sublime e único.

Não demorará muito para que comeceis a entender que tal modo de vida é a verdadeira Liberdade. Vós percebereis as distrações de vossa Vontade como sendo o que são. Elas não mais vos parecerão agradáveis e atraentes; mas serão como amarras, como vergonhas. E quando tiverdes atingido este ponto, sabei que atravessastes o Portão do Meio deste Caminho. Pois vós unificastes a vossa Vontade.

Mesmo assim, se um homem estivesse sentado em um teatro e a peça o entediasse, ele aceitaria de bom grado qualquer distração e se divertiria com qualquer incidente; mas se estivesse concentrado na peça, cada um desses incidentes o aborreceria. Sua atitude em relação a eles é uma indicação de sua atitude em relação à própria peça.

No início, o hábito da atenção é difícil de adquirir. Perseverai, e periodicamente experimentareis espasmos de repulsa. Vossa própria Razão vos atacará, dizendo: como pode uma escravidão tão rígida ser o Caminho da Liberdade?

Perseverai. Vós ainda não conhecestes a Liberdade. Quando as tentações tiverem sido vencidas, quando a voz da Razão tiver sido silenciada, então vossa alma avançará desimpedida em seu curso escolhido; e pela primeira vez vós experimentareis o extremo deleite de serdes Mestres de Vós Mesmos e, portanto, do Universo.

Quando isto tiver sido completamente alcançado, quando estiverdes sentados seguramente na sela, então podereis desfrutar também de todas aquelas distrações que antes vos agradaram e depois vos irritaram. Agora elas não farão mais nenhuma destas coisas; pois elas serão vossas servas e brinquedos.

Até que tenhais alcançado este ponto, não sereis completamente livres. Vós deveis matar o desejo e o medo. O final disto tudo é o poder de viver de acordo com vossa própria natureza, sem o risco de que uma parte possa se desenvolver em detrimento do todo, ou sem preocupação de que esse risco surja.

O beberrão bebe e fica bêbado; o covarde não bebe, e treme de frio; o homem sábio, valente e livre, bebe e dá glória ao Deus Altíssimo.

Esta então é a Lei de Liberdade: vós possuís toda Liberdade como vosso próprio direito; mas deveis suportar o Direito com o Poder: deveis conquistar a Liberdade para vós mesmos em muitas guerras. Ai dos filhos que dormem na Liberdade conquistada para eles por seus antepassados!

“Não existe lei além de Faz o que tu queres”: mas só os maiores da raça têm a força e a coragem necessárias para obedecê-la.

Ó homem! contempla a ti mesmo! Com que esforço foste feito! Quantas eras levaram à tua construção! A história do planeta está tecida com a substância mesma do teu cérebro! Foi tudo isso em vão? Não há propósito em ti? Foste assim feito para que pudesses comer, procriar e morrer? Não penses tal coisa! Tu incorporas tantos elementos, tu és o fruto de tantos æons de trabalho, tu foste feito assim como tu és, e não de outra forma, para algum Fim colossal.

Encoraja-te, pois, para buscá-lo e realizá-lo. Nada pode te satisfazer senão o cumprimento de tua Vontade transcendente, que está oculta dentro de ti. Por isso, então, de pé e às armas! Conquista tua Liberdade para ti! Golpeia forte!

II
Do Amor

Está escrito que “Amor é a lei, amor sob vontade”. Aqui há um Arcano oculto, pois em grego ΑΓΑΠΗ, Amor, tem o mesmo valor numérico que ΘΕΛΗΜΑ, Vontade. Assim compreendemos que a Vontade Universal é da natureza do Amor.

O Amor é o acender em êxtase de Dois que desejam se tornar Um. Portanto, é uma fórmula Universal de Alta Magia. Pois vede agora como todas as coisas, sofrendo por causa da separatividade, devem necessariamente querer Unidade como seu remédio.

Aqui também a Natureza serve de aviso para aqueles que buscam Sabedoria em seu seio: pois na união de elementos de polaridade oposta há uma glória de calor, de luz e de eletricidade. Assim também na humanidade nós contemplamos o fruto espiritual da poesia e de toda genialidade surgindo da semente daquilo que é apenas um gesto animal, de acordo com a estima de pessoas que são treinadas em Filosofia. E deve ser notado muito bem que as paixões mais violentas e divinas são aquelas que ocorrem entre pessoas de naturezas completamente inarmônicas.

Mas agora eu quereria que percebêsseis que na mente não há limitações, tais como aquelas de espécie, que impeçam um homem de se apaixonar por um objeto inanimado ou por uma ideia. Pois àquele que de algum modo está adiantado no Caminho da Meditação todos os objetos parecem desagradáveis, exceto o Objeto Único, assim como lhe pareciam antes os desejos efêmeros em relação à Vontade. Portanto, todos os objetos devem ser assim considerados pela mente, e aquecidos na sétupla fornalha do Amor, até que em uma explosão de êxtase eles se unam e desapareçam; pois, sendo imperfeitos, eles são destruídos totalmente na criação da Perfeição da União, assim como as pessoas do Amante e do Amado se fundem no ouro espiritual do Amor, que não conhece pessoa alguma, mas compreende tudo.

Porém, uma vez que cada estrela é apenas uma estrela, e a união de quaisquer outras é apenas um arrebatamento parcial, então que o aspirante à nossa sagrada Ciência e Arte melhore constantemente por este método de assimilação de ideias, para que no fim seja capaz de abarcar o Universo em um só pensamento e possa se lançar sobre Ele com a violência massiva de seu Self, a fim de que, destruindo a ambos, torne-se aquela Unidade cujo nome é Nada. Portanto, buscai todos vós constantemente unir-vos em arrebatamento com toda e cada coisa que existe; e isto com a máxima paixão e lascívia de União. Para este fim, tomai principalmente coisas que vos sejam naturalmente repulsivas. Pois aquilo que é agradável é assimilado facilmente e sem êxtase: é na transfiguração do que é repugnante e abominável no Amado que o Self é abalado até às raízes em Amor.

Assim, no amor humano também vemos que homens medíocres se unem a mulheres sem qualidades; mas a História nos ensina que os mestres supremos do mundo buscam sempre as criaturas mais vis e terríveis para serem suas concubinas, ultrapassando até as leis limitantes do sexo ou da espécie em sua necessidade de transcender a normalidade. Não é suficiente para tais naturezas excitar lascívia ou paixão: a própria imaginação deve ser inflamada por todos os meios.

Então para nós emancipados de toda lei básica, o que devemos fazer para satisfazer nossa Vontade de Unidade? Nada menos que o Universo inteiro deve ser a nossa amante; nenhum lupanar mais apertado que o Espaço Infinito; nenhuma noite de desfloramento que não seja contemporânea da Eternidade!

Considerai que, assim como o Amor tem força para produzir todo Êxtase, também a falta de Amor é a maior de todas as fomes. De fato, aquele que é impedido de Amar, sofre, mas aquele que não sente ativamente em seu coração aquela paixão para com algum objeto está abatido com a dor do desejo. E este estado é chamado misticamente de “Secura”. Para ele, creio eu, não existe cura senão paciente persistência em uma Regra de Vida.

Mas esta Secura tem sua virtude: através dela a Alma é purgada daquelas coisas que impedem a Vontade; pois quando a secura é totalmente perfeita, então é certo que nada satisfará a Alma senão a Realização da Grande Obra. E em almas fortes este é um estímulo para a Vontade. É a Fornalha da Sede que queima todas as impurezas dentro de nós.

Mas a cada ato de Vontade corresponde uma particular Secura; e à medida que o Amor aumentar dentro de vós, assim aumentará o tormento da falta de Amor. Seja isto, também, como um consolo vosso no ordálio! Além disso, quanto mais intensa a praga de impotência, tanto mais rápido e subitamente ela poderá desaparecer.

Eis aqui o método do Amor na Meditação. Que o Aspirante primeiro pratique e depois se discipline na Arte de fixar a atenção em qualquer coisa à vontade, sem permitir a menor distração imaginável.

Que ele também pratique a arte da Análise de Ideias, e a de recusar-se a permitir à mente sua reação natural a elas, sejam agradáveis ou desagradáveis; fixando-se assim na Simplicidade e Indiferença. Tendo alcançado estas coisas na devida estação, sabei que todas as ideias terão se tornado iguais em vossa percepção, uma vez que cada uma é simples e indiferente: qualquer uma delas permanecerá na mente à Vontade, sem agitação ou luta, nem tendendo a avançar a qualquer outra. Mas cada ideia possuirá uma qualidade especial que é comum a todas: esta, que nenhuma delas é O Self; à medida em que são percebidas pel’O Self como Algo Oposto.

Quando isso for completo e profundo no impacto de sua realização, então será o momento do aspirante direcionar sua Vontade de Amar sobre ela, de modo que toda a sua consciência se focalize naquela Ideia Única. E primeiro ela poderá ser fixa e morta, ou levemente mantida. Então poderá passar à secura ou à repulsa. Então, finalmente, por pura persistência naquele Ato de Vontade de Amar, o próprio Amor surgirá, como uma ave, como uma chama, como uma canção, e a Alma inteira alçará uma trajetória ígnea de música ao Derradeiro Céu de Gozo.

Agora, neste método há muitas estradas e caminhos, alguns simples e diretos, outros ocultos e misteriosos; assim como ocorre com o amor humano, do qual nenhum homem fez sequer o primeiro esboço de um Mapa, pois o Amor é infinito em sua diversidade, assim como as Estrelas. Por este motivo eu deixo o próprio Amor como mestre no coração de cada um de vós: pois ele vos ensinará corretamente se apenas o servirdes com diligência e devoção, até ao abandono.

Tampouco deveis vos ofender ou surpreender com as estranhas travessuras que ele fará: pois Ele é um menino rebelde e brincalhão, sábio nas Artimanhas de Afrodite Nossa Senhora, Sua doce Mãe; e todas as Suas brincadeiras e crueldades são especiarias em um feitio tão hábil que nenhuma arte poderá se igualar.

Alegrai-vos, pois, em todas as Suas brincadeiras, sem diminuir de qualquer forma o vosso ardor, mas inflamando-vos ao toque das chibatadas Dele, e fazendo do próprio Riso um sacramento auxiliar do Amor; assim como o Vinho de Reims[2] é borbulhante e ácido, como se fossem acólitos no Alto-Sacerdócio de sua Intoxicação.

Também é adequado que eu vos escreva sobre a importância da Pureza no Amor. Agora, este assunto nada tem a ver com o objeto ou o método da prática: a única coisa essencial é que nenhum elemento estranho se intrometa. E isso é da mais particular pertinência ao aspirante naquele aspecto primário e mundano de seu trabalho, em que ele se estabelece no método por meio de suas afeições naturais.

Sabei pois que todas as coisas são máscaras ou símbolos da Verdade Única, e a natureza sempre serve para indicar a perfeição superior sob o véu da perfeição inferior. Assim, então, toda a Arte e Ofício do amor humano vos servirão como um hieróglifo: pois está escrito que Aquilo que está acima é como aquilo que está abaixo; e Aquilo que está abaixo é como aquilo que está acima.

Portanto, também cabe a vós tomar cuidado para não falhar de forma alguma neste assunto de pureza. Pois embora cada ato deva ser completo em seu próprio plano, e nenhuma influência de qualquer outro plano deva ser trazida para interferência ou mistura, pois tudo isso é impureza, do mesmo modo, cada ato deve ser tão completo e perfeito em si que se torne um espelho da perfeição de todos os outros planos, e assim tornar-se um comungante da pura Luz do mais alto. Além disso, uma vez que todos os atos devem ser atos de Vontade em Liberdade em cada plano, todos os planos são na realidade apenas um: e, portanto, a expressão mais baixa de qualquer função daquela Vontade é para ser, ao mesmo tempo, uma expressão da Vontade mais elevada, ou somente a verdadeira Vontade; que é aquela já implícita na aceitação da Lei.

Que seja bem compreendido por vós que não é necessário ou correto interromper a atividade natural de qualquer tipo, como certas pessoas falsas, eunucos do espírito, ensinam da maneira mais perversa para a destruição de muitos. Pois cada coisa herda sua própria perfeição; e negligenciar a operação e função plena de qualquer parte traz distorção e degeneração ao todo. Agi, portanto, de todas as formas; mas transformando o efeito de todas essas formas no Único Caminho da Vontade. E isto é possível porque todas as formas na Verdade são Uma Forma, dado que o Universo é em si Um, e Um Só, e sua aparência de Multiplicidade não é senão aquela cardinal ilusão que o Amor propõe dissipar.

Na conquista do Amor há dois princípios: o do domínio e o da rendição. Mas a natureza deles é difícil de explicar pois são sutis, e são mais bem ensinados pelo próprio Amor no decorrer de suas Operações. Mas deve ser dito, em geral, que a escolha de uma fórmula ou da outra é automática, sendo trabalho daquela Vontade mais íntima que está viva dentro de vós. Portanto, não busqueis determinar conscientemente esta decisão, pois aqui o verdadeiro instinto não está sujeito a erro.

Agora eu termino, sem mais palavras; pois em nossos Livros Sagrados estão escritos muitos detalhes das práticas do Amor. E as melhores e mais verdadeiras são aquelas que estão mais sutilmente descritas em símbolo e imagem, especialmente na Tragédia e na Comédia; pois a natureza inteira destas coisas é deste tipo, e a própria Vida não é senão o fruto da flor do Amor.

Portanto, agora é sobre a Vida que devo escrever-vos, já que por todo ato de Amor sob Vontade vós estais a criando, uma quintessência mais misteriosa e alegre do que julgais; pois isso que os homens chamam de vida é apenas uma sombra daquela verdadeira Vida, vosso direito de nascença, e a dádiva da Lei de Thelema.

III
Da Vida

Sístole e diástole: estas são as fases de todas as coisas constituintes. Assim também é a vida do homem. Sua curva surge da latência do óvulo fecundado, dizeis, a um zênite do qual declina até a nulidade da morte? Devidamente considerado, isto não é de todo verdade. A vida do homem é apenas um segmento de uma curva serpentina que se estende ao infinito, e seus zeros apenas marcam as mudanças de positivo para negativo e de negativo para positivo nos coeficientes de sua equação. É por este motivo, dentre muitos outros, que os sábios dos tempos antigos escolheram a Serpente como o hieróglifo da Vida.

Desta forma, a Vida é indestrutível, como tudo mais. Toda destruição e construção são mudanças da natureza do Amor, como eu vos escrevi no capítulo anterior. No entanto, assim como o sangue que passa por uma pulsação nas veias não é o mesmo sangue que passará na próxima, assim também nossa individualidade é destruída em parte com cada vida que passa; ou melhor, mesmo a cada pensamento.

Então o que constitui um homem, se ele morre e renasce alterado a cada alento? Isto: a consciência de continuidade dada pela memória; a concepção de seu Self como algo cuja existência, longe de ser ameaçada por essas mudanças, é na verdade assegurada por elas. Então que o aspirante à Sabedoria sagrada considere seu Self não mais como um segmento da Serpente, mas como a Serpente inteira. Que ele estenda sua consciência para considerar o nascimento e a morte como incidentes triviais, tais como a sístole e diástole do próprio coração; e tão necessários quanto estas para seu funcionamento.

Dois modos de fixar a mente nesta percepção da Vida são preferidos como preliminares às realizações maiores que serão discutidas em sua devida ordem, experiências que transcendem até mesmo aquelas consecuções da Liberdade e do Amor sobre as quais eu já escrevi, e esta da Vida que eu agora registro neste meu pequeno livro que estou compondo para vós a fim de que possais chegar à Grande Realização.

O primeiro modo é a aquisição da assim chamada Memória Mágica, e a maneira de consegui-la está descrita com precisão e clareza em alguns de nossos Livros Sagrados. Mas para quase todos os homens esta é uma prática de extrema dificuldade. Portanto, que o aspirante siga o impulso de sua própria Vontade na decisão de escolhê-lo ou não.

O segundo modo é fácil, agradável; não é tedioso, e no final é tão certeiro quanto o outro. Mas assim como o caminho para o erro no primeiro consiste no Desencorajamento, neste segundo deveis vos atentar aos Falsos Caminhos. De fato, posso dizer que de maneira geral em todos os Trabalhos, há dois perigos: o obstáculo do Fracasso e a armadilha do Sucesso.

Este segundo modo consiste em dissociar os entes que compõem vossa vida. Primeiro, porque é mais fácil, vós deveríeis segregar aquela Forma que é chamada de Corpo de Luz (e também por muitos outros nomes), e determinar-vos a viajar nesta Forma, explorando sistematicamente esses planos que são para com as coisas materiais aquilo que o vosso próprio Corpo de Luz é para vosso corpo material.

Durante essas viagens, ocorrerá convosco que atingireis muitos Portões pelos quais não podereis passar. Isto é ocorre porque vosso Corpo de Luz não é suficientemente forte, ou suficientemente sutil, ou suficientemente puro; e vós devereis então aprender a dissociar os elementos daquele Corpo por um processo similar ao primeiro; vossa consciência permanecendo no nível mais elevado e deixando o mais inferior. Nesta prática vós continuareis usando vossa Vontade como um grande Arco para enviar a Flecha de vossa consciência através de céus cada vez mais altos e mais santos. Mas a persistência neste Caminho é por si só de vital importância: pois acontecerá que presentemente o hábito mesmo vos persuadirá de que o corpo que nasce e morre durante um período de tempo tão curto quanto um ciclo de Netuno no Zodíaco não é essencial ao vosso Self; que a Vida de que participastes, se bem que ela mesma sujeita à Lei de ação e reação, de fluxo e refluxo, sístole e diástole, está no entanto imune às aflições daquela vida que vós anteriormente assumistes ser vosso único vínculo com a Existência.

E aqui deveis determinar vosso Self a fazer os mais poderosos esforços; pois tão floridas são os prados desse Éden, e tão doces os frutos dos seus pomares, que vós adoraríeis demorar-vos neles, e deleitar-vos em preguiça e brincadeira ali. Portanto eu vos escrevo com energia que não deveis fazer isto, às custas de vosso verdadeiro progresso; pois todos esses prazeres dependem da dualidade, de modo que o verdadeiro nome deles é Sofrimento da Ilusão, tal como é o nome da vida normal do homem, que resolvestes transcender.

Que ela seja de acordo com vossa Vontade; mas aprendei isto, que (como está escrito) só são felizes aqueles que desejaram o inatingível. Portanto, em última análise, será melhor se vossa Vontade for buscar sempre o vosso principal prazer no Amor, ou seja, no Domínio, e na Morte, ou seja, na Rendição, como eu já vos escrevi antes. Assim, então, vos deleitareis nesses deleites já mencionados; mas apenas como brinquedos, mantendo vossa maturidade firme e aguçada para entrar em êxtases mais profundos e mais santos, sem a retenção de vossa Vontade.

Além disso, gostaria que soubésseis que nesta prática, se perseguida com ardor inextinguível, há esta graça especial: que vós chegareis, por assim dizer, a estados que transcendem a própria prática, sendo da natureza dessas Obras de Pura Luz sobre as quais vos escreverei no próximo capítulo. Pois há certos Portões pelos quais nenhum ser que ainda está consciente da dividualidade, isto é, do Self e do não-Self como opostos, pode passar: e ao arrombar estes Portões pelo ataque ígneo da lascívia celestial, vossa chama arderá veementemente contra vosso Self grosseiro, embora este já seja divino além da sua presente imaginação, e o devorará em uma morte mística; de modo que na Passagem pelo Portão tudo se dissolva na amorfa Luz da Unidade.

Agora então, voltando desses estados de ser, e no retorno também, há um Mistério de Alegria, vós sereis desmamados do Leite da Escuridão da Lua, e sereis feitos comungantes do Sacramento do Vinho que é o sangue do Sol. No entanto, no início pode haver choque e conflito, pois o velho pensamento persiste por força do hábito: será vossa tarefa criar, por ato repetido, o verdadeiro e correto hábito desta consciência da Vida que habita na Luz. E isso é fácil, se vossa vontade for forte; pois a verdadeira Vida é muito mais vívida e quintessencial do que a falsa, de modo que (como grossamente estimo) uma hora da primeira causa uma impressão sobre a mente igual a um ano da segunda. Uma única experiência, que pode durar apenas alguns poucos segundos de tempo terreno, é suficiente para destruir a crença na realidade de nossa vã vida na terra; mas isso gradualmente se dissipa se a consciência, por choque ou por medo, não aderir a ele, e a Vontade não se esforçar continuamente em repetir aquela bem-aventurança, mais bela e terrível do que a morte, conquistada em virtude do Amor.

Há muitos outros modos, além destes, de alcançar a percepção da verdadeira Vida, e os dois seguintes são de muito valor para quebrar o gelo de vosso erro mortal na perspectiva de vosso ser. E destes o primeiro é a constante contemplação da Identidade do Amor e da Morte, e a compreensão da dissolução do corpo como um Ato de Amor feito sobre o Corpo do Universo, como também está extensamente escrito em nossos Livros Sagrados. E com este segue, como se fosse uma irmã com seu irmão gêmeo, a prática do amor mortal, como um sacramento simbólico daquela grande Morte: conforme está escrito: “Mata-te a ti mesmo”[3]: e novamente “Morra diariamente”[4].

E o segundo destes modos menores é a prática da percepção e análise mental das ideias, principalmente como eu já vos ensinei; mas com ênfase especial na escolha de coisas naturalmente repulsivas[5], em particular a própria morte[6], e seus fenômenos acessórios. Assim, Buda ordenava a seus discípulos que meditassem sobre as Dez Impurezas, ou seja, sobre dez casos de morte por decomposição; para que o Aspirante, identificando-se com seu próprio cadáver em todas estas formas imaginadas, pudesse perder o natural horror, repugnância, medo ou desgosto que ele poderia ter por elas. Sabei que toda ideia de todo tipo se torna irreal, fantástica e a mais manifesta ilusão, se sujeita à investigação persistente, com concentração. E isso é particularmente fácil de alcançar no caso de todas as impressões corporais, porque todas as coisas materiais, e especialmente aquelas de que nos tornamos primeiramente cônscios, a saber, nossos próprios corpos, são as mais grosseiras e mais inaturais de todas as falsidades. Pois existe em todos nós, de forma latente, aquela Luz onde nenhum erro consegue persistir, e Ela já ensina nosso instinto a rejeitar antes de tudo esses véus que estão mais intimamente envoltos ao redor Dela. Assim também, na meditação é mais proveitoso (para muitos homens) concentrar a Vontade de Amar nos centros sagrados de força nervosa: pois estes, como todas as coisas, são imagens aptas ou verdadeiros reflexos de seus semelhantes em esferas mais sutis: de modo que suas naturezas grosseiras, ao serem dissipadas pelo ácido dissolvente da Meditação, revelam suas almas mais sutis, que aparecem (por assim dizer) nuas e exibem sua força e glória na consciência do aspirante.

Sim, em verdade, que vossa Vontade de Amar queime ansiosamente em direção a esta criação em vós mesmos da verdadeira Vida, que rola suas ondas através do mar infinito do Tempo! Não vivais vidas mesquinhas com medo das horas! A Lua e o Sol e as Estrelas pelos quais medis o Tempo são, eles mesmos, apenas servos daquela Vida que pulsa em vós; alegre rufar de tambores enquanto marchais triunfantes pela Avenida das Eras. Então, quando cada nascimento e morte para vós forem assim reconhecidos nesta percepção como meros marcos em vossa Estrada sempre-viva, o que dizer dos tolos incidentes de vossas vidas mesquinhas? Não são apenas grãos de areia soprados pelo vento do deserto, ou pedregulhos que afastais com vossos pés alados, ou clareiras verdejantes onde comprimis o musgo e a relva elástica em vossa dança lírica? Para aquele que vive na Vida, nada importa: seus são eterno movimento, energia, deleite de Mudança infalível: incansáveis, vós passais de æon a æon, de estrela a estrela, o Universo inteiro, vosso parque de diversões, sua infinita variedade de esportes sempre antigos e sempre novos. Todas aquelas ideias que geravam dor e medo são percebidas em sua verdade, e assim se tornam a semente da alegria: pois vós tereis certeza, além da necessidade de qualquer prova, de que nunca podereis morrer; que, se bem que mudeis, a mudança é parte de vossa própria natureza: o Grande Inimigo se tornou o Grande Aliado.

E agora, enraizados nesta perfeição, vosso Self tendo se tornado a própria Árvore da Vida, vós tendes um fulcro para vossa alavanca: agora estais prontos para entender que este pulso de Unidade é, ele mesmo, Dualidade e, portanto, no mais elevado e mais sagrado sentido, ainda é Sofrimento e Ilusão; e tendo compreendido isso, aspirai mais uma vez, até mesmo à Quarta das Dádivas da Lei, o Fim do Caminho, até mesmo à Luz.

IV
Da Luz

Rogo-vos para que sejais pacientes comigo naquilo que escreverei sobre a Luz; pois aqui há uma dificuldade cada vez maior no uso das palavras. Além disto, eu mesmo sou constantemente levado e oprimido pela sublimidade deste assunto, de modo que a linguagem simples pode se transformar em lírica quando eu quereria trilhar calmamente com expressões didáticas. Minha maior esperança é que vós possais compreender em virtude da simpatia de vossa intuição, assim como dois amantes podem conversar em linguagem tão ininteligível a outros que chega a parecer tola, indecente e maçante; ou como naquela outra embriaguez dada pelo Éter onde os comungantes se comunicam uns com os outros com infinita sagacidade ou sabedoria, conforme o estado de espírito os toma, por meio de uma só palavra ou um só gesto, estando iniciados na percepção pela sutileza da droga. Assim eu, que estou inflamado com amor dessa Luz e embriagado com o vinho Etéreo desta Luz, possa comunicar-me não tanto com vossa razão e inteligência, mas com aquele princípio oculto em vós que está pronto para comungar comigo. Assim também um homem e uma mulher podem enlouquecer de amor um pelo outro, sem que qualquer palavra seja dita entre eles; como se fosse por causa da indução de suas almas. E vosso entendimento dependerá de vossa maturidade para a percepção de minha Verdade. Além disso, se aquela Luz em vós estiver pronta para aparecer, então a Luz interpretará para vós estas palavras sombrias na linguagem da Luz, assim como uma corda musical inanimada, devidamente afinada, ressoará em seu tom peculiar, se este for batida em outro acorde. Lede, portanto, não apenas com vossos olhos e cérebro, mas com o ritmo daquela Vida à qual vós alcançastes pela vossa Vontade de Amar, estimulada a dançar por estas palavras, que são os movimentos da varinha de minha Vontade de Amar, e assim inflamar vossa Vida em Luz.

[Neste estado de espírito eu me interrompi na escritura deste meu pequeno livro, e por dois dias e duas noites sem dormir, fiz considerações esforçando-me veementemente em meu espírito para que, por pressa ou descuido, não vos falhasse.]

No exercício da Vontade e do Amor estão implícitos o movimento e a mudança, mas na Vida alcançamos uma Unidade que se move e muda apenas no pulso ou na fase, e é até como a música. Entretanto, ao alcançardes essa Vida vós tereis percebido que a Quintessência dela é pura Luz, um êxtase informe, e sem amarras ou limites. Nesta Luz nada existe, pois Ela é homogênea: e, portanto, os homens a chamaram de Silêncio, e Escuridão, e Nada. Mas nisso, assim como em qualquer outro esforço por descrevê-la, está a raiz de toda falsidade e equívoco, uma vez que todas as palavras implicam em alguma dualidade. Portanto, embora eu a chame de Luz, ela não é Luz e nem ausência de Luz. Muitos também procuraram descrevê-la por contradições, visto que ela pode ser alcançada por algumas naturezas pela negação transcendente de todo discurso. Os homens também têm se esforçado, em vão, para expressá-la por imagens e símbolos. No entanto, aqueles que estavam prontos para perceber a natureza desta Luz compreenderam por empatia; e assim será convosco, ao ler este pequeno livro, amando-o. Porém, sabei que a melhor instrução sobre este assunto, e a Palavra mais adequada para o Æon de Hórus, está escrita no Livro da Lei. No entanto, também o Livro Ararita é valoroso na Obra da Luz, tal como Trigrammaton na da Vontade, Cordis Cincti Serpente no Caminho do Amor, e Liberi no da Vida. Todos esses Livros[7] também tratam de todas as Quatro Graças, pois no fim vós vereis que cada uma delas é inseparável das demais.

Desejo vos escrever sobre o número 93, o número de ΘΕΛΗΜΑ[8]. Pois ele não é apenas o número de sua interpretação, ΑΓΑΠΗ[9], mas também o de uma Palavra desconhecida por vós, a menos que sejais Neófitos de nossa Santa Ordem A∴A∴, palavra esta que representa em si o surgimento da Voz a partir do Silêncio, e o retorno dela para ali no Fim. Agora, este número 93 é três vezes 31, que é em hebraico LA, ou seja, NÃO, e assim nega extensão nas três dimensões do Espaço. Também gostaria que meditásseis de perto sobre o nome NU, que é 56, o qual nos é dito que dividamos, somemos, multipliquemos e entendamos. Por divisão obtém-se 0.12, como se fosse escrito Nuith! Hadith! Ra-Hoor-Khuith! antes da Díade. Por adição obtém-se Onze, o número da Verdadeira Magia: e por multiplicação obtém-se Trezentos, o Número do Espírito Santo ou Fogo, a letra Shin, onde todas as coisas são completamente consumidas. Com estas considerações, e uma compreensão completa dos mistérios dos Números 666 e 418, estareis poderosamente armados neste Caminho de voo distante. Mas vós deveríeis também considerar todos os números em suas escalas. Pois não há meio de resolução melhor do que este da matemática pura, dado que nela já existem ideias grosseiras que foram refinadas, e tudo está ordenado e pronto para a Alquimia da Grande Obra.

Já vos escrevi sobre como, na Vontade de Amar, a Luz surge como a parte secreta da Vida. E no primeiro, nos pequenos Amores, essa Vida alcançada ainda é pessoal: mais tarde, ela se torna impessoal e universal. Então chega a Vontade, posso dizer, ao seu polo magnético, donde as linhas de força apontam ao mesmo tempo em todas as direções e nenhuma: e o Amor, também, não é mais um trabalho, mas um estado. Estas qualidades se tornam parte da Vida Universal, que segue infinitamente o júbilo da Vontade e do Amor como parte inerente a ela. Portanto, essas coisas, em sua perfeição, perdem seus nomes e suas naturezas. No entanto, elas eram a Substância da Vida, o Pai e a Mãe dela; e sem a operação e o impacto delas a própria Vida gradualmente cessará suas pulsações. Mas uma vez que a energia infinita de todo o Universo está ali: que pode acontecer senão que ela retorne à sua própria Primeira Intenção, dissolvendo-se aos poucos naquela Luz que é a sua Natureza mais secreta e sutil?

Pois este Universo é na Verdade Zero, sendo uma equação da qual Zero é a soma. Da qual esta é a prova: que se não fosse assim, o Universo estaria em desequilíbrio, e algo teria surgido do Nada, o que é um absurdo. Esta Luz ou Nada é então a Resultante ou Totalidade dela em pura Perfeição; e todos os outros estados, positivos ou negativos, são imperfeitos, visto que omitem os seus opostos.

No entanto, eu gostaria que considerásseis que essa igualdade ou identidade de equação entre todas as coisas e Nenhuma é absoluta; de modo que não permanecereis mais em uma do que em outra. E vós compreendereis este grande Mistério muito facilmente à luz daquelas outras experiências que tereis desfrutado, nas quais movimento e descanso, mudança e estabilidade, e muitos outros opostos sutis, foram redimidos à identidade pela força de vossa santa meditação.

Portanto, a maior graça da Lei decorre da mais perfeita prática das Três Graças Menores. E deveis labutar nesta Obra tão profundamente que vos tornareis capazes de passar de um lado da equação ao outro à vontade; e mais ainda, deveis compreender o todo de uma vez e para sempre. Nisto, então, a vossa alma que está presa ao espaço-tempo viajará de acordo com a natureza dela em sua órbita, revelando a Lei àqueles que caminham algemados, pois esta será a vossa particular função.

Agora eis o Mistério da Origem do Mal. Primeiramente, por Mal entendemos aquilo que se opõe às nossas próprias vontades: portanto, é um termo relativo e não absoluto. Pois toda coisa que é o pior dos males para alguém é o maior bem de outro; tal como a dureza da madeira que cansa o lenhador é a segurança daquele que se aventura sobre o mar num barco construído com aquela madeira. E esta é uma verdade fácil de aprender, sendo superficial e inteligível à mente comum.

Assim, todo mal é relativo, ou aparente, ou ilusório: mas, voltando à filosofia, repetirei que sua raiz está sempre na dualidade. Portanto, fugir deste mal aparente consiste em buscar a Unidade, o que deveis fazer como eu já vos mostrei. Mas agora eu farei menção do que está escrito sobre isto no Livro da Lei.

Sendo o primeiro passo a Vontade, o Mal aparece como nesta definição; “tudo aquilo que impede a execução da Vontade”. Portanto está escrito: “A palavra do Pecado é Restrição”. Deve também ser notado que no Livro dos Trinta Æthyrs o Mal aparece como Choronzon, cujo número é 333, que em grego significa Impotência e Ociosidade: e a natureza de Choronzon é Dispersão e Incoerência.

Então, no Caminho do Amor, o Mal aparece como “tudo aquilo que tende a impedir a União de duas coisas quaisquer”. Assim diz o Livro da Lei, sob a imagem da Voz de Nuit: “tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre a mim”. Pois todo ato de Amor deve ser “sob Vontade”, ou seja, de acordo com a Verdadeira Vontade, que não é se contentar com coisas parciais e transitórias, mas sim prosseguir firmemente até o Fim. Assim também, no Livro dos Trinta Æthyrs, os Irmãos Negros são aqueles que se fecham, não querendo destruir a si mesmos pelo Amor.

Em terceiro lugar, no Caminho da Vida, o Mal aparece sob uma forma mais sutil, como “tudo aquilo que não é impessoal e universal”. Aqui o Livro da Lei, pela voz de Hadit, nos informa: “Na esfera sou em toda parte o centro…” E novamente: “Eu sou Vida, e o doador de Vida… ‘Vinde a mim’ é uma palavra tola; pois sou Eu que vou”. “Pois sou perfeito, Não sendo; …” Pois esta Vida está em todos os lugares e instantes simultaneamente, de modo que Nela estas limitações não existem mais. E vós tereis visto isto por conta própria, que em todo ato de Amor o tempo e o espaço desaparecem com a criação da Vida por sua virtude, como também ocorre com a própria personalidade. Então, pela terceira vez, em um sentido ainda mais sutil, “A palavra do Pecado é Restrição”.

Por fim, no Caminho da Luz, este mesmo versículo é a chave da concepção do Mal. Mas aqui Restrição consiste no fracasso em resolver a Grande Equação, e depois, em preferir uma expressão ou fase do Universo à outra. Contra isto nós somos advertidos no Livro da Lei pela Palavra de Nuit, que diz: “Nenhuma… e duas. Pois estou dividida em prol do amor, pela chance de união”, e portanto, “Se isto não estiver certo; se confundis as marcas de espaço, dizendo: Elas são uma; ou dizendo, Elas são muitas; então esperai os terríveis julgamentos…”.

Agora, portanto, pela benevolência de Thoth cheguei ao final deste meu livro: e armai-vos, portanto, com as Quatro Armas: a Varinha para a Liberdade, a Taça para o Amor, a Espada para a Vida, o Disco para a Luz: e com estas executai todas as maravilhas pela Arte de Alta Magia sob a Lei do Novo Æon, cuja Palavra é ΘΕΛΗΜΑ.


  1. «Liber CL vel נעל – De Lege Libellum, “Livro 150 ou Livro da Sandália – O Livreto Sobre a Lei”, foi publicado nas páginas 99 a 125 do The Equinox Vol. III Nº 1, em março de 1919. Seu conteúdo foi descrito como “Uma outra explicação do Livro da Lei, com referência especial aos Poderes e Privilégios conferidos por sua aceitação”.» ↩︎

  2. «Reims é uma das cinco regiões da França onde é produzido o legítimo “Champagne”.» ↩︎

  3. «Consulte Liber A’ash vel Capricorni Pneumatici, v. 38, em Os Livros Sagrados de Thelema↩︎

  4. «Consulte o comentário sobre o arcano XIII, A Morte, na Parte II de O Coração do Mestre↩︎

  5. «Consulte a meditação para a destruição do mal nos comentários de Liber V vel Reguli e a prática de Thien Tao, em Konx Om Pax↩︎

  6. «Consulte a meditação AAA dada em Liber HHH↩︎

  7. «Estes textos podem ser encontrados em Os Livros Sagrados de Thelema, de Aleister Crowley.» ↩︎

  8. «A palavra Thelema (“vontade”) em letras maiúsculas no original em grego. Pelo processo de Gematria (consulte Liber LVIII), obtém-se o valor 93: Θελημα = 9 + 5 + 30 + 8 + 40 + 1 = 93.» ↩︎

  9. «A palavra Ágape (“amor”). Novamente, por gematria, obtém-se 93: Αγαπη = 1 + 3 + 1 + 80 + 8 = 93. Desta forma, considera-se que existe uma relação estreita entre “Vontade” e “Amor”.» ↩︎


Traduzido e anotado por Alan Willms em 2021. Revisado por Lucas Fortunato em 2021.

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