Uma Crítica aos Métodos da Cabala

Este artigo é um capítulo de Liber LVIII — Cabala

Demonstra como a flexibilidade da Cabala Literal pode facilitar a obtenção de conclusões absurdas.

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{Uma Crítica aos Métodos da Cabala}

Nós possuímos uma joia impecável dos resultados do método, já impressa no Equinox (Vol. I Nº 2 pp. 163-185): Uma Nota Sobre o Gênesis, pelo M. H. Fra. I. A.

Partindo desta visão agradável, ortodoxa, e-viveram-felizes-para-sempre, retornemos por um momento ao aspecto crítico. Vamos demolir os métodos cabalísticos de exegese um de cada vez; e então, se pudermos, vamos descobrir uma base verdadeira sobre a qual erigir um duradouro Templo da Verdade.

1. Gematria

O número 777 fornece um bom exemplo das deduções legítimas e ilegítimas que podem ser obtidas. Ele representa a frase AChTh RVCh ALHIM ChIIM, “Um é o Espírito do Deus Vivo”, e também OLAHM H-QLPVTh, “O mundo das Cascas (excrementos — o mundo dos demônios)”.

Agora, é errado dizer que essa ideia da unidade do espírito divino é idêntica com essa ideia do lodo do caos — exceto naquele grau exaltado em que “O Um é o Muitos”. Mas o compilador do Liber 777 foi um grande cabalista quando ele assim intitulou seu livro; pois ele simplesmente quis implicar, “Um é o Espírito do Deus Vivo”, ou seja, neste livro unifiquei todos os diversos símbolos do mundo; e também, “o mundo das cascas”, ou seja, este livro está cheio de meros símbolos mortos; não os confunda com a Verdade viva. Além disso, ele tinha um motivo acadêmico para sua escolha de um número; pois a tabulação do livro vai de Kether a Malkuth, o curso da Espada Flamejante; e se esta espada for desenhada sobre a Árvore da Vida, a numeração dos Caminhos sobre os quais ela passa (tomando ג,‎ 3, como o caminho inexistente de Binah a Chesed, desde que ele conecta o Macroprosopus e o Microprosopus) é 777. [Consulte os Diagramas 2 e 12.]

Tomando outro exemplo, não é por mera coincidência que 463, o Cajado de Moisés, é ‎ג‎, ‎ס‎, ‎ת‎, os caminhos do Pilar do Meio; não é por mera coincidência que 26, יהוה, é 1+6+9+10, as Sephiroth do Pilar do Meio. Mas não deveríamos ter algum Nome supremo para 489, sua soma, o Pilar do Meio perfeito? No entanto, o Sepher Sephiroth está silente. [Encontramos apenas 489 = MShLM GMVL, o vingador. Ed.]

Novamente, 111 é Aleph, a Unidade, mas também APL, densas Trevas, e ASN, Morte Súbita. Isso só pode ser interpretado como significando a aniquilação do indivíduo na Unidade, e as Trevas que são o Limiar da Unidade; em outras palavras, é preciso ser um perito em Samādhi antes que essa simples Gematria tenha qualquer sentido adequado. Então como ela pode servir ao estudante em sua pesquisa? O não-iniciado esperaria Vida e Luz no Um; somente através da experiência ele pode saber que para o homem a Divindade precisa se expressar por aquelas coisas que ele mais teme.

Aqui nós evitamos de propósito insistir em meras tolices de muitas correspondências da Gematria, por exemplo, a igualdade da Qliphoth de um signo com a Inteligência de outro. Tais erros são mais frequentes do que acertos como AChD, Unidade, 13 = AHBH, Amor, 13.

O argumento é um argumento em círculos. “Somente um adepto pode compreender a Cabala”, tal como (no Budismo) Śākyamuni disse, “Somente um Arhat pode entender o Dhamma”.

De fato, sob esta luz a Cabala não parece nada mais do que uma linguagem conveniente para registrar experiências.

Podemos mencionar de passagem que Frater P. nunca se conformou com a óbvia “fabricação” de argumentar que: x = y + 1 ∴ x = y, assumindo que x deveria adicionar um a si mesmo “para a unidade oculta”. Por que o y não deveria ter uma unidadezinha oculta própria?

O fato deste método ter sido aceito por qualquer cabalista afirma um fracasso de uma ingenuidade inacreditável. Sendo justo, isso é mais fácil do que falsificar identidades, usando métodos menos óbvios de trapacear!

2. Notariqon

O absurdo deste método requer pouca indicação. Até quem não é tão inteligente pode sentir pena e rir às custas do judeu do Sr. Mathers, convertido pelos Notariqons de “Berashith”. É verdade, F.I.A.T. é Flatus, Ignis, Aqua, Terra; mostrando o Criador como Tetragrammaton, a síntese dos quatro elementos; mostrando o Fiat Eterno como os poderes da Natureza equilibrados. Mas o que proíbe Fecit Ignavus Animam Terrae, ou qualquer outra blasfêmia conveniente, que Buddha aplaudiria?

Por que não pegar nosso judeu convertido e restaurá-lo ao Gueto, com Ben, Ruach, Ab, Sheol! — IHVH, Thora? Por que não pegar o sagrado Ἰχθνς dos cristãos que pensavam que significava Ἰησονς Χριστος Θϵον Ὑιος Σωτηρ e torná-lo pagão com Ἰσιδος Χαρις Θησαυρος Ὑιων Σοφιας?

Por que não argumentar que Cristo ao amaldiçoar a figueira {fig}, F.I.G., desejava atacar os dogmas de Kant de Livre-Arbítrio {Freewill}, Imortalidade {Immortality}, Deus {God}?

3. Temurah

Aqui novamente a multiplicidade de nossos métodos torna o nosso método flexível demais para ser confiável. Deveríamos argumentar que BBL = ShShK (620) pelo método de Athbash, e que, portanto, BBL simboliza Kether (620)? Por quê? BBL é confusão, exatamente o oposto de Kether.

Por que Athbash? Por que não Abshath? ou Agrath? ou qualquer outra das combinações possíveis?

Um dos poucos Temurah úteis é o Aiq Bkr, dado acima. Neste encontramos um raciocínio sugestivo. Por exemplo, o encontramos na atribuição de ALHIM ao pentagrama que dá π. [Veja o Equinox, Vol. I Nº 2, p. 184]. Aqui escrevemos Elohim, as divindades criativas, ao redor de um pentagrama, e o lemos ao contrário começando com ל, ♎, a letra do equilíbrio, e obtemos um valor aproximado de π 3.1415 (bom o suficiente para hebreus incultos), como se por meio dele o quadrado finito da criação fosse assimilado em um círculo infinito do Criador.

Sim: mas por que Berashith 2, 2, 1, 3, 1, 4, não dá, digamos, e? A única resposta é que se torcermos o suficiente, talvez dê!

A Tabela Racional do Tziruph deveria, concordamos com Fra. P, ser deixada para a Associação de Imprensa Racionalista, e podemos apresentar a Tabela Irregular de Comutações para os Maçons Irregulares.

4. Aos métodos menos importantes podemos aplicar a mesma crítica.

Podemos vislumbrar de passagem os métodos Yetzirático, do Tarô e significatório de investigar qualquer palavra. Mas apesar de que Frater P. conhecia o suficiente destes métodos, eles dificilmente são pertinentes à Cabala puramente numérica, portanto, nós gentilmente trataremos deles. As atribuições são dadas no 777. Assim א no mundo Yetzirático é “Ar”, pelo Tarô “O Tolo”, e por significado “um boi”. Assim nós temos o famoso I.N.R.I. =‎ י.‎ נ.‎ ר.‎ י. ‎‎= ♍, ♏, ☉, ♍; a Virgem, a Serpente Maligna, o Sol, sugerindo a história do Gênesis 2 e do Evangelho. As iniciais dos nomes egípcios Ísis, Apófis, Osíris, que correspondem, dão por sua vez o Nome Inefável IAO; assim dizemos que o Inefável está oculto e é revelado pelo Nascimento, Morte e Ressurreição de Cristo; e além disso os Sinais do Luto da Mãe, do Triunfo do Destruidor, e do Renascimento do Filho, dão a forma das letras L.U.X., Lux, cujas letras (novamente) são ocultas e reveladas pela Cruz  a Luz da Cruz. Outros exemplos serão encontrados em Uma Nota Sobre o Gênesis. Um dos mais famosos é o Mene, Tekel, Upharsin de Daniel, o profeta imaginário que viveu sob Belshazzar, o rei imaginário.

  • MNA. O Enforcado, Morte, o Tolo = “Sacrificado à Morte por tua Tolice”.
  • ThKL. O Universo, A Roda da Fortuna, Justiça = “A fortuna de teu reino está no Equilíbrio”.
  • PRSh. A Torre Destruída, o Sol, o Juízo Final = “Arruinada está tua glória, e terminada”.

Mas não podemos deixar de pensar que esta exegese deve ter sido um trabalho muito difícil.

Poderíamos ler mais facilmente:

  • MNA. Sacrificar à morte é tolice.
  • ThKL. Teu reino será afortunado, porque é justo.
  • PRSh. A Torre de tua glória perdurará até o Último Dia.

Pronto! isso não levou nem dois minutos; e Belshazzar nos exaltaria mais do que a Daniel.

Ou, por Yetzirah: “O ar é Seu equilíbrio”, como está escrito: “Deus criou o firmamento, e dividiu as águas que estão abaixo do firmamento das águas que estão acima do firmamento”.

Ou, por significado: “O boi e o arado”, ou seja, “Ele é tanto matéria quanto movimento”.

Leituras Místicas das Letras do Alfabeto

(Observe as Cartas do Tarô, e Medite)

  • ALP. A Tragédia da Tolice é a Ruína.
  • BITh. O Prestidigitador com o Segredo do Universo.
  • GML. O Santo Anjo Guardião é alcançado por Auto Sacrifício e Equilíbrio.
  • DLTh. O Portão do Equilíbrio do Universo. (Observe D, o maior caminho bilateral.)
  • HH. A Mãe é a Filha; e a Filha é a Mãe.
  • VV. O Filho é (apenas) o Filho. (Estas duas letras mostram a verdadeira doutrina da iniciação conforme dada em Liber 418; em oposição ao Exotericismo Protestante).
  • ZIN. A resposta dos Oráculos é sempre Morte.
  • ChITh. A Carruagem do Segredo do Universo.
  • TITh. Aquela que rege a Força Secreta do Universo.
  • IVD. O Segredo do Portão da Iniciação.
  • KP. Nos Rodopios está a Guerra.
  • LMD. Por Equilíbrio e Auto Sacrifício, o Portão!
  • MIM. O Segredo está oculto entre as Águas que estão acima e as Águas que estão abaixo. (Símbolo, a Arca contendo o segredo da Vida carregada sobre o Seio do Dilúvio abaixo das Nuvens).
  • NVN. A Iniciação é guardada em ambos os lados pela morte.
  • SMK. Autocontrole e Auto Sacrifício governam a Roda.
  • OIN. O Segredo da Geração é Morte.
  • PH. A Fortaleza do Altíssimo. (Observe P, o caminho bilateral mais baixo).
  • TzDI. Na Estrela está o Portão do Santuário.
  • QVP. Ilusória é a Iniciação da Desordem.
  • RISh. No Sol (Osíris) está o Segredo do Espírito.
  • ShIN. A Ressurreição está oculta na Morte.
  • ThV. O Universo é o Hexagrama.

(Outros significados servem a outros planos e a outros graus).

Verdadeiramente, não há um fim para esta maravilhosa ciência; e quando o cético zomba “Com todos estes métodos alguém pode tirar todas as coisas a partir do nada”, o Cabalista sorri de volta com sublime retórica, “Com estes métodos Alguém de fato criou todas as coisas a partir do nada”.

Além destes, ainda há um outro método — um método de alguma importância para os estudantes do Siphra Dzeniouta, a saber, as analogias obtidas a partir das formas das letras; estas frequentemente são interessantes o suficiente. א, por exemplo, é um ו entre um י e י, somando 26. Assim יהוה ‎26 = ‎א‎, 1. ‎Portanto Jeová é Um. Mas seria tão pertinente quanto continuar com 26 = 2 × 13, e 13 = Achad = 1, e, portanto, Jeová é Dois.

Então isso é um absurdo. Sim; mas também é um arcano!

Quão maravilhosa é a Cabala! Quão grande é sua segurança contra os profanos; quão esplêndidos são seus segredos para os iniciados!

Verdadeiramente e Amém! no entanto, aqui novamente estamos naquele antigo dilema, de que deve-se conhecer a Verdade antes que possamos confiar na Cabala para mostrar a Verdade.

Como o imortal larápio:

“Bill não machucaria nem mesmo um bebê — é um parceiro em quem pode confiar,
Ele é gente fina quando você o conhece; mas primeiro você tem que conhecê-lo.

Portanto, aqueles que se dedicaram ao estudo acadêmico de seus mistérios só encontraram uma vara seca: aqueles que compreenderam (favorecidos por Deus!) encontraram ali a vara de Arão que floresceu, o Cajado da própria Vida, sim, o venerável Liṅgaṃ de Mahā Śiva!

Cabe a nós seguir as pesquisas de Frater P. sobre a Cabala, demonstrar como a partir desse armazém de quebra-cabeças de crianças, de contradições e incongruências, de paradoxos e trivialidades, ele descobriu o próprio cânone da Verdade, a autêntica chave do Templo, a Palavra daquela poderosa Combinação que abre a Câmara-do-Tesouro do Rei.

E o que segue é o Manuscrito que ele nos deixou para nossa instrução.


Traduzido por Alan Willms em agosto de 2018.

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