O Caminho do Amor Thelêmico: Introdução

Este artigo é um capítulo de O Caminho do Amor Thelêmico

Sobre Harpócrates, o Arquétipo da Criança e o Tolo do Tarô.

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Introdução

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Este é o ano do Atu do Tolo. Este Atu está relacionado ao arquétipo da Criança. Os conceitos do Tolo e da Criança são uma fonte de profunda significância mística e mágica em Thelema. Hoje eu compartilharei com vocês apenas uma pesquisa sobre os comentários de Crowley sobre o simbolismo da Criança-Tolo bem como algumas das ideias de Jung sobre eles.

Por que o Tolo tem relação com a Criança?

No Livro de Thoth, Crowley atribui o deus Harpócrates ao Atu do Tolo. Na antiguidade, Harpócrates era compreendido como o Sol da alvorada; ou como seu nome original Har-Paar-Khered indica, Hórus o Jovem. Para poder compreender o poder da Criança-Tolo é importante entender os aspectos ocultos de Harpócrates.

Silêncio Místico e o Princípio

HPK é considerado popularmente como o “deus do silêncio” devido a crenças sobre o posicionamento de seu dedo na boca. Crowley atribui a HPK o impulso de manifestação atribuído à criação do Universo e à Verdadeira Vontade. Este impulso primordial é informulado, assim o Silêncio, e só se torna o Logos do Magista quando é interpretado. Portanto, HPK pode representar os níveis mais altos do Atziluth ou a crista no topo da letra hebraica Yod.

Quanto à Grande Obra de um iniciado, HPK é o símbolo da Alvorada sobre o Nilo ou um símbolo do despertar do Self pela individuação (como Jung a chamaria). A Criança é o self-anão daquela consciência fálica, que é a verdadeira vida do homem, a Fonte de toda dinâmica de volição, iniciação e espiritualidade. Então, a Criança é um grande representativo da Verdadeira Vontade e do Sagrado Anjo Guardião. Uma correlação interessante entre as ideias de HPK como pequeno, inocente e insensível a danos ecoa a tradição védica-tântrica do atman que habita no coração e não é maior do que o tamanho de um dedão. É a verdadeira consciência que vê e não é vista, ouve e não é ouvida, sente e não é sentida. É esse “círculo de chama eterna”, do qual todas as coisas surgem, onde elas têm sua existência e para o qual todas retornam. E lembre-se de que este círculo também é um zero – quiçá o Zero Cabalístico.

HPK como o Fim

Embora considerado como o deus do silêncio, o zero cabalístico e o originador do universo, Harpócrates, como o gêmeo “passivo” e mais jovem de Ra-Hoor-Khuit é atribuído ao He final do Tetragrammaton. Então não apenas temos a ideia de atribuir a Criança ao Zero Cabalístico, nós também a atribuímos à criação finita ou Assiah. HPK popularmente é retratado de pé sobre dois crocodilos. Crowley afirma que isso define o significado da Criança como o Atu do Tolo como o retorno ao zero cabalístico. Visto de cima, O Tolo representa a descida à criação, através da qual, da perspectiva do iniciado, é a derradeira consecução: a absorção de volta no todo. Mas dentro do próprio Tolo, já que sua atribuição numérica o teria, ele contém todas as perspectivas.

A Criança como Presente e Futuro

De acordo com a psicologia Junguiana, a criança representa um sistema funcionando no presente cujo propósito é compensar ou corrigir a inevitável unilateralidade da mente consciente. Isso, a propósito, remete à Grande Obra (que nós discutiremos adiante). Jung chama a Criança de “ideal retardador” o qual é mais primitivo, mais natural e mais moral porque demanda deslealdade à tradição e lealdade ao impulso raiz, ou como alguns o chamam, Verdadeira Vontade. Desta forma, até mesmo do ponto de vista Junguiano, temos uma conexão entre a criança e a verdadeira vontade.

Interessantemente (mas não por coincidência!), Jung também atribui a criança à futuridade. Ele afirma que “a criança é futuro potencial … mesmo que a princípio pareça como uma configuração de retrospectiva”. A criança representa o surgimento dessa síntese de elementos conscientes e inconscientes na personalidade; ou o que chamamos de equilíbrio do self que resulta no Casamento do self e o self superior. Por causa do poder curativo da criança; ou seja, mesclar o Self Superior e o Inferior, efetuando o Conhecimento e Conversação, ela é considerada um poder de integralidade e é expresso em coisas redondas, círculos e esferas. E de modo semelhante, é uma representação daquela “Pedra” Filosofal.

A Criança como Hermafrodita

Por fim, Jung discute uma característica importante da Criança; a de seu hermafroditismo. Este hermafroditismo é uma simples analogia para nos ajudar a entender o que acontece durante o Conhecimento e Conversação do SAG. É a verdadeira mistura do que consideramos o ato do sexo e do que simbolizamos pelo hexagrama, e qualquer outra ideia e símbolo de equilíbrio em nosso sistema. Antes da encarnação não fazemos distinção, somos verdadeiramente inocentes como bebês no Jardim do Éden. Ao retornar à Fonte, nós novamente não faremos distinção entre uma coisa e qualquer outra coisa. Teremos equilibrado tudo em um balanço do zero cabalístico.

Esta mistura também é observada no estado do Adepto completo, que é ao mesmo tempo HPK e RHK; é a mescla da inocência e do poder; força e ingenuidade; a Criança coroada E conquistadora. O novo Adepto 5=6 pode ser visto como Hórus o Jovem; sua primeira experiência da abertura da consciência Briática cria um recém-encontrado sentimento de admiração, inocência e ingenuidade. No momento em que o grau de 6=5 é alcançado, o Adepto incorpora a plenitude de Ra-Hoor-Khuit, em todo o seu poder, força e experiência. No entanto, como vimos, Harpócrates representa o Zero Cabalístico.

No desenvolvimento completo do Poder da Criança, não há diferença entre self e Self Superior; de fato “não há diferença entre qualquer uma coisa e qualquer outra coisa”. O poder da Criança é um poder equilibrador, como o simbolismo do hermafrodita teria, formando o Pilar do Meio da Árvore da Vida, equilibrando todos os modos de consciência através das respectivas esferas de Malkuth direto até Kether, e é claro, além. Portanto, o poder da Criança começa no Ain Soph Aur, desce através da Árvore até uma manifestação completa e física só para retornar a si mesma pelo Caminho do Retorno.

Finalmente

Talvez os conceitos mais poderosos atribuídos à força da Criança-Tolo seja aquele de sua pureza, inocência, tolice e simplicidade. A verdadeira vontade é atribuída ao livre arbítrio e ação espontânea que têm suas raízes na intuição e, portanto, no Self Superior. Pessoas tolas frequentemente são vistas como se agissem sem pensar. Similarmente, quando pedimos que nos relatem suas ações, elas não têm palavras, e, portanto, ficam silentes.

Aqueles de vocês que tem familiaridades com crianças muito pequenas sabem que elas não têm limites, não têm uma verdadeira compreensão de nada; são só impulso e pura energia natural. Não tente perguntar qual é o motivo para elas agirem do jeito que fazem; elas só te encaram e ficam quietas. A tradição Typhoniana frequentemente se refere ao poder por trás de Thelema como a Corrente 93 e enfatizam a atribuição de Crowley disso ao assim-chamado Phallus. Lembre-se de que este Phallus é o poder dinâmico dentro dos homens e das mulheres que estimula a nossa existência; não apenas em termos de sobrevivência básica e reprodução, mas aquele poder de experienciar e explorar; aquele mesmo impulso que busca retornar a si mesmo do Heh final até o núcleo flamejante de Yod e ao canópio do céu além. Portanto, esse poder é potencialmente perigoso, imprevisível e cheio de potencial infinito e amor-à-vida, assim como uma criança.

As crianças provavelmente são as representações mais potentes do Divino dentro de nós. Entre hoje e a próxima convocação, eu te encorajo a observar as crianças, especialmente as bem pequenas, se puderem. Observem suas expressões, observem como elas se engajam em atividades. Tentem sentir a espontaneidade e a naturalidade da Corrente 93 dentro delas. Então tente obter uma ideia de como essa Corrente ainda está presente e ainda se manifesta na sua vida a despeito das diversas responsabilidades mundanas e complexos com os quais esse Poder precisa conflitar.

Nós somos todos crianças e tolos em busca de experiências. Enquanto os não-iniciados mudam de assunto a assunto e se perdem em desejos sensoriais até mesmo para o detrimento de suas próprias verdadeiras vontades, os thelemitas abraçam tudo isso sob a regência da Vontade, sabendo que eles não devem desprezar nada em particular devido a um preconceito pessoal, a menos que se saiba que isso esteja em conflito com a Verdadeira Vontade. O não-iniciado permanece nos confins do Poder da Criança de nascimento a renascimento, enquanto o thelemita amadurece naquele mesmo Poder para sublimar todas as experiências naquela do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.


Traduzido por Alan Willms

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