O Palácio do Mundo
Descreve o aspecto espiritual do “Ritual Menor do Pentagrama”.
O Palácio do Mundo
[Nota de Frater S.R.: extraído do The Collected Works of Aleister Crowley Vol. 1, 1905. Nota de título: 1]
Os portões perfumados do amanhecer2
Repletos do perfume das flores.
A mãe, Meia-noite, retirou
Suas quietas horas do beijo:
O dia nasce, com os passos como de uma corça,
Em seus caramanchões rosados.
A trombeta pálida e virgem sagrada3
No mais alto céu é posta.
Minha testa, banhada em sua luz
Miserável, com seus lábios se encontra;
Meus lábios, que murmuram na manhã,
Estão úmidos com o orvalho brilhante.
Minha oração é poderosa com minha vontade;
Meu propósito como uma espada4
Flameja através do adamantino, para preencher
Os jardins do Senhor
Com a música, que o ar esteja quieto,
Calado aos seus acordes poderosos.
Eu estou acima das marés do tempo
E do conflito elemental;
Minha imagem está acima, sublime,
Sombreando a Chave da Vida5
E a paixão de minha rima poderosa
Divide-me como uma faca.
Pois os símbolos secretos sobre minha testa,
E os pensamentos secretos dentro,
Compelem a eternidade ao Agora,
Trazem o Infinito adentro.
A luz é estendida6. Eu e Tu
Somos como se eles não estivessem7.
Então sobre minha cabeça a luz é uma,
Unidade manifesta;
Uma estrela mais esplêndida do que o sol
Queima a meu escudo coroado;
Queima, como a oração murmurosa
Das águas no oeste.
Que anjo do portão de prata
Flameja ao meu rosto ardente?
Que anjo, como eu contemplo
O espaço imaterial?
Movem-se com meus lábios as leis do Destino
Que amarram a carapaça da terra?
Nenhum anjo, mas a própria luz
E o fogo e o espírito Dela,
Absoluto, eremita,
A mirra não manifesta,
O oceano, e a noite que não é noite,
A mãe-mediadora8.
Ó espírito sagrado dos Deuses9!
Ó tripla língua10! Desça,
Lambendo a chama replicante que concorda,
Beijando as sobrancelhas que se curvam,
Unindo as épocas de toda a terra
A um fim exaltado.
Ainda sobre a Árvore da Vida mística
Minha alma é crucificada11;
A faca sacrificial ainda ataca
Onde se esconde com olhos de serpente algum
Medo, paixão, ou o desejo a mulher fatal
Do homem, o suicídio!
Diante de mim habita o Santo
Perfumado Rei da Beleza12;
Atrás de mim, mais poderoso do que o Sol,
A quem os querubins cantam,
Um arcanjo forte13, conhecido de ninguém,
Vem coroado e conquistador.
Um anjo está à minha direita
Com a força da ira do oceano14;
Sobre a minha direita a marca de fogo,
O fogo da carruagem que ataca adiante15:
Quatro grandes arcanjos para opor-se
Às fúrias do caminho16.
Flameja diante de mim a estrela de fogo,
Sobre mim e ao meu redor17.
Atrás, o sol sagrado, distante,
Seis sinfonias de som;
As chamas, como os próprios Deuses que são;
As chamas, no abismo profundo18.
Os braços estendidos caem como um trovão! Assim
Ressoa o brado nobre,
Vibrando através das correntes que fluem
No éter para o céu,
O arquipélago móvel,
Estrelas em seus Feudos.
Teu seja o reino! Teu o poder!
A tripla glória tua19!
Tua através da hora rápida da eternidade,
A eternidade, teu santuário –
Sim, pela santa flor-de-lótus,
Até mesmo minha20!
1 Descreve o aspecto espiritual do “Ritual Menor do Pentagrama”, que anexamos, com a sua explicação. A natureza abstrusa dos poemas mestres é bem refletida neste.
(i.) Tocando a testa diga Ateh (A Ti).
(ii.) Tocando o peito diga Malkuth (O Reino).
(iii.) Tocando o ombro direito, diga ve-Geburah (e o Poder).
(iv.) Tocando o ombro esquerdo, diga ve-Gedulah (e a Glória).
(v.) Juntando as mãos sobre o peito, diga le-Olahm, Amen (Para as Eras, Amém).
(vi.) Voltando-se para o Leste desenhe um pentagrama (o da Terra) com a arma desejada. Diga יהוה.
(vii.) Voltando-se para o Sul, o mesmo, mas diga אדני.
(viii.) Voltando-se para o Oeste, o mesmo, mas diga אהיה.
(ix.) Voltando-se para o Norte, o mesmo, mas diga אגלא.
(x.) Estendendo os braços na forma de uma Cruz diz –
(xi.) À minha frente Rafael,
(xii.) Atrás de mim Gabriel,
(xiii.) À minha direita Michael,
(xiv.) À minha esquerda Auriel,
(xv.) Pois ao meu redor flameja o Pentagrama,
(xvi.) e na Coluna a Estrela de seis raios.
(xvii. – xxi.) Repetir (i.) a (v.), a “Cruz Cabalística”.
Aqueles que consideram esse ritual como um simples dispositivo para invocar ou banir espíritos, são indignos de possuí-lo. Devidamente compreendido, ele é a Medicina dos Metais e a Pedra do Sábio. [Nota do Autor]
2 Este ritual era dado aos Neófitos na Ordem da Golden Dawn.
3 A lua, como antes, significa a Aspiração ao Altíssimo.
4 Pois a “Espada Flamejante” é o “Pentagrama desatado”.
5 Os braços estando estendidos, e o mago estando vestido com um robe em forma de Tau e um nêmes, o toucado egípcio sagrado, sua figura teria uma sombra que se assemelha à Ankh ou “Chave da Vida”.
6 Khabs am Pekht, Konx om Pax, Luz em Extensão. As palavras místicas que selam a corrente de luz na esfera do aspirante.
7 Consulte também Omar Khayyam, o sufi.
8 Binah, a reveladora da Tríade da Luz.
9 Ruach Elohim (ver Gênesis i.) soma 300 = ש = Fogo.
10 ש tem a forma tem uma língua tripla.
11 Esses arcanjos estão em pontos sobre a “Árvore da Vida” que os fazem cercar conforme descrito quem nela está “crucificado”.
12 Rafael habita em Tiphereth, Beleza.
13 Gabriel, habitante de Yesod, onde estão os Querubins.
14 Michael, senhor de Hod, uma Emanação de natureza aquosa.
15 Auriel, Arcanjo de Netzach, a qual é atribuído o fogo.
16 O caminho de ת, ou Saturno e Terra, que de fato conduz de Malkuth a Yesod, mas é negro e ilusório. Este primeiro passo acima atrai as oposições mais amargas de todos os Inimigos da Alma Humana.
17 Conforme afirmado no ritual.
18 Ele flameja tanto acima como abaixo do mago, que assim está em um cubo de 4 pentagramas e 2 hexagramas, 32 pontas no total. E 32 é אהיהוה, a palavra sagrada que expressa a Unidade do Altíssimo e do Homem.
19 Como no ritual.
20 Afirmação suprema da Unidade com o Altíssimo no Lótus, o símbolo universal da Consecução.
Traduzido por Alan Willms