A Torre de Vigia Negra
«ou o Sonhador» ¶
Quem nunca experimentou, em algum momento de sua vida, aquela estranha sensação de total perplexidade ao ser acordado pela repentina aproximação de uma luz brilhante através da soleira da cortina do sono; aquela inebriante sensação de admiração, aquela incapacidade desesperada de arregalar os olhos cegos diante da chama ofuscante que varreu a noite para os cantos e fendas do quarto escuro do sono?
Novamente, quem nunca saiu da brilhante luz do sol do meio-dia para alguma abóbada sombria e, tateando ao longo de suas paredes escuras, descobriu que tudo que lá estava era apenas como o cadáver do dia envolto em uma mortalha de escuridão sem estrelas?
No entanto, à medida que os momentos passam, a visão se acostuma com o intruso deslumbrante; e conforme a teia de prata cegante e cintilante que ele jogou em torno de nós derrete como uma rede de neve diante do fogo despertador de nossos olhos, percebemos que a chama branca de perplexidade que há apenas um momento nos envolvia como um manto de relâmpagos é, na verdade, uma bruxuleante vela de junco expirando intermitentemente em um suporte de barro torto. E da mesma forma na escuridão, à medida que passamos pelos arcos não iluminados da abóbada, ou os recessos sem lamparina que, como sapos, agacham-se aqui e ali na escuridão, a princípio vagamente fazem as molduras do telhado e as cornijas das paredes rastejar adiante; e então, à medida que o crepúsculo se torna mais certo, eles se retorcem e se contorcem em arabescos de formas estranhas, em figuras fantasiosas e rostos contorcidos; que, conforme avançamos, voam como os morcegos nas profundezas de uma escuridão mais profunda além.
Fique! – e, por um momento, volte depressa, e traga consigo aquela pequena vela de junco que deixamos balbuciando na prateleira da lareira do sono. Agora, tudo mais uma vez desaparece, e do chão diante de nós se projetam para a terra das sombras da escuridão as severas paredes cinzentas de rocha, as arquitraves envelhecidas, as colunas agrupadas e todos os capitólios de Arte em ruínas, onde apenas os anos jazem encobertos adormecidos em sua poeira e mofo – uma lembrança assustadora de dias há muito esquecidos.
Ó terra dos sonhos, de maravilha e mistério! como uma língua de ouro envolta em uma chama azul, nós pairamos por um momento sobre o Poço da Vida; e então o vento noturno cresce e nos leva para as profundezas da sepultura sem estrelas. Somos como mosquitos pairando sob os raios do sol, e então a noite cai e nós partimos: e quem pode dizer para onde e para que fim? Seja para a Cidade do Sono Eterno ou para a Mansão da Música do Regozijo?
Ó meus irmãos! venham comigo! me sigam! Subamos as escadas escuras desta Torre de Silêncio, desta Torre de Vigia da Noite; em cuja fronte negra nenhuma chama bruxuleante queima para guiar o viajante fatigado pelos atoleiros da vida e pelas brumas da morte. Venham, me sigam! Tateiem esses degraus gastos pelo tempo, escorregadios com as lágrimas dos caídos e desgrenhados com o sangue dos vencidos e o sal da agonia do fracasso. Venham, venham! Não parem! Abandonem tudo! Vamos subir. Ainda assim, tragam consigo duas coisas, a pederneira e o aço – o fogo adormecido do Mistério e a espada negra da Ciência; para que possamos lançar uma faísca e acender o farol da Esperança que paira sobre nós no braseiro do Desespero; de modo que uma grande luz possa brilhar através da escuridão e guiar os passos laboriosos do homem até aquele Templo que é construído sem mãos, feito sem ferro, ou ouro ou prata, e no qual não arde fogo; cujos pilares são como colunas de luz, cuja cúpula é como uma coroa de refulgência posta entre as asas da Eternidade, e sobre cujo altar reluz a mística eucaristia de Deus.
Traduzido por Alan Willms em 2011; atualizado e anotado em maio de 2023. Foto ilustrativa de Yan Ots no Unsplash.