Amor

Este artigo é um capítulo de Pequenos Ensaios em Direção à Verdade

Do amor sob vontade.

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Amor

“Agora o Magus é Amor, e une Aquilo e Isto em sua Conjuração[1]”.

A Fórmula do Tetragrammaton é a expressão matemática completa do Amor. Sua essência é esta: quaisquer duas coisas se unem, com um efeito duplo; em primeiro lugar, a destruição de ambos, acompanhada pelo êxtase devido ao alívio da tensão da separação; em segundo lugar, a criação de uma terceira coisa, acompanhada pelo êxtase da realização da existência, que é Alegria até que com o desenvolvimento se torne consciente de sua imperfeição, e ame.

Esta fórmula do Amor é universal; todas as leis da Natureza são suas servas. Assim a gravidade, a afinidade química, o potencial elétrico e o restante — e estes são meros aspectos da lei geral — são afirmações observadas de forma diferente da tendência única.

O Universo é conservado pela ação dupla envolvida na fórmula. O desaparecimento do Pai e da Mãe é compensado precisamente pelo surgimento do Filho e da Filha. Portanto, pode ser considerado um motor de movimento perpétuo que desenvolve continuamente o êxtase em cada uma de suas fases.

O sacrifício de Ifigênia em Áulide[2] pode ser considerado típico da fórmula: o efeito místico é a ascensão da donzela ao seio da deusa; enquanto o efeito mágico é a destruição de sua parte terrestre, o veado, que acalma a fúria de Aeolus e manda as Danaïdes[3] zarparem.

Ora, nunca é demais entender com clareza, ou perceber de maneira aguda por meio da ação, que a intensidade da Alegria liberada varia de acordo com o grau original de oposição entre os dois elementos da união. Calor, luz, eletricidade são fenômenos que expressam a plenitude da paixão, e seu valor é o maior possível quando a diversidade das Energias que compõem o casamento é mais extenuante. Obtém-se mais com a explosão de hidrogênio e oxigênio do que com a combinação monótona de substâncias indiferentes umas às outras. Assim, a união de nitrogênio e cloro é tão pouco satisfatória para qualquer destas moléculas, que o composto resultante se desintegra com violência explosiva ao menor choque. Então, podemos dizer na linguagem de Thelema que tal ato de amor não é “amor sob vontade”. É, por assim dizer, uma operação de magia negra.

Consideremos, como exemplo, as “sensações” de uma molécula de hidrogênio na presença de uma de oxigênio ou de cloro. Ela sofre intensamente pela realização do extremo de seu desvio do tipo perfeito de mônada pela contemplação de um elemento tão supremamente oposto à sua própria natureza em todos os pontos. Na medida em que é egoísta, sua reação deve ser de desprezo e ódio; mas conforme ela entende a verdadeira vergonha que é atribuída à sua separação pela presença de seu oposto, esses sentimentos se transformam em anseio angustiado. Ela começa a ansiar pela faísca elétrica que lhe permitirá amenizar suas dores pela aniquilação de todas as propriedades que constituem sua existência separada, no êxtase da união e, ao mesmo tempo, cumprir sua paixão de criar um tipo perfeito de Paz.

Vemos a mesma psicologia em todo o mundo físico. Um exemplo mais forte e elaborado poderia muito bem ter sido dado, se o propósito deste ensaio fosse menos católico, a partir da estrutura dos próprios átomos e seu esforço para resolver a agonia de sua agitação no Nirvāṇa beatífico dos gases “nobres”.

O processo de Amor sob Vontade é evidentemente progressivo. O Pai que matou a si mesmo no ventre da Mãe se acha novamente com ela e, transfigurado, no Filho. Este Filho atua como um novo Pai; e é assim que o Self é constantemente engrandecido, e capaz de contrapor um Não-Self cada vez maior, até o ato final de Amor sob Vontade que compreende o Universo em Sammā-Samādhi[4].

A paixão do Ódio é assim realmente dirigida contra si mesmo; é a expressão da dor e da vergonha da separação; e só parece estar dirigida contra o oposto por transferência psicológica. Esta tese a Escola de Freud tornou suficientemente clara[5].

Portanto, há pouco em comum entre o Amor e as paixões sem grande entusiasmo como a consideração, afeição ou gentileza; é o não iniciado que, para sua maldição em um inferno de sopa de repolho e espuma de sabão, os confunde.

O Amor pode ser mais bem definido como a paixão do Ódio inflamada ao ponto da loucura, quando se refugia na Autodestruição[6].

O Amor é mordaz com a lascívia da raiva mortal, anatomizando sua vítima com aguda energia, procurando onde melhor atingir o coração de forma mortal; ele só fica cego quando sua fúria o domina completamente e o joga na boca vermelha da fornalha da autoimolação.

Devemos ainda distinguir o Amor, neste sentido mágico, da fórmula sexual, embora seja um símbolo e modelo para ela. Pois a essência pura da Magia[7] é uma função da consciência derradeiramente atômica, e suas operações devem ser refinadas de toda confusão e contaminação. Portanto, as operações verdadeiramente mágicas do Amor são os Transes, mais especialmente os do Entendimento; como terá sido prontamente apreciado por aqueles que fizeram um estudo cabalístico cuidadoso da natureza de Binah. Pois Ela é omniforme como Amor e como Morte, o Grande Mar de onde toda a Vida nasce, e cujo ventre negro tudo reabsorve. Ela assim resume em si mesma o processo duplo da Fórmula do Amor sob Vontade; pois não é Pã, o que Tudo-Cria, no coração dos Bosques ao meio-dia, e não é o “cabelo das árvores da Eternidade” Dela os filamentos da Divindade que Tudo-Devora “sob a Noite de Pã?”

No entanto, não devemos esquecer que, embora Ela seja amor, sua função é apenas passiva; ela é o veículo da Palavra, de Chokmah, Sabedoria, o Pai-de-Tudo, que é a Vontade do Todo-Um. E assim falham com erros graves e terríveis aqueles que tagarelam sobre o Amor como a Fórmula da Magia; o Amor é desequilibrado, vazio, vago, sem direção, estéril, não, ainda mais, uma própria Casca, a presa de abjetos restos demoníacos: o Amor precisa ser “sob vontade”.



  1. «Liber B vel Magi, v. 0.» ↩︎

  2. «Obra escrita por Eurípides, onde Agamemnon precisa sacrificar sua filha Ifigênia para cair novamente nas graças da deusa Artemisa.» ↩︎

  3. «As cinquenta filhas de Dânao, que deveriam se casar com os cinquenta filhos de seu tio Egito. Dânao era contra, e ordenou que na noite de núpcias todas elas matassem seus maridos. Todas cumpriram com isso, exceto Hipermnestra (ou Amimone), que se apaixonou pelo marido Linceu. Dânao ficou furioso porque ela descumpriu com seu dever, e a arrastou para as cortes. Linceu matou Dânao para defendê-la e vingar a morte de seus irmãos.» ↩︎

  4. «O último passo do Nobre Caminho Óctuplo budista, geralmente traduzido como “Concentração Correta”.» ↩︎

  5. «Leia também Thelema e as Projeções Psicológicas de Phyllis Seckler (Soror Meral).» ↩︎

  6. «Self-destruction no original, destruição do Self. Uma possível referência aos Self conforme mencionado nos parágrafos anteriores, não um sentimento suicida.» ↩︎

  7. «Magick no original. » ↩︎


Traduzido por Alan Willms

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