51. (…) Também, tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre para me.
52. Se isto não for correto; se confundis as marcas do espaço, dizendo: Elas são uma; ou dizendo, Elas são muitas; se o ritual não for sempre para me: então esperai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!
Um risco mais sutil e igualmente venenoso é a facilidade com que nossos contemporâneos se conformam em deixar de lado a experiência em primeira mão em troca de mera racionalização. Uma vez que alguém possa ler, racionalizar e discutir esses arcanos, ele pode facilmente se tornar parte da multidão que discursa e escreve sem nunca partilhar da experiência real. O tempo que se gasta racionalizando alguma coisa é o mesmo tempo gasto para não fazer nada.
Seja por design ou por uma grande coincidência cósmica, existe em tudo quanto vive uma força inercial cuja natureza é a perpetuação da vida através da renovação. Essa energia é conhecida por vários nomes, dentre eles Ki, Chi, Prana, entre outros. Nesse ensaio, opto por me referir a ela como Energia Libidinal.
A função primária de qualquer organismo é permanecer vivo por tempo suficiente para que possa se reproduzir. Se você está lendo esse texto, é porque houve uma cadeia ininterrupta de reprodução desde o primeiro organismo do planeta até você. Caso escolha não se reproduzir, será o primeiro a fazê-lo em uma linhagem com a idade aproximada de 3,5 bilhões de anos.
Magia Sexual trata da teoria e prática através da qual um indivíduo entra em contato com essa força criativa a fim de utilizá-la para objetivos que vão além da mera procriação e prazer físico. Exemplos de seu uso são a manutenção da saúde e longevidade do corpo e da mente, dissolução de complexos psicológicos, consecução de estados alterados de consciência e experiências espirituais e/ou religiosas.
Está presente nas mais variadas culturas em diversas roupagens. Exemplos de tradições em que a encontramos são: Tantra, Taoismo, Gnosticismo e Mistérios Eleusianos, entre outros.
Na A∴A∴ é de particular interesse à partir do grau de Zelator, quando o aspirante começa a se familiarizar com a fórmula da Rosa Cruz.
Você provavelmente já leu e ouviu até a exaustão sobre como ao longo de nossa história o ser humano tem divinizado o sol. Uma lista completa das divindades que representem os aspectos solares mais comuns já seria quase impossível de se produzir, quanto mais uma que contemplasse também a visão humana de sua jornada de morte e ressurreição.
O Sol de fato é o doador de vida com relação ao nosso planetinha que, para princípio de conversa, foi originado de uma ejeção de matéria solar. Não apenas a gênese da Terra é solar, como quase todos os organismos dependem do Sol em sua cadeia alimentar. Também é evidente o papel do Sol na roda das estações, o que suponho ter pesado para que nossos antepassados somassem ao papel de doador de vida os papeis de destruidor e redentor.
Tem sido dito nos textos tradicionais que, da mesma forma que o Sol representa essa dinâmica no macrocosmo, o Phallus o faz no microcosmo. Muitos Irmãos do passado — e alguns do presente! — parecem acreditar que Phallus no contexto mágico se referiria necessariamente ao pênis, o que pode ser compreensível num contexto histórico, mas à luz da ciência moderna não se sustenta.
Para todos os efeitos, me parece muito mais coerente eleger a energia libidinal como contraparte microcósmica do Sol — essa sim doadora, destruidora e redentora da vida no nível microcósmico.
Nunca encontrei provas de que um dos sexos biológicos favoreça o quanto um indivíduo pode vir a produzir energia libidinal, ou quão bem pode direcionar tal energia para finalidade mágica. Afirmar que o pênis seja o Phallus e, por consequência, que seja o Sol microcósmico, só tem valor enquanto tal dinâmica favoreça o psicodrama dos indivíduos envolvidos.
Por fim, defendo que a energia libidinal é o verdadeiro Sol microcósmico. Ao ler “Phallus” em um texto sobre magia sexual, a interpretação mais útil quase sempre é “energia libidinal” ao invés de “pênis”. Não acho possível a manutenção do ponto de vista “peniscentrista” sem recorrer à suposta autoridade e infalibilidade de Irmãos do passado, principalmente quando parte do nosso lema é “o método da ciência”.
Não pretendo, no entanto, negar o óbvio: Sexos biológicos são, em sua esmagadora maioria, diferentemente aparelhados. Enquanto o homem saudável é capaz de reprodução a qualquer tempo após sua maturidade sexual, a reprodução da mulher se regula em fases cíclicas com duração média de 28 dias — como as fases da Lua.
A principal finalidade do útero é a gestação e a estrutura hormonal de uma mulher biológica naturalmente lhe habilita para tal. Embora biologicamente ambos os sexos produzam a energia libidinal, a mulher tem uma inegável vantagem em manifestar tal energia na polaridade receptiva, mantenedora e nutriz da vida se comparada ao homem.
Conforme seu ciclo, a energia libidinal é mobilizada para a finalidade da reprodução, e no ápice desta fase deve haver a ovulação. O útero se torna mais maleável, devidamente revestido para fixação do embrião, as secreções vaginais se tornam mais abundantes e de maior viscosidade. Quando ocorre a ovulação, forma-se temporariamente o corpo lúteo, que produzirá hormônios, principalmente a Progesterona. Ali o corpo está biologicamente em seu ápice de fertilidade e, como deixo explicito no artigo sobre o Pantáculo, corpo e mente se influenciam mutuamente.
Quando não há fecundação em tempo hábil, ocorre a descamação do endométrio e o corpo “descarta” o óvulo e o corpo lúteo na menstruação. É o único momento em que de fato seria possível o óvulo estar presente em qualquer secreção liberada para fora do corpo. Além disso, é decretado pelo organismo que toda energia libidinal mobilizada para aquela finalidade específica volta a estar disponível e em superávit.
Entender as características fisiológicas e psicossexuais de cada etapa do ciclo, quais operações cada uma favorece e como lidar e tirar o máximo das flutuações cíclicas da energia libidinal é de suma importância aos praticantes de Magia Sexual — especialmente para nossas Irmãs.
Assim como o Phallus é a energia libidinal em seu aspecto solar, a Kteis é a mesma energia em seu aspecto lunar — a receptora, mantenedora e nutriz da vida. Em razão da forma como evoluiu nosso corpo animal, sua influência sobre a dinâmica hormonal e amadurecimento psicossexual diferenciado, existem afinidades de manifestação da energia libidinal em cada sexo. Por mais que um Irmão se dedique às obras da Taça, ele continua diferentemente aparelhado física e psicossexualmente, para dizer o mínimo.
Sim, exceções existem em todos os planos. É possível até mesmo acender a chama de uma vela usando água — se você se der ao trabalho de submeter a água a altíssima pressão e temperatura. É a partir do entendimento do quadro geral que se pode eventualmente entender as exceções, mas usar exceções para descrever o quadro geral vai além do objetivo deste artigo. Por fim, nas palavras de Crowley em nosso Liber XXVI:
Deve ser observado que em tudo isso tanto Deus quanto a Alma são macho ou fêmea conforme a conveniência requeira. Veja, para um curioso exemplo, o tratado místico chamado Bagh-i-Muattur.
A natureza da energia libidinal é essencialmente positiva, de fluxo constante desde que não haja bloqueios, com alta mobilidade, que ao se acumular gera tensão e ao ser liberada produz prazer. Ela não deve ser vista apenas como o desejo pelo prazer físico e quase sempre genital, mas como o impulso criador e expansivo que nos conduz à Luz, Vida, Amor e Liberdade.
Ao encontrar um bloqueio ao seu fluxo, ela busca o caminho de menor resistência. Em caso de bloqueio, isso limitará quanta energia chegará ao que esteja depois do bloqueio, causará refluxo aumentando a pressão na parte do sistema que precede o bloqueio e criará tensão.
O fluxo saudável da energia libidinal é aquele que acumula até o ponto ideal para satisfação da função em que se encontra, sem estagnação ou tensão excessivas. Considere como uma represa deve reter água até o volume ideal para que sua vazão seja capaz de girar a turbina de geradores hidrelétricos produzindo energia, e como tanto a incapacidade de reter água quanto a incapacidade de deixá-la verter gera inúmeras complicações. Outras analogias interessantes de se considerar são o balão de ar quente ou a caldeira de uma locomotiva.
Se um indivíduo com bloqueios ou fragilidades em seu sistema sofre um repentino influxo da energia libidinal, ele poderá sobrecarregar pontos anteriores ou até mesmo potencializar a própria causa do bloqueio, correndo o risco de danificar o sistema.
Quem assim se aventura, incorre em riscos como:
A manifestação mais básica da energia libidinal, seja em um humano ou numa bactéria unicelular, é o impulso de se nutrir. A reprodução gasta energia, e o novo organismo, ainda que já nascesse sexualmente maduro, teria de repor essa energia antes que uma nova reprodução pudesse ocorrer.
O primeiro instinto de um humano recém-nascido é se alimentar, e é através da alimentação que ele vem a se perceber um indivíduo diferenciado da mãe. A energia libidinal aqui se manifesta no que Freud chamou de Fase Oral no modelo de desenvolvimento psicossexual ou na função do Circuito de Biossobrevivência Oral no modelo dos Oito Circuitos de Consciência de Leary-Wilson.
Na dinâmica da alimentação nem sempre a nutrição é oferecida no momento da fome. A consciência obtém então uma vaga noção da existência de um mundo externo ao ente, que é de onde o alimento vem, e se existe algo que ele “não é”, supõe-se uma rudimentar percepção de “ser”. Esta é a pedra fundamental sobre a qual será construída a personalidade.
A partir dessa iniciação ao universo sensível, escolas diferentes teorizam o desenvolvimento da personalidade ao longo da migração da energia libidinal para novos processos. A esse respeito, sugiro estudar os modelos de Freud, Jung, Reich, Leary, etc.
Fica evidente que a energia libidinal antecede e é a mola precursora da personalidade. Minha experiência me faz crer, inclusive, que anteceda a existência orgânica, e vejo a caminhada do inorgânico para o orgânico — e posteriormente para além do orgânico — como resultado da atuação desta força. Isto explicaria perfeitamente como a energia libidinal possui conjugadas as características dos planos material, formativo, criativo e arquetípico.
Tendo a energia libidinal como mola precursora, a seleção natural fez o resto, e na medida em que fomos evoluindo, novas camadas foram se adicionando ao ser, novos níveis de consciência se tornaram possíveis e novas etapas do desenvolvimento psicossexual se tornaram parte da natureza humana.
Ao lidar com Magia Sexual, será útil um conjunto simbólico para representar tais potencialidades a fim de facilitar a interação com as ideias subjetivas que elas representam. O mais comum é o de sete Chakras e meu favorito é dos Oito Circuitos de Consciência de Leary-Wilson. Abaixo apresento ambos correlacionados conforme minha abstração e experiência pessoal.
Nunca encontrei evidência de que centros correlatos com as funções psíquicas existam fisicamente em uma posição específica do corpo. O que posso afirmar é que ancorar simbolicamente uma função a um ponto específico do corpo torna tal ponto eficaz para interagir com tal função.
O mesmo podemos dizer das atribuições simbólicas. Embora muito estudo e pesquisa já tenha sido empreendido em tentativas de associar os centros energéticos com os símbolos do esoterismo ocidental, não existe um encaixe perfeito, e o que segue é uma combinação da visão de Irmãos do passado e de minha experiência pessoal.
1 — Muladhara (Perineal)
É o receptáculo da energia libidinal, onde o potencial da mesma repousa adormecido “como uma serpente enrodilhada a ponto de saltar”. Ancora o indivíduo aos fenômenos materiais e está relacionado com o instinto de sobrevivência em sua forma mais primal, a fome.
2 — Svadhistana (Ventral)
É o receptáculo da energia que nutre o corpo, onde a energia libidinal se manifesta no impulso sexual e reprodutor.
3 — Manipura (Plexo solar)
É o ponto do sistema energético que, nas palavras de Crowley, “recebe as forças nervosas”. É onde a energia libidinal se manifesta no instinto de autopreservação, nos reflexos de “lutar ou fugir”.
4 — Anahatha (Cardíaco)
É o centro do sistema energético, assim como Tiphereth é o centro da Árvore da Vida. É responsável pelos instintos familiares, desejo de pertencimento e outras funções sociais. Recebe e governa as forças vitais ligadas ao sangue. Aqui a energia libidinal se manifesta nas funções interpessoais e sociais necessárias para um bom desempenho sócio-sexual e para a união do grupo.
5 — Vishuddha (Laríngeo)
É responsável pela necessidade de comunicação e governa o fluxo do prana recebido pela respiração. A energia libidinal se manifesta pela perpetuação das lendas, símbolos e conhecimentos úteis para a espécie em sua forma falada e escrita.
6 — Ajna (Terceiro Olho)
Governa o pensamento e a imaginação. A energia libidinal se manifesta na busca da inovação e autoconhecimento através da percepção dos processos inconscientes. É a conexão com o Plano Astral.
7 — Sahasrara (Coronário)
Governa o instinto religioso e de transcendência. Aqui a energia libidinal busca o retorno à fonte, mas não pelo caminho “pré individualidade”, e sim pelo “pós individualidade”.
O caminho da energia libidinal do início ao fim desses circuitos é plenamente descrito pela fórmula de LaShTaL, sobre a qual Crowley discursa longamente em Liber Reguli.
Embora o humano possua potencial para o desenvolvimento total de todos esses circuitos, é comum que em alguns indivíduos eles funcionem no mínimo necessário para manutenção da vida, e que estejam atrofiados pela falta de exercício de suas funções, congestionados em razão dos complexos psicológicos, medos e preconceitos, ou desregulados em razão de violência contra sua função natural.
A fim de exercitar estes centros e desobstruí-los para que a energia libidinal flua livremente nas práticas de Magia Sexual, sugiro a variação do Ritual do Pilar do Meio que dou no artigo sobre o Pantáculo, e Liber Reguli, sobre o qual proponho análise do Primeiro Gesto:
Que ele desenhe um círculo em volta de sua cabeça, bradando NUIT!
Que ele traga o Dedão verticalmente para baixo, e toque no Cakra Mūlādhāra, bradando HADIT!
Aqui o Sahasrara, Ajna e Muladhara são estimulados e formam um elo entre si conectando os centros superiores com os inferiores. A energia libidinal se torna disponível em suas duas polaridades: Inorgânico para orgânico no Muladhara e orgânico para além do orgânico no Sahasrara. Além disso, a ativação do Ajna, por sua conexão com o Astral, é de extremo valor para visualização da energia a ser manipulada.
Que ele, retraçando a linha, toque o centro de seu peito e brade RA-HOOR-KHUIT!
Aqui ele conecta o link “superior” e “inferior” com o centro, o Anahatha, que na maioria das tradições deve ser despertado antes do Svadhistana e Manipura. Uma razão que consigo pensar para tal tradição é simplesmente evitar uma exacerbação dos instintos sexual, territoriais e de combate antes da domesticação sócio-sexual.
Agora com o circuito devidamente fechado e ativado, iniciamos um direcionamento energético pelo pilar do meio, de cima para baixo a fim de evitar um despertar prematuro da energia libidinal.
No restante do Primeiro Gesto, como poderá ser notado, adicionam os chakras restantes ao circuito, sempre forçando a energia de cima para baixo.
Irmãos de algumas ordens notarão a gritante relação deste princípio com as iniciações de seus graus em que certos chakras são estimulados em uma ordem específica.
Se desejamos ser capazes de direcionar energia sexual para nossa Magick de Luz é importante que os operadores possuam:
A) Saúde física e mental que propiciem um potente e desimpedido fluxo de energia libidinal, do contrário não haverá energia a se direcionar;
B) Dharana desenvolvido o suficiente para não se distrair nos aspectos mais animais do sexo, nem permitir que qualquer ideia diversa do objetivo invada a mente durante a operação. Vide Liber CDXIV, capítulo III;
C) Um amadurecimento psicossexual em que se tenha superado os complexos e fantasias pré-genitais, a fim de que possa lidar com seus sentimentos sem ser sobrecarregado por estados mentais, emoções ou reatividade. Suscetibilidade à neurose e fixação nos níveis psicossexuais pré-genitais são indesejáveis.
Além disso, ambos os envolvidos devem nutrir uma legítima atração pelo outro e, mais que consentirem, devem desejar as investidas sexuais um do outro.
Lemos em “Emblemas e seu modo de uso”:
Ambos o Leão e a Águia devem ser robustos, em boa saúde (de modo geral; mas um Leão doente pode frequentemente curar a si mesmo), transbordantes de energia, magneticamente atraídos um pelo outro, e em absoluta harmonia de entendimento sobre o objetivo da operação.
(…)
Ali não deve haver preocupação com distrações; a corrente de pensamento deve fluir livremente e forçosamente na direção da consecução do Objetivo. E então “inflama-te em oração”.
A A∴A∴ oferece ferramentas para tal desenvolvimento de seus aspirantes através dos graus da Primeira Ordem, enquanto a O.T.O. o faz em seus graus de 0° a VII°. Vejo como vantajoso que mesmo membros de tais ordens façam terapia, o que auxiliará principalmente no item C, que é tão importante quanto os demais.
Justamente pela dificuldade de encontrar pessoas em tais condições, é comum a prática solitária e prática a dois em que um dos participantes desconheça completamente ou em parte o contexto mágico da relação. O ideal é que ambos estivessem plenamente conscientes e fossem igualmente capazes em magia e misticismo, contudo vivemos em um mundo onde o ideal e a realidade raramente coincidem.
Desde que o sexo é por si mesmo o ato mais sagrado possível a um humano, melhor é que um dos envolvidos faça “apenas sexo” do que ao estar consciente da operação, a corrompa por sua fraqueza. Como escrito no item X de Liber CDXIV, “É suficiente que o assistente seja formado por Natureza destacado para a tarefa física, robusto, vigoroso, desejoso, sensível, quente e saudável; carne, nervo e sangue sendo tesos, rápidos e vívidos, facilmente inflamáveis, e quase inextinguíveis.”
Por impotência sexual me refiro a pouca ou total ausência de libido direcionada ao ato sexual. Dos fatores fisiológicos, os principais são hormonais. Hormônios tais como Testosterona, Estrogênio, Oxitocina e Noradrenalina tem um efeito positivo na energia libidinal, enquanto Progesterona e Serotonina tem um efeito negativo.
Sendo tarefa complexa e inconveniente para a maioria micro gerenciar e modular o equilíbrio desses hormônios artificialmente, o melhor é manter o corpo e mente saudáveis e, para isso, as práticas relativas ao Pantáculo são muito úteis. Se mesmo com uma rotina saudável a impotência sexual persiste, então é aconselhável consultar um médico especialista.
Além disso, fatores psicossociais tais como falta de intimidade, privacidade, distração, preocupações e stress podem diminuir ou impossibilitar a potência sexual, e como lidar ou se adaptar a elas é questão interna de cada indivíduo, não existindo uma “receita de bolo” para resolvê-las.
Não é o fim do mundo que alguém desejoso do ato utilize algum estimulante para compensar um problema fisiológico, contando que exista o desejo. Mesmo em casos que um dos participantes — ou ainda pior, todos eles — seja capaz de participar sem estar desejoso do ato, isso constituiria uma violência contra a Vontade dos envolvidos.
Enquanto a potência sexual diz respeito à capacidade do indivíduo de sentir excitação suficiente para se envolver no ato, a potência orgástica se refere à capacidade do indivíduo de descarregar a energia libidinal de maneira completa e satisfatória na experiência do orgasmo. Não se trata de atingir o orgasmo, mas de fazê-lo por completo.
Potência orgástica, nas palavras de Wihelm Reich, se caracteriza na “capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo”.
O principal sinal de potência orgástica é o início dos movimentos involuntários, quando não é mais necessário que o indivíduo conscientemente realize os movimentos sexuais — na verdade, seria necessário aplicar esforço consciente para fazê-los cessar se assim quisesse. O prazer flui da região genital para o resto do corpo e de volta no que alguns indivíduos descrevem como “uma onda elétrica percorrendo a coluna”. Após tal orgasmo, segue-se um prazeroso langor físico e mental.
Quando um indivíduo com impotência orgástica atinge o orgasmo, esse ocorre ainda durante a fase de movimentos voluntários e é seguido por exaustão e frustração, além de sentimentos de desgosto, repulsa, indiferença e/ou agressividade direcionados ao parceiro ou a si mesmo. A energia libidinal não descarregada sofre refluxo fortalecendo os complexos pré-genitais, tornando o indivíduo cada vez mais dependente de fantasias pré-genitais — geralmente manifestas em jogos de dominação, submissão, sadismo e masoquismo a fim de obter excitação e gratificação sexual.
A respeito das fantasias pré-genitais, se divertir com qualquer uma delas não constitui problema em si, contando que permaneça como uma forma de temperar o sexo ao seu gosto. O indesejado é a dependência de tais jogos para a excitação, ou ainda pior, como condição essencial para atingir o orgasmo.
Parece existir uma correlação entre impotência orgástica e neurose, sendo estas codependentes. Eliminadas as neuroses, o indivíduo se torna capaz de dar e receber amor em todas as suas formas e a potência orgástica se instaura. Obtida potência sexual, a energia libidinal é gratificada e flui, cortando a fonte de energia da neurose que a partir de então, não se sustenta.
Em quase todas as técnicas, é esperado que ao menos um dos envolvidos mantenha todo seu foco na operação, e deverá ser capaz de controlar o fluxo energético, realizar invocação, evocação, devoção, entre outras técnicas mágicas. Por qualquer contaminação durante o processo de fermentação, o mosto de uvas que se tornaria o vinho da Eucaristia pode se tornar vinagre.
Existem também operações em que não se atinge o orgasmo genital, e nisso a concentração e autocontrole são essenciais. Naquelas em que o orgasmo deve acontecer, nem por um segundo o operador deve desviar sua atenção do objetivo até momento em que pela dissolução da consciência isso se torne impraticável, e tão logo renasça dessa pequena morte, sua vontade deve se manter fixa na operação sem vacilações até o fim.
Treinamento básico para tal concentração se inicia nas práticas de Liber O e Liber E, que após serem dominados, devem ser levados além por instruções mais avançadas e pela experiência e criatividade do praticante.
Uma prática comum da magia é a magnetização de veículos materiais. Se escolhe algo — como uma pedra, metal, substância, ou mesmo um ser vivo — cujas características estejam em harmonia com os objetivos da operação e forças a serem empregadas e, através de ritualística simbólica e/ou manipulação energética, o magista traz a tal força para seu alcance e a vincula ao veículo material. Desta maneira, se consagra um anel de prata com as energias lunares para fabricar um amuleto, vincula-se um familiar marcial à um carneiro macho, ou até mesmo se transforma um pãozinho de trigo no corpo de Deus.
Se tratando da energia libidinal, há dois veículos mais harmoniosos que quaisquer outros, pois carregam em si as afinidades com esta energia nos níveis arquetípicos, emocionais, racionais e materiais: O Sangue e o Elixir. Como dito em Magia Sem Lágrimas, “Nossa escola combina o vermelho do sangue e o dourado do Sol.”
Quando na história evolutiva dos mamíferos eles obtiveram o instinto rudimentar de que perder sangue é perder vida? É algo tão arraigado em nossa psique que indivíduos mais sensíveis desmaiam apenas em vê-lo, incapazes de lidar com as cargas emocionais que o mesmo traz. Sacrifícios de sangue tem sido utilizados em rituais por todo o globo, e raro é encontrar alguma cultura ou religião que não o tenha praticado literal ou simbolicamente.
Quanto ao Elixir, é mais comum ver menções ao seu uso pelos Alquimistas e os antigos Gnósticos — que pouco tem em comum com seus homônimos mais modernos — e sua fórmula sempre tem sido apresentada envolta em termos misteriosos a fim de que os não iniciados não o conhecessem e acabassem por profaná-lo.
Hoje em dia, não é difícil para alguém que entendeu a fórmula geral adivinhar o que seria tal Elixir: Sua versão equilibrada em polaridade é composta pelo sêmen e as secreções sexuais femininas, devidamente produzido durante um ato de magia sexual e imbuído da energia libidinal magnetizada conforme o objetivo da operação.
Enquanto o sangue simboliza “apenas” o veículo da vida, o Elixir também simboliza a reprodução e renovação da vida. Qualquer um dos veículos citados, após ser imbuído de energia libidinal em acordo com o objetivo, podem ser utilizados para encantar talismãs, amuletos, implementos mágicos, ou como um sacramento em que é consumido puro ou misturado com outros alimentos.
Na ausência de um parceiro, a contraparte sexual é obtida através de uma experiência psicodramática em que a relação acontece com um ente astral, idealmente a Deusa ou Deus mais apropriado à natureza da operação. Indivíduos que não se atraiam pelo sexo oposto utilizam variações conforme sua própria arte.
Há ainda a variação do Elixir conjugado com a tintura vermelha, e para tal conjunção, segue-se a orientação de Liber Al III:24:
O melhor sangue é da lua, mensal: então o sangue fresco de uma criança, ou pingando da hóstia do céu: então de inimigos: então do sacerdote ou dos adorantes: por último de alguma besta, não importa qual.
São respectivamente:
Claro que são inúmeras as objeções quanto a se utilizar tais veículos. Alguns preferem usar símbolos para eles, tal como o pão é símbolo para o Elixir e o vinho o é para o Sangue. Tais objeções devem ser estudadas, pois nas vacilações, atrações e repulsões poderão se revelar conhecimento sobre o indivíduo e trarão vantagem se puderem ser integradas. Seja como for, ao utilizar tais símbolos, é necessário que sejam magicamente transubstanciados para que na psique do magista, não sejam diferentes da coisa real.
Da primeira vez que li Crowley falando a respeito do Vampiro que tenta o Neófito me pareceu mera crendice, mas a experiência pessoal, orientar e conviver com Irmãos e Irmãs mostrou a narrativa como fato real e recorrente.
Me parece que ao longo do desenvolvimento psicossexual, certas experiências não conseguem se integrar e são relegadas ao inconsciente onde esperam uma oportunidade de se satisfazer. Quando o indivíduo se coloca em Juramento Mágico, passa por rituais, Iniciações, etc., isso parece energizar aquela parte do psiquismo que busca se resolver e se integrar à personalidade. Inconscientemente, o indivíduo busca e atrai para si alguém com as exatas características que possam trazer a Ordália à tona.
Os sinais podem ser sutis ou óbvios. Recentemente, em uma conversa pós sexo, uma parceira normalmente dócil e carinhosa pareceu ser tomada por um espírito e, fora de contexto, com feição severa e penetrante me acusou diretamente da exata fraqueza com a qual tenho lidado em meu grau. Um outro Irmão ouviu da boca da parceira no próprio ato sexual o que ela pretendia tomar dele à força. Em alguns casos mais sutis você se percebe cedendo a cada capricho, fazendo cada vez mais concessões, mesmo em coisas sobre as quais você sente violência contra a sua alma. O envolvimento com tal pessoa dispersa suas energias, e você acaba por realizar menos. O magnetismo sexual, no entanto, é sempre excelente.
Em quase todos os casos o outro em quem o Vampiro se manifesta é meramente um meio de matéria apropriado para que você possa ver refletidas ali suas próprias fraquezas. Mesmo nos raros casos em que o outro esteja conscientemente tentando te vampirizar, a única maneira dele fazê-lo é através de tais fraquezas. Como dizem nas lendas populares, “um vampiro não pode entrar em sua casa sem ser convidado”.
Mesmo que você se afaste da pessoa em quem o Vampiro se manifesta, ele surgirá em outra. Ainda que você se afaste da humanidade, ele aparecerá em seus sonhos. Os rituais como o do Pentagrama tem utilidade na medida em que equilibram o indivíduo tornando tais fraquezas menos exacerbadas, mas desde que o Vampiro existe dentro do próprio indivíduo, o circulo mágico não é eficaz por mais hermético que seja e serve apenas como paliativo.
A única maneira certa e eficaz é perceber tais complexos ao longo do processo de autoconhecimento, lidar com eles e integrá-los.
Depois dessas longas — e espero que gratificantes — preliminares, sigo com as técnicas propriamente ditas. O único uso reto destas técnicas é para conhecer sua Verdadeira Vontade através da gnose espiritual e realizá-la. Embora extremamente eficazes para satisfazer as paixões mais baixas, tal uso é magia negra — para a qual não faço qualquer objeção, contando que o usuário não se engane “velando seus vícios em palavras virtuosas.”
Crowley trouxe diversas elucidações sobre tal conceito em De Thaumaturgia de onde cito:
O adepto fará melhor em confiar no Livro da Lei, que constantemente incita à ação. Sob esta Luz, Até mesmo a ação precipitada é melhor do que nenhuma: então que o magista argumente que sua tolice é parte da ordem natural que funciona tão bem.
E citando Fr. Alion em Liber Misteria Macrocosmica:
Existe um método pelo qual Você não será capaz de obter qualquer percepção sobre este Mistério — e tal é se Você não fizer nada. Talvez seja um dos métodos mais indolores.
Idealmente os praticantes deveriam levar uma vida de pureza, nunca se permitindo violar sua castidade por pensamento, fala ou ação. Não falo aqui das ideias de castidade difundidas por religiões castradoras e moralismo, mas de apenas nos envolvermos em atos sexuais no cotidiano quando compelidos espontaneamente por nossa natureza. Cada vez que alguém pratica masturbação ou sexo por tédio, por automatismo do circuito de recompensas, para agradar ao parceiro, etc., ele profana seu próprio corpo, o templo do Espírito Santo.
Uma boa descrição de como deveria ocorrer um ato sexual é dada em Carta a um Casamento que cito abaixo:
Nunca faça “avanços”, ou permita-os. O ato deve ser uma insanidade espontânea a ambos os lados.
Desta forma, que o aspirante tome um Juramento de Castidade em que sua sexualidade deverá se alinhar a sua Natureza. Se tratando do aspecto solitário, não buscará material erótico para provocar excitação, não estimulará o corpo frio para que ele se excite, enfim, não buscará maneiras artificiais de se excitar sexualmente. No aspecto interpessoal, não se envolverá em contato físico a menos que o deseje e, definitivamente não forçará seu corpo e sua natureza só para agradar quem quer que seja.
Ao persistir nesta prática, a energia libidinal queimará todas as impurezas que tenham sido misturadas a ela, os neurotransmissores dos circuitos de recompensa recuperarão seu fino equilíbrio, e o aspirante se sentirá cheio de força e fogo, disposição e magnetismo animal. Seu corpo se mostrará pronto, excitado, transbordante de tesão. Então, que ele se entregue a insanidade do ato, sozinho ou com um adulto que consinta, ou melhor ainda, queira.
Caso esteja compartilhando o ato com outro ser humano, adore a energia libidinal de sua contraparte de todas as formas que desejarem até que este também se inflame, preferencialmente ao ponto que se perceba o início dos movimentos involuntários. Isso, inclusive, é útil para conciliar a espontaneidade do ato com a necessidade de satisfação do outro indivíduo.
Que se atinja então a fase dos movimentos involuntários e, então, volte sua consciência para a Divindade através de viva imaginação ou visão do espírito, oferecendo a erupção de energia libidinal como um fogo queimando em Seu sagrado altar. Talvez seja útil nesse momento se lembrar de alguma frase que represente a unidade do Divino com o humano no êxtase, como por exemplo, Liber Al I:13:
Eu estou sobre vós e em vós. Meu êxtase está no vosso. Minha alegria é ver vossa alegria.
Ou ainda do verso 53 do mesmo capítulo:
Isto regenerará o mundo, o pequeno mundo minha irmã, meu coração & minha língua, a quem Eu envio este beijo.
Que se persista nessa pureza, evitando violar tal Juramento, especialmente durante o planejamento de qualquer operação de magia sexual e nos dias que a antecedam.
Para esta prática, é indicação, vantagem e salvaguarda para o magista que:
a) Tenha seu corpo como um aliado ao invés de um opositor, para o que sugiro as práticas de Libri Exerctiorum ao menos até a seçao IV e Jugorum ao menos até a seçao II;
b) Tenha desenvolvido sua Visão do Espírito e controle do Fluxo Energético, para o que indico, Liber O e o Pilar do Meio, especialmente o que descrevo em O Pantáculo, até o ponto em que, ao direcionar sua atenção a um chakra, consiga sentir feedback tátil — um formigamento, calor ou pressão — emanando dele.
c) Tenha se familiarizado com a ativação voluntária do sistema nervoso simpático, para o que recomendo Liber HHH em sua seção SSS ou prática análoga.
d) Tenha ativado e estimulado os centros nervosos de cima para baixo, utilizando Pilar do Meio e/ou Primeiro Gesto de Liber Reguli.
Ao iniciar tais práticas, registre cuidadosamente tudo que ocorra durante elas, bem como no restante do dia e seus sonhos. Dê atenção especial aos processos não racionais, como suas sensações, emoções, instintos e intuições, especialmente quando estiver estacionado em algum centro nervoso. Busque compreender qual mensagem seu ser está tentando comunicar para que possa lidar com bloqueio.
Idealmente o Elixir não será derramado do corpo e, caso ocorra, o melhor é que seja reabsorvido.
Uma última recomendação é que não se inicie tais práticas a menos que exista total disposição e recursos internos e externos para prosseguir com ela até concluir a viagem por todos os centros nervosos. Abandonar a prática com avanços parciais pode exacerbar os centros mais baixos em detrimento dos mais altos causando desequilíbrio.
O aspecto sexual deste ritual tem sido tradicionalmente praticado por homem e mulher se tratando de sexo biológico. Ao menos um dos praticantes deverá:
a) Ter alguma experiência na execução simbólica — sem ato sexual literal — cuja fórmula é dada em Liber XXXVI.
b) Ser excelente em assunção de Formas-Deus, para o que é recomendado Liber O em sua seção III.
c) Estar familiarizado com a Forma-Deus que assumirá. Quase sempre o homem assume a forma de Seth ou Hadit, de cuja consciência pode se aproximar praticando Liber NV; a mulher assume a forma de Isis ou Nuit, de cuja consciência pode se aproximar praticando Liber HAD.
Existe também a recomendação de cuidar da nutrição do corpo em um nível ótimo para o desempenho sexual e ao mesmo tempo não estar cheio no momento do ato, o que poderia até mesmo atrapalhar na absorção do Elixir. Em Liber C a recomendação é de um jejum de sete horas, enquanto em Liber CDXIV recomenda uma refeição completa com ao menos três horas de antecedência ao ritual. O melhor é que cada um conhecendo seu corpo, descubra o momento ideal para si.
Realiza-se o Liber XXXVI até o ponto em que se lê:
Então que ele retorne ao Centro, e assim para O Centro de Tudo (fazendo a Rosa Cruz conforme ele pode saber como) dizendo: Ararita Ararita Ararita.
“Que ele retorne ao centro (…)” é a deixa para que o magista assuma a forma-deus de Set/Hadit e veja Isis/Nuit em seu par. Se seu par também souber como fazer, que assuma a forma-deus de Isis/Nuit e veja Seth/Hadit em ti.
“(…) e assim para O Centro de Tudo” é a deixa para que se percam em união apaixonada, sem dissolver as formas-deus em si ou no outro e, por sua arte, cheguem aos movimentos involuntários juntos, quando então deverão dizer em êxtase “Ararita Ararita Ararita”, idealmente se perdendo de suas individualidades e experimentando a dissolução no corpo de Nuit.
Ao retomar a consciência, ainda revestidos de suas formas-deus, o magista em sagrada reverência suga o Elixir de sua contraparte e compartilham o mesmo em um beijo. Caso a configuração dos genitais não permita essa perfeita mistura dos veículos materiais durante o ato, que se descubra uma forma conveniente aos envolvidos.
Alternativamente, utiliza-se o Elixir na receita dos Bolinhos de Luz ou para consagrá-los depois de prontos, ou ainda ainda misturado ao vinho.
O Elixir deve permanecer na boca enquanto cada um o visualiza incandescente como o Sol líquido, sendo absorvido gradualmente pelas mucosas da boca, se espalhando pelo corpo e o renovando por completo, linfa, medula e sangue. Depois de toda virtude ser absorvida do Elixir, caso algo tenha restado na boca, se ingere normalmente.
Que entrem então em transe e meditação.
Opcionalmente, podem concluir o script do Liber XXXVI se assim desejarem, embora ao meu ver, nenhuma palavra ou gesto é apropriado se tudo foi devidamente realizado, a não ser como marco para o retorno à consciência habitual.
É possível adaptar esse ritual para a prática solitária, onde seria necessário o praticante formular por sua vontade e arte mágica a divindade em forma astral e realizasse internamente a união apaixonada com a Deusa ou Deus, conforme suas inclinações durante a masturbação.
Na prática anterior, é curioso notar que não se dá o sinal de Isis Regozijante/Mater Triunphans, pois é feito o “sacrifício de uma criança” na consumação do Elixir.
Alternativamente, os magistas podem abrir mão do Elixir a fim de produzir uma consciência sob Vontade. Especula-se que avançados o suficiente, os magistas poderiam fazer encarnar até mesmo uma fagulha do fogo santo trazendo à terra um iluminado ou semi-deus — filho de humano e da Divindade, como se diz de Jesus, Hercules, Baco, etc. Este poderia ser gestado no útero da magista, ou atraído para o plano da matéria e vinculado a um corpo apropriado à natureza de sua Obra.
Na maioria das vezes não se busca uma criança literal. Ao invés disso, escolhe-se um meio de matéria para ancorar a consciência no plano material. A escolha de tal matéria deve estar em harmonia com a natureza da consciência que se atrairá. Pode ser algo simples como um anel ou sigilo, até algo mais elaborado como uma escultura.
É preparado com antecedência uma nota da função de tal consciência, especificando seu nome, o que ela deve fazer ou produzir, o que ela não pode fazer, de que ela deverá se alimentar, etc. Magistas tradicionais poderão gostar de adicionar símbolos em harmonia com a natureza, como os descritos em Liber 777.
Através de um ritual sexual como o Safira Estrela ou outro desenvolvido para o fim específico, no momento do orgasmo, os participantes direcionam sua energia para o receptáculo que receberá aquela consciência, vendo pela Visão do Espírito a tal consciência ser atraída desde o mundo arquetípico até aquela âncora de matéria e se vinculando a ela, para em seguida consagrarem o receptáculo com o Elixir.
Existem variações menos potente e equilibrada desse mesmo método em que se canaliza a força da energia libidinal durante o orgasmo para ativar um servidor, talismã, amuleto, etc. omitindo um ou mais elementos da fórmula, por exemplo sem empregar um ritual como o Safira Estrela, sem união com a Divindade e sem a formulação do Elixir, ainda que às vezes usando fluidos sexuais como veículo imbuído de energia libidinal.
Como disse anteriormente, no ciclo menstrual há um período em que a energia libidinal é mobilizada para preparar a mulher biológica para gestação. Quando a concepção não ocorre, temos um superávit de energia psicossexual ao dispor da mulher, que poderá utilizá-lo em obras mágicas. O veículo mais harmonioso com essa operação é o próprio sangue menstrual.
No item IX de Liber CDXIV Crowley alude que seja contraproducente e até perigoso utilizar o sangue assim que a menstruação ocorre, mas que se utilize apenas á partir do segundo dia, e evitando o último. Posso teorizar que no primeiro dia da menstruação, a mulher estará na crista da onda dos efeitos hormonais, em abstinência de progesterona em razão da perda do corpo lúteo, além das implicações psicossexuais da energia libidinal não gratificada no âmbito reprodutivo. Não vejo necessidade de cálculos cabalísticos ou astrológicos para desejarmos evitar tal momento mesmo a partir do segundo dia até que a mulher se sinta equilibrada psíquica e fisicamente.
A magista sozinha, sem o auxilio de qualquer contraparte, poderá direcionar sua energia libidinal ao chakra Svadhistana utilizando técnicas de controle energético tais como as descritas acima em “Ascensão da Energia Libidinal” com a finalidade de imbuir seu sangue menstrual com a energia libidinal, formulando então a tintura vermelha.
Também poderá com auxilio de um humano ou da Divindade utilizando o Safira Estrela ou ritual análogo, produzir o Elixir conjugado com a tintura vermelha.
Tanto a tintura quanto o Elixir conjugado podem ser utilizados da mesma maneira que o Elixir habitual, e muitos consideram a conjugação do Elixir e a tintura vermelha mais poderosa que o Elixir puro.
Adicionalmente, a magista pode optar por redirecionar a energia mobilizada no Svadhistana e reequilibrá-la a fim de obter força, disposição, juventude, entre outras finalidade. Rituais específicos para tais práticas devem ser elaborados por mulheres, preferencialmente Adeptas e Irmãs do Santo Graal, razão pela qual me calo a este respeito.
A principal menção sobre esta técnica é referida em nosso Liber Aleph em seu capítulo 175 intitulado “DE OCULO HOOR”, o Olho de Hórus. Nele, Crowley alude à conjunção anal comparada ao coito heterosexual, dando os seguintes apontamentos:
a) Enquanto o sexo e a psicossexualidade envolvida no coito heterosexual tem sua raiz na necessidade da reprodução, contendo nestes uma “necessidade a ser sanada”, o coito anal não teria tais necessidades, oferecendo uma via equilibrada e completa para as operações mágicas.
b) Que enquanto coisas desiguais produzem em sua conjunção coisas estáveis e equilibradas e resistentes à mudança, coisas semelhantes aumentam mutuamente o potencial das naturezas particulares uma da outra.
Por “coisas semelhantes” podemos imaginar que ao menos no tocante ao a suposta vantagem do item b), se refere ao sexo anal homossexual.
Da boca da ciência, o único parecer relacionado é que de fato as mucosas anais são extremamente absorventes — razão pela qual se administram supositórios — e que assim como as gônadas, o reto também está conectado ao gânglio mesentério inferior, ou seja, o reto se conecta ao sistema nervoso simpático no mesmo ponto ao longo da coluna que as gônadas. O tal “ponto na coluna” em que a conexão ocorre é tradicionalmente atribuído ao chakra Svadhistana. Já de um ponto de vista psicanalítico, o anus está relacionado com a segunda fase do desenvolvimento psicossexual.
Por mais estranho que pareça, além da penetração anal com a produção do Elixir durante o ato, seja entre “semelhantes” ou “desiguais”, ainda existe a possibilidade de usar a via anal para administração in-vitro do Elixir produzido das maneiras habituais a fim de se beneficiar da absorção especialmente eficaz das mucosas do reto.
Muitos contemporâneos provavelmente torcerão o nariz para essas teorias, mas lembro-lhes de que há poucas décadas atrás, se torceria o nariz para todo esse texto, e até mesmo para alguns mais inocentes, razão pela qual nossos Irmãos do passado ocultaram suas pesquisas e conhecimento de forma tão críptica.
A maioria dos humanos atravessam a vida sem se dar conta do papel da energia libidinal no desenvolvimento de sua personalidade e sua vida. Vivem como joguetes de seus impulsos, sofrendo a influência da repressão, medos e preconceitos relativos às dinâmicas dela advindas.
Eu sou a flama que queima em todo coração de homem, e no âmago de toda estrela. Eu sou Vida, e o doador de Vida, no entanto por isto conhecer-me é conhecer a morte. — Liber Al II:6
Sim, na prática da Magia Sexual é dado o êxtase, a consciência da continuidade da existência e da onipresença do corpo de Nuit. É possível experimentar a pequena morte que tanto dizem ser como os franceses se referem ao orgasmo. É a comunhão do humano com o divino, é a missa do Espírito Santo, é a renovação do mundo pelo fogo.
Um curso de leitura recomendado sobre os temas são os libri:
Informações adicionais podem ser obtidas espalhadas aqui e ali em nos libri CCCXXXIII (Livro das Mentiras), CXI (Aleph) e IV (ABA), e certamente estão presentes nos livros sagrados de Thelema em linguagem poética.
Nas palavras de Crowley, alguns poderão dizer que eu estou dando fósforos para que as crianças brinquem, e assim como ele, creio que as crianças já estejam munidas de fósforos. Minha esperança é que este material seja útil em orientar no uso consciente, seguro e eficaz dos mesmos.
Por fim, agradeço o estímulo e empenho provido por todos os Frati e Sorores que acompanharam a criação deste artigo, em especial Sorores BETh, Infinitae Lucis, Strix, e Frater Aur Ain que através de seus apontamentos me mantiveram no caminho certo.
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