Eu olhei mas não vi. Li o Juramento e não entendi. Me disseram mas eu não pude compreender. Em Uma Estrela à Vista lemos sobre o Probacionista que “Seu principal trabalho é começar tais práticas que ele possa preferir, e escrever um registro cuidadoso das mesmas por um ano.” Li isso e entendi “faça as práticas que preferir e escreva no diário sobre as práticas” — Quem nunca? — e meu diário, salvo raras exceções se resumia a “Tal dia, hora tal, fiz a prática X que resultou em y”. Segue uma página do início de minha Probacão:
Se você não é um iniciante e seu diário ainda se parece com isso, talvez seja bom rever seus conceitos.
Não me proponho a ensinar como escrever um bom diário, por que Fr. zG já o fez magistralmente em “A evolução da escrita no Diário Mágico”, que hoje eu envio para todos aqueles que se tornam Probacionistas sob minha instrução. Também não vou falar sobre o que seriam “Tais práticas do Iluminismo Científico” pois Fr. S.P.E. estruturou um excelente argumento a respeito do assunto em “Notas Sobre a Probação” que certamente trará um ponto de vista valioso sobre o assunto sobre o qual cada um pode desenvolver suas impressões. Quanto a literatura do grau, Fr. Ad Astra ataca novamente dando o material quase todo aqui numa bandeja de prata.
O que proponho é que o Probacionista tente submeter tudo quanto faça e perceba durante a Probação ao serviço de sua Grande Obra tal qual definida por seu Juramento. A página acima usada apenas para contabilizar a quantidade e frequência das minhas falhas dizia muito menos sobre minha Natureza e Poderes, do que por exemplo o último registro daquela mesma página:
A prática escolhida, as expectativas a respeito da prática, a frustração, raiva, impulso de transferir a culpa, reprimir os impulsos… A observação dessas inclinações e reações coadunam muito mais com a realização da Grande Obra do Probacionista do que a mera lista de falhas na prática escolhida, que quando muito mostra alguma disciplina.
Os termos mais vagos da sentença que define a Grande Obra do Probacionista são “conhecimento científico”, “natureza”, “poderes” e “meu próprio ser”. Existem ótimas razões para serem assim tão vagos: Se um desses termos fosse definido, isso cercearia do Probacionista as possibilidades de desenvolver significado para essas coisas de acordo com sua vivência da Probação. Além disso, nenhuma dessas coisas poderão ser abordadas de maneira isolada, e geralmente são definidas umas pelas outras intercambiavelmente e de acordo com o universo de cada indivíduo.
Muito melhor do que buscar uma definição final — mesmo por que não há — para qualquer um desses termos, é que cada um medite a respeito cruzando hipóteses com aquilo que ele vivencia. Darei alguns pontos de vista sobre elas, mas insisto que cada um deve refletir sobre o Juramento por suas próprias capacidade e vivência. Buscar uma resposta de gabarito não vai te levar a lugar algum.
Em contraponto às opiniões e achismos, conhecimento científico trata daquele conhecimento obtido através da análise de fatos comprováveis. Uma prova pode ser meramente do tipo legal, do tipo lógico ou argumentativo, uma prova das ciências leves como a Psicologia, ou das ciências pesadas como a Física ou a Matemática.
Conhecimento científico do seu local de nascimento pode ser suficientemente adquirido com a prova legal da sua certidão de nascimento, e pode ser comprovada ou contestada pelo testemunho dos seus familiares. Conhecimento científico de que você possui uma psicopatologia requereria um manual de diagnóstico como o DSM-5, preferencialmente operado por alguém qualificado e imparcial.
A principal ferramenta da qual o Probacionista dispõe para obter conhecimento científico sobre si mesmo é seu diário. A memória de modo geral não é confiável: Dados dos acontecimentos passados são perdidos e distorcidos facilmente mesmo por uma memória bem treinada. A percepção imediata dos fatos é enviesada por diversos fatores materiais e emocionais, por influências internas e externas. Recorremos portanto ao registro preciso dos fatos para mais tarde submetê-los à análise.
O diário quando bem utilizado permite ao Probacionista verificar situações ocorridas no seu passado, e perceber ali suas inclinações, reações, habilidades, relação com o mundo, etc. Nisso a precisão será sua aliada. Vamos comparar dois registros abaixo:
Briguei com minha namorada por causa de besteira. Mais tarde nos reconciliamos e foi top.
O Probacionista que faz tal registro pode imaginar que mais tarde, ao ler esse mesmo registro, vai se lembrar de tudo o que aconteceu. Isso é altamente improvável não apenas pela efemeridade da memória, mas também por que ao empregar esses termos guarda-chuva como “besteira” e “top” ele deu uma licença ao cérebro para não pensar, e não se aprofundou em entender o ocorrido. Muito melhor seria que tivesse registrado algo como:
Discutindo com minha namorada sobre política, ela expôs um argumento para o qual eu não tinha resposta. Para encobrir isso que para mim parecia uma fraqueza intelectual, respondi com ironia. Ela apontou que eu estava sendo irônico por falta de argumentos assim como meu pai faz, e isso me ofendeu por que abomino esse comportamento dele. Fiquei me sentindo culpado e com a sensação física de um nó na garganta. Mais tarde admiti meu meu erro e me desculpei com ela, que prontamente me desculpou. Isso aliviou imediatamente o mal estar físico.
Talvez seja pedir demais que uma pessoa em meio a uma forte reação emocional escreva com tanta clareza, mas podemos apontar duas coisas: Primeiramente, que mesmo apenas tentar fazê-lo ajudará quem escreve a perceber, naquele mesmo momento, os mecanismos que estão em ação. A_judará mais ainda quando mais tarde ele puder ler um relato tão preciso quanto possível do que ocorreu._ Em segundo lugar, que tentar evitar os termos guarda-chuva do primeiro modelo ao invés de aplicá-los sem pensar produzirá uma ampliação da consciência e um registro muito mais útil para o estudo de si mesmo.
Tentar definir natureza é problemático. Do latim natura, diz respeito a personificação do princípio criador, a essência das coisas — ou seja, o conjunto de características que diferencia o que é algo ou alguém daquilo que não é.
Já flertei com a ideia de definir “natureza” como as propriedades e disposições inerentes a algo, tendo essas propriedades e disposições surgido junto com tal ente, ou seja, por nascimento. Se você também flerta com essa ideia, pergunte-se se de fato a natureza não pode ser adquirida. Um punhado de carbono não tem “dureza” como parte de suas propriedades, mas nele estão contidas as condições necessárias para que, ao ser exposto à pressão e calor, se transforme em um diamante. Essa transformação ocorreu em conformidade com sua natureza, e agora não seria tão estranho afirmar que a dureza é parte da natureza daquele amontoado de carbono, agora organizado em sua forma alotrópica.
Também já defini natureza como “a disposição para a qual alguma coisa se move sem esforço ou dificuldade, independente dessa fluidez harmoniosa ser por nascimento, adaptação ou condicionamento”. Aqui a natureza de um indivíduo não seria algo escrito na pedra, mas que se transformaria conforme o indivíduo se transforma.
De todos os termos, esse em particular é um dos que fará mais sentido se observado em conjunto com os demais componentes desta equação.
Podemos definir “poderes” como as capacidades inerentes ao indivíduo de realizar algo, sejam elas inatas ou adquiridas. Poderes inatos dizem respeito àqueles recebidos por destino herdado: Herança genética, a época em que se nasce, estrutura familiar, posição geográfica, etc. Os poderes adquiridos dizem respeito àquilo que intencionalmente ou não se tornou parte do arsenal que possibilita ao indivíduo interagir com o mundo, como os idiomas nos quais se comunica, especializações atléticas do corpo, capacidades intelectuais ou artísticas, influência social, etc.
Os poderes não são limitados pelo nascimento, embora seja inegável que certos destinos herdados — como nascer em uma família próspera e equilibrada, ou com uma genética privilegiada — poderá influenciar dramaticamente os poderes dos quais a pessoa irá dispor. Como lemos em Liber Librae “Um homem é o que ele faz de si mesmo dentro dos limites fixados pelo seu destino herdado; ele é uma parte da humanidade; suas ações afetam não só o que ele chama de si mesmo, mas também todo o universo.”
Sejam quais forem as causas, é natural que em um determinado momento da vida de um indivíduo ele se perceba especialmente apto em algo. Pode ser que um indivíduo seja excelente pintor, outro se comunica em vários idiomas, um terceiro é capaz de sobreviver na selva, etc.
Diferente da natureza que nessa interpretação é como a matéria prima que nos é dada para trabalhar com ela, os poderes são como a forma que aquela matéria prima é capaz de se expressar. Alterar a natureza de um indivíduo, se é que é possível, causaria bastante resistência e provavelmente transformaria o indivíduo em algo diferente de sua identidade anterior. Quanto aos poderes, é possível desenvolvê-los até certa extensão com mais ou menos facilidade dependendo do que é inato no indivíduo, bastando para isso alguma disciplina e tempo.
Por mais que desde a infância eu me dedicasse a correr os 100 metros rasos, seria improvável me tornar um velocista capaz de oferecer desafio a alguém que se dedicou tanto quanto, e que por sua genética desenvolveu predominância de fibras musculares de contração rápida — que eu não possuo — sem nenhum prejuízo para os outros conjuntos motores dos quais a corrida depende. Claro, isso não seria um impedimento para que eu praticasse, aperfeiçoasse e sentisse prazer em praticar 100 metros rasos.
“Meu próprio ser” pode se referir a combinação de tudo aquilo que você é por destino herdado - ou seja, um humano com determinada herança genética, nascido em uma determinada posição geográfica, época, condições sociais, etc — somado a tudo aquilo que foi adquirido ou desenvolvido ao longo da vida, que somadas te distinguem como indivíduo. Uma combinação de “natureza” e “poderes”.
O conhecimento que se busca a respeito da natureza e dos poderes não se refere a aquilo próprio a humanidade de modo geral, e sim do seu próprio ser, por isso respostas genéricas como “minha natureza é sobreviver e reproduzir”, ou “meus poderes são os quatro elementos” não bastam. Certamente que essas coisas fazem parte do seu ser, mas são mais ou menos idênticas para o resto do mundo. A natureza genérica da maioria dos humanos bem como dos animais irracionais é comer, dormir e reproduzir. Generalismo não leve muito longe.
É interessante que através do conhecimento científico, se perceba onde é que natureza e poderes se interseccionam para delimitar as características que separam seu próprio ser do que é comum ao resto.
Na redação do Juramento há uma série de assuntos secundários que despertarão a curiosidade dos Probacionistas mais atentos. O desenvolvimento destes assuntos acabam por convergir ao cumprimento do Juramento, trazendo profundidade e amplitude para a tarefa central, aumentando a qualidade com que esta será cumprida.
É possível que seu Instrutor lhe permita avançar com o suficiente, mas se algo ficar para trás — e quase sempre fica — s_erá necessário que nos trabalhos futuros o aspirante volte a considerar assuntos elementares da Probação._ E não há mal nenhum nisso. Sugiro que concomitante ao objeto central do Juramento, você reflita sobre:
No outro lado do Juramento, temos a Tarefa com a qual o Probacionista se compromete simultaneamente ao Juramento, tudo claramente explicito em Liber Collegii Sancti. A respeito dela gostaria de dissecar alguns pontos:
0. Que qualquer pessoa seja recebida por um Neófito, estando este subordinado a seu Zelator.
Qualquer pessoa pode ser recebida como Probacionista por um Neófito, mas este deve estar subordinado ao seu Zelator, ou ele próprio ser um Zelator ou superior.
A autonomia de trabalhar para a A∴A∴ por sua própria responsabilidade só surge com o grau de Zelator como podemos verificar pelos Juramentos. No item 5 dos Juramentos/Tarefa de Probacionista, Neófito e Zelator, está definido o seguinte:
1. O período de Probação deverá ser de pelo menos um ano.
Embora esse “número mágico” contemple uma translação completa da terra em torno do Sol, não vejo por que se preocupar com o que é apenas uma medida de tempo, e não de maturidade. Alguns instrutores ainda optam pelo envio do diário todo de uma vez ao final do ano, ou aos onze meses de probação, e para eles talvez o relógio importe um pouco mais. Via de regra, leve o tempo que for necessário, mas lembre-se que a vida é muito curta para procrastinar com o Juramento de Probacionista. Quanto tempo um bolo demora para assar? Há estimativas, mas no fim das contas o que importa é se ele está assado ou não. Ninguém quer bolo cru nem queimado.
2. O aspirante à A∴A∴ deverá ouvir a Lição (Liber LXI) e esta nota de sua função; SE ELE QUISER, deverá então adquirir o robe de um Probacionista; deverá escolher com profunda premeditação e intensa solenidade um mote.
Aqui o Probacionista além da lição de história da A∴A∴, deverá ouvir cada um dos itens dessa tarefa, para que mesmo que não os entenda, saiba que existem e os perceba como objetos de seu universo. Um ponto ou outro poderá chamar sua atenção. O robe embora opcional, é um símbolo externo daquela disposição interna de sua alma e uma de suas finalidades é sintonizar o aspirante com os trabalhos dos quais é símbolo. Sobre o robe sugiro ler o que Fr. Alion escreveu a um Probacionista. A escolha do mote mágico representa a compreensão da Grande Obra naquele momento em que o aspirante se encontra, mesmo o pouco que ele compreenda dela. Aqui há uma lista de motes de alguns Irmãos famosos do passado.
3. Na admissão ele deverá receber o robe, assinar o formulário fornecido e repetir o juramento conforme designado, e receber o Primeiro Volume do Livro.
O “Primeiro Volume do Livro” era composto dos Libri LXI sobre o qual há instrução no item 2 acima e LXV sobre o qual falaremos no item 4 abaixo.
4. Ele deverá memorizar um capítulo de Liber LXV;(…)
Alguns Irmãos defendem que “decorar” tem a conotação de guardar no coração pela etimologia da expressão em Latim. No idioma inglês existe a expressão “learn by heart” quanto a memorizar, aprender de coração, que coaduna com essa interpretação. No entanto, em Liber Colegii Sancti no idioma original, lemos “He shall commit a chapter of Liber LXV to memory”, clarificando qualquer confusão entre heart (coração) e memory (memória). Sim, é mais importante tê-lo no coração do que meramente repetir como um papagaio, mas melhor ainda é ter ambos!
Liber LXV trata da relação entre o adepto e seu Sagrado Anjo Guardião. Ao memorizar, sua mente traçará profundas correlações entre texto, imagem, narrativa e símbolos, que passarão a fazer parte do conjunto simbólico do Probacionista. O que não querer memorizá-lo, ou se considerar incapaz disso diz sobre si mesmo? Se não puder realizar nem isso, como realizará o resto?
Para facilitar a vida dos Irmãos que achem mais fácil e/ou prático memorizar ouvindo um audio, disponibilizei o liber LXV em audio aqui.
(…) e além disso, ele deverá estudar as Publicações da A∴A∴ em Classe B, e aplicar-se a tais práticas do Iluminismo Científico conforme parecer-lhe agradável.
Em alguns casos o Instrutor direcionará o aspirante a escolher uma prática (quase sempre uma dos Libri em Classe B), mas pode ser que aceite até mesmo algo não relacionado com a Ordem, ou sequer relacionado com magia/misticismo. Nessa tarefa o Probacionista deverá se empenhar por toda Probação, demonstrando reverência, dever, simpatia, devoção, assiduidade e confiança.
Em outros casos, o Probacionista ficará livre para escolher quando e o que fará — como informado na letra fria desse item da Tarefa. Alguns Instrutores escolhem uma ou outra abordagem por questão de tradição, baseado no que lhes foi passado em suas próprias Probações.
Minha sugestão é que — pelos motivos expostos nos item 0 — cada Neófito conduza sua instrução de acordo com o conselho de seu Zelator, e que caso ele próprio seja um Zelator, escolha por sua intuição e experiência qual ferramenta é mais apropriada para aquele momento e indivíduo em particular, e se perceba livre para alterar a abordagem conforme apropriado.
5. Além de tudo isso, ele deverá realizar quaisquer tarefas que a A∴A∴ possa considerar adequadas a confiá-lo. Que ele esteja atento de que a palavra Probacionista não é um termo em vão, mas que os Irmãos irão prová-lo de muitas maneiras sutis, quando ele menos esperar.
Não apenas através de Irmãos, as Ordálias — sobre as quais escrevi um pouco neste artigo — começarão a se tornar aparentes na vida do Probacionista sincero, e diante delas nada é melhor remédio do que coragem e fidelidade ao Juramento. Nisso ele começará a tangenciar os Poderes da Esfinge, principalmente através do Voto de Santa Obediência, sobre o qual pode-se ler em neste artigo sobre o referido tema.
6. Na próxima vez em que o sol deverá entrar no signo em que ele foi recebido, sua iniciação pode ser concedida a ele. Ele deverá manter-se livre de todos os outros compromissos por uma semana inteira a partir daquela data.
Sobre as medidas de tempo, já discorri no item 1. Quanto aos sete dias, e_mbora o desejável fosse que ele estivesse livre de quaisquer compromissos,_ sabemos o quanto isso é difícil nos dias de hoje, e nos adaptamos as necessidades do indivíduo real e no mundo real no qual trabalhamos. Seja como for, será necessário tempo para se organizar, e então no mínimo uma hora livre por dia durante sete dias consecutivos para que se cumpra o que é necessário.
7. Ele pode a qualquer momento retirar-se de sua associação com a A∴A∴ simplesmente notificando o Neófito que o introduziu.
Simples assim, e sem mais! Me parece altamente improvável que alguém que tomou o Juramento com seriedade e reflexão seja capaz de se afastar. E se você tomou o Juramento sem seriedade ou reflexão, ele pouco vale.
8. Ele deverá proclamar abertamente em todos os lugares a sua conexão com a A∴A∴ e falar Dela e de Seus princípios (mesmo o pouco que compreenda) pois o mistério é o inimigo da verdade.(…)
Novamente a questão da devoção, mas a respeito do “falar abertamente” sugiro ler o que Fr. Alion diz aqui. Reflita sobre o seguinte: É possível falar de sua conexão com a A∴A∴ sem mencionar a Ordem ou sequer tocar no assunto da magia e do misticismo? Sua forma de navegar a existência pode ser um testemunho vivo da Ordem melhor que mil discursos.
(…) Um mês antes da compleição de seu ano, ele deverá entregar uma cópia do seu Registro ao Neófito que o introduziu, e repetir a ele seu capítulo escolhido de Liber LXV.
Em tempos em que a comunicação a distância era mais difícil, e encontros presenciais de quem mora longe do outro eram raros, entregar o diário todo de uma vez parecia o mais coerente. Hoje em dia as coisas mudaram. Eu mesmo solicito de meus Instruídos o diário quinzenalmente, pois assim posso fazer as devidas considerações e auxiliá-lo no uso eficiente do diário, evitando que no fim do ano seja entregue um trabalho mal feito. Isso fica a critério de cada Instrutor.
Quanto ao capítulo a se memorizar, peço que o instruído declame pessoalmente ou pelo meio de comunicação mais eficaz disponível. Isso também fica a critério de cada Instrutor.
9. Ele deverá se manter casto, e reverente para com o seu corpo, pois a ordália da iniciação não leve. Isso é de importância peculiar nos dois últimos meses de sua Probação.
O “corpo” que deve ser objeto de castidade e reverência não é apenas a máquina de carne e hormônios — sobre isso, consulte o artigo sobre o Pantáculo — mas o conjunto de todas as partes que compõe o próprio ser do indivíduo. Qualquer parte verdadeiramente dele — e descobrir o que constitui isso é parte do trabalho do grau — não deveria ser considerada impura ou indesejável, e muito menos ser abnegada. Como é dito em Liber XV, A Missa Gnóstica: Não há parte de mim que não seja dos Deuses.
O Voto de Castidade ensina a usar o Poder Mágico apenas para realizar a Grande Obra e está relacionado ao verbo Ousar. Para mais a esse respeito, recomendo a leitura deste artigo sobre os Poderes da Esfinge.
10. Assim e não de outra forma possa ele alcançar a grande recompensa, SIM, POSSA ELE ALCANÇAR A GRANDE RECOMPENSA!
É difícil falar sobre aquilo que se manifesta muito mais na prática do que na teoria, e de maneiras únicas para cada indivíduo. Tudo que foi dito acima pode elucidar algum ponto, mas se tomado como a única verdade pode engessar seu processo. Não deixe que isso aconteça. Finalizo com algumas dicas curtas que podem ajudar um Probacionista ou outro:
Seu diário não é para o seu Instrutor. Não é uma formalidade a ser cumprida. Seu diário é uma ferramenta sem a qual cumprir a Grande Obra do grau é quase impossível. Se você for displicente ou propositalmente enganoso no diário, estará contaminando a sua ferramenta, que será tão útil quanto um microscópio desregulado para o microbiologista.
É normal que exista um período inicial de empolgação em que tudo será lindo e maravilhoso, que em breve dará lugar a um sentimento de angustia, impotência, descrença e/ou a uma preguiça praticamente invencível. Após isso, a empolgação surgirá renovada, para em breve dar lugar ao marasmo novamente. Esses ciclos se repetirão e é improvável que você possa fazer algo para impedi-los. Tire o melhor de cada um deles. Faça com que trabalhem para a Grande Obra do grau.
Probação não é patente, não é medalha, não é “carteirada”. Grau nenhum é. O fato de você ser um Probacionista — ou portador de qualquer outro grau da Santa Ordem — só tem importância para você mesmo. O quanto você se dedicará só tem importância para você mesmo. Se você agir enganosamente, só estará enganando a si mesmo.
Seu Instrutor não pode te dar o que você quer. Ele deve lhe dar o que você precisa, ainda que seja a medicina de gosto amargo. Acredite, ele e os outros Irmãos mais experientes estão torcendo pelo seu sucesso!
Perguntas de Débora Chabes
P. Frater gostaria de saber se é prudente entender o juramento como a possibilidade de aprender a se autoconhecer?
R. Certamente que o trabalho diz respeito ao autoconhecimento, mas não devemos nos restringir apenas àquilo que consideramos “nós”, pois além das camadas inconscientes do eu, ainda existe a relação do um com o todo.
P. O grau de probacionista pode objetivar o desenvolvimento das potencialidades individuais?
R. Você estará livre para fazer o que desejar, inclusive desenvolver potencialidades individuais, mas recomendo que se pergunte “como isso me aproxima de cumprir o meu Juramento?” antes de tais empreitadas, e “o que aprendi sobre a natureza e poderes de meu próprio ser?” durante e depois delas.
P. O instrutor tem por objetivo auxiliar nesse aprendizado?
R. De certa forma. O Instrutor agirá como um espelho permitindo que o Instruído veja a si mesmo. Se o instruído vê ali um “mestre”, “professor”, “psicólogo”, etc. se deve a algum desajuste da visão ou do espelho. O que o espelho deveria refletir é o Anjo, por isso tem sido dito que o Instrutor “representa o SAG do Instruído”. Como o Instrutor fará isso, é critério e arte dele. Não existe receita de bolo. Ele não tem compromisso algum em dar o que o instruído quer, mas o que o instruído precisa, ainda que seja medicina amarga. Em suma, o papel do Instrutor é ser uma alma humana segurando um espelho para outra alma humana.
P. As ordálias podem ocorrer mesmo durante o período de estudante?
R. As ordálias acontecem para todos os humanos. A diferença é que a Probação sintoniza sua consciência de forma que agora irá percebê-las, e poderá lidar com elas.
Pergunta de Bruno
P. Por quê apenas a partir do grau de probacionista o aspirante pode esperar resultados nos rituais propostos e publicados pela A∴A∴?
R. Desconheço qualquer afirmação nesse sentido. Os rituais propostos pela A∴A∴ podem dar resultado mesmo para algum praticante sem quaisquer vínculos com a Ordem. Certos rituais dependem de habilidades que serão adquiridas através dos graus, mas nem isso é impedimento para que algum resultado possa surgir.
Se tem dúvidas com relação a A∴A∴ ou sugestão de temas sobre os quais gostaria que eu escrevesse, envie através do formulário abaixo. Caso não expresse claramente o nome pelo qual deseja ser citado, sua pergunta ou sugestão será publicada anonimamente. Tanto a pergunta quanto a resposta serão publicadas aqui (caso seja sobre o Estudante) ou em futuros artigos conforme o tema, para que possam ser úteis para outros no futuro.