Um Relato da A∴A∴

Um relato básico e sugestivo do trabalho da Ordem e sua relação com o homem médio.

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Um Relato da A∴A∴[1]

Primeiramente Escrito na Linguagem de sua Época pelo

Conselheiro Von Eckartshausen[2]

e Agora Revisado e Reescrito na Cifra Universal

sub figūrā XXXIII[3]

Publicação da A∴A∴ em Classe C

Imprimātur:

N. Fra. A∴A∴Prō Coll. Summ.
I.
V.V.
7=4
6=5
Prō Coll. Int.
I.
S.L.E.
L.L.L.
Præmonstrātor
Imperātor
Cancellārius
Prō Coll. Ext.

Uma pessoa trajando o robe de Dominus Liminis e fazendo o Sinal do Silêncio em meio a um portal egípcio

Um Relato da A∴A∴

[Os Revisores desejam agradecer com gratidão pela tradução da Madame de Steiger, que eles citaram livremente.]

É necessário, meus queridos irmãos, dar-lhes uma ideia clara da Ordem interior; daquela comunidade iluminada que está espalhada por todo o mundo, mas que é governada por uma verdade e unida em um espírito.

Essa comunidade possui uma Escola, na qual todos os que têm sede de conhecimento são instruídos pelo próprio Espírito da Sabedoria; e todos os mistérios da natureza são preservados nesta escola para os filhos da luz. O conhecimento perfeito da natureza e da humanidade é ensinado nesta escola. É dela que todas as verdades penetram no mundo; ela é a escola de todos os que buscam a sabedoria, e é só nessa comunidade que a verdade e a explicação de todos os mistérios são encontradas. É a mais oculta das comunidades, contudo contém membros de muitos círculos; nem existe qualquer Centro de Pensamento cuja atividade não seja devido à presença de um de nós mesmos. Desde sempre houve uma escola exterior baseada na interior, da qual ela é apenas a expressão externa. Desde sempre, portanto, houve uma assembleia oculta, uma sociedade dos Eleitos, daqueles que buscaram e tiveram capacidade para a luz, e essa sociedade interior era o Eixo da R.O.T.A. Tudo o que qualquer ordem externa possui em símbolo, cerimônia ou rito é a letra externamente expressa daquele espírito da verdade que habita no Santuário interior. Tampouco é a contradição da exterior qualquer barreira à harmonia da interior.

Por isso esse Santuário, composto por membros amplamente dispersos mas unidos pelos laços do amor perfeito, se ocupa desde os primeiros tempos em construir o grande Templo (através da evolução da humanidade) pelo qual o reino da L.V.X. se manifestará. Essa sociedade está na comunhão daqueles que têm maior capacidade para a luz; eles estão unidos em verdade, e o seu Chefe é a própria Luz do Mundo, V.V.V.V.V., o Ungido na Luz, o único professor para a raça humana, o Caminho, a Verdade e a Vida.

A Ordem interior foi formada imediatamente após a primeira percepção da herança mais ampla do homem ter surgido sobre o primeiro dos adeptos; ela recebeu dos Mestres em primeira mão a revelação dos meios pelos quais a humanidade poderia ser elevada aos seus direitos e libertada de sua miséria. Ela recebeu a carga primitiva de toda revelação e mistério; recebeu a chave da ciência verdadeira, tanto divina quanto natural.

Mas conforme os homens se multiplicavam, a fragilidade do homem exigiu uma sociedade exterior que velasse a interior e ocultasse o espírito e a verdade na letra, porque muitas pessoas não eram capazes de compreender a grande verdade interior. Portanto, as verdades interiores foram envoltas em cerimônias externas e perceptíveis, de modo que os homens, pela percepção da exterior, que é o símbolo da interior, pudessem gradualmente se tornar aptos a se aproximar das verdades espirituais interiores com segurança.

Mas a verdade interior sempre foi confiada a aquele que em seu dia teve a maior capacidade para a iluminação, e ele se tornou o único guardião do Encargo original, como Sumo Sacerdote do Santuário.

Quando se tornou necessário que as verdades interiores fossem envoltas em cerimônia e símbolo exteriores, devido à verdadeira fraqueza dos homens que não eram capazes de ouvir a Luz da Luz, começou o culto exterior. No entanto, era sempre o tipo ou símbolo do interior, ou seja, o símbolo do Sacramento verdadeiro e Secreto.

O culto externo nunca teria sido separado da revelação interior senão pela fraqueza do homem, que tende muito facilmente a esquecer o espírito na letra; mas os Mestres estão atentos ao notar em todas as nações aqueles que são capazes de receber luz, e essas pessoas são empregadas como agentes para espalhar a luz de acordo com a capacidade do homem e para revivificar a letra morta.

Por intermédio desses instrumentos, as verdades interiores do Santuário foram levadas a todas as nações e modificadas simbolicamente de acordo com seus costumes, capacidade de instrução, clima e receptividade. De modo que as formas externas de toda religião, culto, cerimônias e Livros Sagrados em geral tenham mais ou menos claramente, como seu objetivo de instrução, as verdades interiores do Santuário pelas quais o homem será conduzido ao conhecimento universal da Verdade Absoluta única.

Quanto mais o culto externo de um povo permaneceu unido com o espírito da verdade esotérica, mais pura é a sua religião; mas quanto maior é a diferença entre a letra simbólica e a verdade invisível, mais imperfeita tornou-se a religião. Por fim, pode ser que a forma externa tenha se separado completamente da sua verdade interior, restando somente observações cerimoniais sem alma ou vida.

No meio de tudo isso, a verdade repousa inviolável no Santuário interno.

Fiel ao espírito da verdade, os membros da Ordem interior vivem em silêncio, mas em verdadeira atividade.

No entanto, além do seu santo trabalho secreto, de tempos em tempos eles optaram por ação estratégica política.

Assim, quando a Terra foi quase totalmente corrompida por causa da Grande Feitiçaria, os Irmãos enviaram Maomé para trazer a liberdade à humanidade pela espada.

Tendo sido o sucesso apenas parcial, eles levantaram um Lutero para ensinar a liberdade de pensamento. No entanto, essa liberdade logo se transformou em uma escravidão mais pesada do que antes.

Então os Irmãos entregaram ao homem o conhecimento da natureza, e as suas chaves; contudo, isso também foi impedido pela Grande Feitiçaria.

Agora, finalmente, de maneiras anônimas, como um dos nossos Irmãos têm agora em mente declarar, eles trouxeram Alguém para entregar aos homens as chaves do Conhecimento Espiritual, e por Sua obra Ele será julgado.

Esta comunidade interior de luz é a reunião de todos aqueles capazes de receber luz, e é conhecida como a Comunhão dos Santos, o receptáculo primitivo de toda força e verdade confiadas a ela desde o princípio dos tempos.

Por meio dela, agentes da L.V.X. foram formados em todas as épocas, passando da interior para a exterior, e comunicando o espírito e a vida à letra morta, como já foi dito.

Esta comunidade iluminada é a verdadeira escola de L.V.X.; tem sua Presidência, seus Doutores; possui uma regra para estudantes; tem formas e objetos de estudo.

Também tem graus para o desenvolvimento sucessivo para altitudes mais elevadas.

Esta escola de sabedoria foi sempre escondida o mais secretamente do mundo, porque é invisível e submissa unicamente a governo iluminado.

Nunca foi exposta aos acidentes do tempo e à fraqueza do homem, porque apenas os mais aptos foram escolhidos para ela, e aqueles que selecionaram não cometeram nenhum erro.

Através desta escola foram desenvolvidos os gérmens de todas as ciências sublimes, as quais foram recebidas primeiramente pelas escolas externas, então vestidas em outras formas e, portanto, degeneradas.

De acordo com o tempo e as circunstâncias, a sociedade dos sábios comunicou às sociedades exteriores seus hieróglifos simbólicos a fim de atrair o homem às grandes verdades de seu Santuário.

Mas todas as sociedades exteriores subsistem somente em virtude da interior. Assim que as sociedades externas desejam transformar um templo da sabedoria em um edifício político, a sociedade interior se retira e deixa apenas a letra sem o espírito. É assim que as sociedades secretas externas de sabedoria não passaram de telas hieroglíficas, a verdade permanecendo inviolável no Santuário para que nunca seja profanada.

Nesta sociedade interior, o homem encontra a sabedoria e com ela Tudo – não a sabedoria deste mundo, que é apenas conhecimento científico que gira em torno do exterior mas nunca toca o centro (no qual está contida toda a força), mas a verdadeira sabedoria, compreensão e conhecimento, reflexos da iluminação suprema.

Todas as disputas, todas as controvérsias, todas as coisas pertencentes aos falsos cuidados deste mundo, discussões infrutíferas, gérmens inúteis de opiniões que espalham as sementes de desunião, todos os erros, cismas e sistemas são banidos. Nem a calúnia e nem o escândalo são conhecidos. Todo homem é honrado. Só o amor reina.

No entanto, não devemos imaginar que esta sociedade se assemelha a qualquer sociedade secreta, reunida em determinados momentos, escolhendo líderes e membros unidos por objetivos especiais. Todas as sociedades, sejam quais forem, podem buscar esse círculo iluminado interior. Esta sociedade não conhece nenhuma das formalidades que pertencem aos anéis externos, o trabalho do homem. Neste reino de poder cessam todas as formas externas.

L.V.X. é o Poder sempre presente. O maior homem de seu tempo, o próprio chefe, nem sempre conhece todos os membros, mas no momento em que é necessário que ele realize qualquer objetivo, ele com certeza os encontra de prontidão pelo mundo.

Esta comunidade não possui barreiras externas. Aquele que pode ser escolhido é como o primeiro; ele se apresenta aos outros sem presunção, e ele é recebido pelos outros sem ciúmes.

Se for necessário que os verdadeiros membros se encontrem juntos, eles se encontram e se reconhecem com perfeita certeza.

Nenhum disfarce pode ser usado, nem a hipocrisia nem a dissimulação podem esconder as qualidades características que distinguem os membros desta sociedade. Toda a ilusão desaparece, e as coisas aparecem em sua verdadeira forma.

Nenhum membro pode escolher outro; é necessária escolha unânime. Embora nem todos os homens sejam chamados, muitos dos chamados são escolhidos, e isso ocorre assim que se tornam aptos para a admissão.

Qualquer homem pode procurar a entrada, e qualquer homem que esteja dentro pode ensinar outro a procurá-la; mas só aquele que está apto pode chegar lá dentro.

Homens despreparados causam desordem na comunidade, e a desordem não é compatível com o Santuário. Assim, é impossível profanar o Santuário, uma vez que a admissão não é formal, mas real.

A inteligência mundana busca este Santuário em vão; infrutíferos também serão os esforços da malícia em penetrar esses grandes mistérios; tudo é indecifrável para aquele que não está maduro; ele não pode ver nada e nem ler nada no interior.

Aquele que está apto é ligado à corrente, talvez muitas vezes onde ele pensou menos provável, e em um ponto em que ele mesmo não sabia nada.

Tornar-se apto deve ser o único esforço daquele que procura sabedoria.

Mas há métodos pelos quais a aptidão é alcançada, pois nesta santa comunhão está o armazém primitivo da ciência mais antiga e original da raça humana, também com os mistérios primitivos de toda a ciência. É a única e realmente iluminada comunidade, que é absolutamente detentora da chave de todo mistério, que conhece o centro e a fonte de toda a natureza. É uma sociedade que une força superior à sua própria, e conta com membros de mais de um mundo. É a sociedade cujos membros formam a república do Gênio, a Mãe Regente do Mundo inteiro.



  1. «Originalmente publicado nas páginas 4 a 13 do The Equinox Vol. I Nº 1, em março de 1909. Seu conteúdo é descrito como: “Um relato básico e sugestivo do trabalho da Ordem e sua relação com o homem médio.”» ↩︎

  2. «Este texto é uma adaptação feita por Crowley de um trecho do livro A Nuvem Sobre o Santuário, de Karl von Eckartshausen, um filósofo e místico católico alemão.» ↩︎

  3. «Sobre a catalogação sob o número 33, o autor afirma: “Este número é dado por motivos maçônicos.”» ↩︎


Traduzido e anotado por Alan Willms em 2018, atualizado em 2021. Revisado em 2021 por Lucas Fortunato.

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