http://www.astrumargenteum.org
AW: Como funciona uma Clerk House da A∴A∴?
RF: Clerk House é um título adotado em homenagem a Grady McMurtry, cuja primeira tentativa de um órgão oficial da O.T.O. na área da baía de São Francisco foi chamada de Kaaba Clerk House. É um termo retirado de Liber AL.
É simplesmente o veículo ou corpo externo que a pessoa estabelece quando está pronta para ensinar. Ou seja, quando alguém na linha de Grady está pronto para assumir seus próprios alunos e mais ou menos trabalhar de forma independente, eles recebem uma autorização para administrar uma Clerk House. Não é algo que faça parte da A∴A∴ original ou de sua estrutura padrão. Em vez disso, é exclusivo de nossa linhagem e tem muito mais a ver com nossa tradição. No entanto, como elas realmente funcionam e/ou ensinam é mais ou menos segundo as linhas tradicionais — com a única exceção de que as Clerk Houses têm uma grande independência.
AW: Como sua pesquisa sobre o Liber OZ começou?
RF: Ela começou com uma pergunta feita por uma Soror — ela queria saber se o OZ tinha alguma aplicação filosófica interna ou se era mais bem compreendido de uma maneira simples e mundana. Até aquele ponto, eu realmente não havia considerado OZ filosoficamente. Mas sua pergunta me forçou a pensar e então comecei a contemplar as implicações filosóficas deste Liber. Ao fazer isso, tive um daqueles momentos de epifania que me levou a ver OZ sob uma luz totalmente nova. Embora eu imediatamente tenha começado a registrar meus pensamentos, levei vários meses antes que eu pudesse apresentá-los de qualquer maneira coesa. Além da estudante que inicialmente fez a pergunta, a primeira pessoa com quem compartilhei minhas anotações foi Bill Heidrick e foi ele quem primeiro sugeriu que eu as publicasse. Para saber mais sobre esta pesquisa, acesse http://liberozproject.com
AW: Quais mudanças você percebeu na comunidade Thelêmica desde que você começou?
RF: Em muitos aspectos, ela amadureceu e atualmente desfruta de um certo nível de aceitação entre os círculos acadêmicos. Mas, de outras maneiras, ela estagnou enquanto as Ordens Thelêmicas lutam para evoluir e abraçar a Lei de Thelema. Portanto, vejo mais organização — livros melhores — professores melhores e rituais melhores. Mas também vejo mais dogma, uma contínua política envolvendo a A∴A∴ e menos aceitação geral. Precisamos trazer de volta um pouco do antigo espírito, mas em equilíbrio com o que é bom hoje. Os corpos thelêmicos maiores precisam abraçar a mudança e o crescimento e desapegar de muitos dos demônios de ontem. O mesmo tipo de luta que você vê acontecendo no mundo lá fora você encontra em nossas ordens thelêmicas. O mesmo tipo de política suja e gente com fome de poder armando seus jogos — precisamos encontrar uma maneira de superar tudo isso.
AW: Quais você acha que são os maiores desafios para a comunidade thelêmica?
RF: O que mencionei anteriormente. Precisamos de líderes e organizações que realmente adotem a Lei de Thelema, não daqueles que dizem que o fazem e então se voltam e usam os ensinamentos de Crowley para apoiar suas posições fascistas confusas… esta é uma luta real e é uma batalha desta geração — não apenas em Thelema, mas em todo o mundo. A humanidade se levantará? Será que algum dia aceitaremos verdadeiramente que toda mulher e todo homem é uma estrela? Algum dia subjugaremos os preconceitos? Será que algum dia entenderemos que a compaixão é realmente o vício dos Reis e, em seguida, voltaremos e começaremos a agir como Reis? A verdade é que a humanidade há muito tem em seu poder a capacidade de resolver todos os seus males — mas nós temos? Não estarei por perto para ver se vamos fazê-lo, mas sei que temos a capacidade e sei que a Lei de Thelema pode nos guiar até lá.
AW: Qual é a sua visão, como norte-americano, sobre Thelema no Brasil?
RF: Eu gostaria de ver Thelema crescer e cumprir sua promessa. Os princípios filosóficos de Thelema são bastante profundos, embora nós, como um povo, ainda sejamos muito afetados pelo pensamento do velho êon. Tudo o que se deve fazer é olhar para o estado da política no mundo para ver que o velho êon ainda tem um forte controle sobre a humanidade — mas ainda há esperança. Gandhi disse uma vez que devemos ser a mudança que queremos ver no mundo e com isso estou inteiramente de acordo. É por esta razão que eu, anos atrás, comecei a me aproximar dos líderes de várias comunidades thelêmicas ao redor do mundo com a esperança de encontrar algum terreno comum — algo para aproximar nossas comunidades um pouco mais e deixar para trás o tipo de política e brigas que só servem para nos dividir. Eu gostaria de pensar que tenho tido pelo menos um pouco de sucesso nesses assuntos e, de fato, agora não é tão incomum ver comunicação e projetos entre linhagens da A∴A∴ se unindo. Muito parecido com esta publicação, que eu entendo que é o esforço conjunto de alguns ramos da A∴A∴, e embora eu não tenha nada a ver diretamente com este projeto em particular, imagino que estou sendo entrevistado aqui precisamente por causa das conexões que fiz aqui no Brasil em meus esforços para unir a comunidade Thelêmica. Então, você poderia dizer que o mesmo espírito que criou este periódico é minha esperança e visão para Thelema em todo o mundo enquanto avançamos no novo êon. Em suma, gostaria de ver um mundo em que cada pessoa fosse verdadeiramente respeitada como uma estrela, em que a individualidade fosse abraçada e a liberdade celebrada por todos. Cada um de nós desempenha um papel na realização desse sonho… devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.
AW: Quais peças fundamentais da história thelêmica estão faltando e que seria bom se reaparecessem hoje?
RF: O que falta é a história moderna. Tudo o que aconteceu durante a vida de Crowley está bem documentado, mas a história após a morte de Crowley está fragmentada. Ou seja, tudo que aconteceu com Motta no Brasil e com Grady McMurtry aqui na América. Em meu pensamento, essa é nossa verdadeira história. A O.T.O. não funcionou realmente como uma organização sob Reuss e teve sucesso limitado sob Crowley. Na verdade, quando Crowley faleceu, havia apenas um punhado de membros sobreviventes tanto na A∴A∴ quanto na O.T.O. Mas as coisas realmente decolaram nos anos 70 graças ao trabalho de Grady, Phyllis, Motta e alguns outros. Em minha opinião, historicamente, este é período mais significativo para Thelema e extraordinariamente muito pouco foi escrito sobre esse período. Claro que muitos dos protagonistas ainda estão vivos e há muitas histórias que preferem não contar — mas na verdade é a nossa história e é importante que seja preservada, por isso passo muito tempo conversando com aqueles que estiveram lá e escrevo continuamente tudo o que sei. Se seria bom se tudo isso aparecesse hoje??? Pode ser um pouco cedo ainda, mas é importante que seja preservado para as gerações futuras e considero isso parte do meu trabalho — se eu viver o suficiente, compartilharei tudo.
AW: Qual é a maior pérola de seus arquivos thelêmicos?
Provavelmente meu item mais precioso é um pequeno bule de chá que pertenceu a Jane Wolfe. Tive a honra de servir como sacerdote na Missa Gnóstica inaugural da 418 Lodge. O ritual aconteceu na casa de Soror Meral em Oroville e usamos todos os implementos do templo para o ritual e depois da missa comentei o quanto gostei do pequeno jarro de água na fonte e foi quando ela me contou a história por trás dele. Ela me disse que ele pertencia a Jane e que ela o comprou para levar com ela para Cefalu e que o usava quase diariamente enquanto estava lá e que ele foi até mencionado em seus diários e usado por Crowley — havia alguns pequenos copos com ele também, mas não sei o que aconteceu com eles. De qualquer forma, depois que ela faleceu, a 418 Lodge mudou-se primeiro para minha casa em Sacramento. Em uma das reuniões da Loja, David Shoemaker trouxe uma caixa de itens diversos do templo dela e os ofereceu aos membros locais como lembranças de Phyllis — isso estava lá e eu imediatamente peguei sabendo de sua história e que era especial para Phyllis e ele está em minha posse desde então.
Traduzido por Alan Willms.