Verdadeira Vontade

Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faz aquilo, e nenhum outro dirá não.

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Verdadeira Vontade

A Verdadeira Vontade é uma das doutrinas centrais de Thelema. Thelema, é claro, significa ‘vontade’, e “Faz o que tu queres” é a lei de Thelema conforme estabelecida no Livro da Lei e em outros lugares.

Curiosamente, a frase “verdadeira vontade” não aparece em nenhum lugar do Livro da Lei, mas Crowley escreveu extensivamente sobre isso. No Livro 4, Crowley diz:

“A teoria é que todo homem e toda mulher têm atributos definidos cuja tendência, considerada em devida relação com o ambiente, indica um curso de ação adequado em cada caso. Seguir esse curso de ação é fazer sua Verdadeira Vontade.”

As pessoas se envolvem com Thelema por diversos motivos: interesse no ocultismo, prática mágica, busca de liberdade pessoal, rebelar-se contra a tradição, buscar a companhia de indivíduos que pensam da mesma forma etc. Mas por detrás de tudo isso, e implícito na aceitação da lei de Thelema, há o conceito abrangente de que todos estamos aqui para encontrar e fazer nossas vontades. Todas as práticas, todo o conhecimento adquirido, cada ritual e ordálio, todo o trabalho mágico e mundano que fazemos, tudo isso pode ser direcionado para esse objetivo.

A verdadeira vontade é às vezes descrita como o “destino” de uma pessoa ou a “razão pela qual estamos aqui”, o que dá uma impressão enganosa de ser uma coisa especial sobre nós mesmos. Mais precisamente, diz-se que a verdadeira vontade é a essência de quem somos. Acho que a verdadeira vontade é o aspecto central distinto e único do self, que é a base para nossos pensamentos e ações mais autênticos. Compreendendo essa base e, em seguida, alinhando de acordo com ela as partes de nossas vidas sobre as quais temos controle, podemos funcionar com mais eficiência e realizar a Grande Obra.

Por mais conhecida e frequentemente discutida que seja a verdadeira vontade, pode ser um pouco difícil de compreendê-la em nossas vidas cotidianas. Como distinguimos entre nossa vontade consciente (minúscula) e nossa Vontade (maiúscula)? Pode ser complicado saber quando um desejo de fazer ou ter algo é uma expressão da Vontade. Poderia ser minha vontade me sentar no sofá o fim de semana inteiro, comer salgadinhos e assistir Netflix, certo?

Existe a ideia de que, assim como a magia (que estamos fazendo o tempo todo, quer saibamos ou não), também estamos fazendo nossas vontades o tempo todo em algum nível, quer saibamos ou não. Na maioria das vezes, tendo a concordar com essa visão. O Sagrado Anjo Guardião é paciente e esperará por nós o tempo que for necessário. Daí alguns podem argumentar: por que se esforçar se não importa se tentamos ou não deliberadamente conhecer e realizar nossa verdadeira vontade, já que estamos fazendo isso de qualquer maneira?

Teoricamente este pode ser o caso, e se “todos os caminhos levam a Roma” então é verdade que eventualmente chegaremos ao Conhecimento e Conversação. No entanto, essa linha de pensamento pode ser usada para desculpar todos os tipos de mau comportamento, porque “Ei, é minha vontade ser um idiota”. Isso é apenas deixar o ego dirigir o ônibus. E ainda mais sobre o que Crowley tratou no Livro 4, pensamento e ação sem foco são uma grande perda de tempo.

“Um homem cuja vontade consciente está em desacordo com sua Verdadeira Vontade, está desperdiçando sua força. Ele não pode esperar influenciar seu ambiente de forma eficiente.” — Crowley, Teoria da Magia

Se alguém não estiver fazendo sua vontade, o universo corrigirá seu curso em algum momento. Quando isso acontecer, pode ser mais doloroso do que seria se doutra forma tivéssemos tomado alguma medida. Então há benefícios em descobrir essas coisas.

Para descobrir sua vontade, são necessárias uma auto-observação e uma autoanálise honestas. A famosa frase grega “Conhece-te a ti mesmo” e o espírito de autodescoberta estão integrados em nosso trabalho mágico. Ser membro de ordens mágicas é uma maneira de encontrar respostas dentro de um programa estruturado. Para o praticante solitário, muito disso é feito por conta própria, na tentativa e erro, mas não custa nada adotar uma abordagem mais organizada com as ferramentas disponíveis. Os exercícios encontrados no livro Vivendo Thelema do Dr. David Shoemaker podem ajudar a identificar algumas guias importantes. Por exemplo, pergunte a si mesmo:

  • Você causa algum efeito consistente e repetido em seu ambiente ou nas pessoas ao seu redor?
  • O fogo queima, a água molha, o ar sopra… se você é uma força natural como esta, o que você faz?
  • Procure temas recorrentes em sua vida, interesses que o impulsionam ou inspiram de forma consistente.
  • Pergunte a seus amigos o que eles acham que são seus pontos fortes e fracos. Pergunte aos seus inimigos.

É útil entender o que a verdadeira vontade não é. A verdadeira vontade não é nosso emprego. Não é a nossa casa, ou onde moramos, ou com quem dormimos, nossa faixa de renda, ou o carro que dirigimos, ou as coisas que fazemos como passatempo. Tenha em mente que a Vontade é mais sobre quem somos e o estado central do ser de onde viemos, e menos sobre o que fazemos ou o que temos. Isso pode ser complicado porque essas coisas externas, como empregos e passatempos, podem legitimamente ser extensões ou reflexos da Vontade. Há algumas nuances aí, e é uma questão de situação. Desviando o foco das coisas externas em nossas vidas e concentrando-nos no âmago do self, talvez possamos fazer com mais facilidade a parte difícil do trabalho que envolve remover aquelas coisas que não estão de acordo com nossa verdadeira vontade.

Tive uma conversa com um estudante que tinha dúvidas sobre a verdadeira vontade. Ele estava incerto porque, ao tentar analisar suas tendências, sentiu que nada o levava a uma direção ou outra. Ele estava preso sem uma ideia clara do que fazer. Ele deve se mudar para uma nova cidade ou ficar onde está? Ele deve achar um novo emprego ou não? Nenhuma das escolhas diante dele parecia excitar o lampejo de interesse ou paixão que ele esperava que indicasse a verdadeira vontade.

Meu conselho para ele foi entender que descobrir nossa Vontade é um processo contínuo. Em vez de obter um grande raio: É ISSO, a Vontade de alguém geralmente será uma revelação gradual ao longo do tempo. Não tem problema se nenhuma tendência específica se destaca imediatamente quando olhamos para dentro de si. Não saber é muito mais comum do que saber, principalmente no começo. Não pense demais. Em caso de dúvida, escolha uma direção que faça sentido no seu melhor julgamento e siga em frente. Seu Sagrado Anjo Guardião lhe dará um retorno se você está no caminho certo ou não.

O SAG está nos ajudando ao longo do caminho, se ouvirmos. Essa ajuda pode vir na forma de sonhos, intuição, símbolos pessoais e sentimentos. Também pode chegar até nós como eventos externos, encontros casuais, mudanças de circunstâncias e também desastres e interrupções em nossas vidas. Seguir nossas vontades não é garantia de felicidade ou sucesso externo. A verdadeira vontade pode nos levar a direções inesperadas e desconfortáveis, até mesmo dolorosas. O ego quer conforto e prazer, mas às vezes nossa Vontade é experimentar outra coisa.

A estrada de cada pessoa é diferente, mas descobri que, à medida que trabalho e continuo a crescer como magista, a direção a ser tomada a qualquer momento se torna mais clara. Perguntas que eu possa ter tido tendem a desaparecer como algo irrelevante. A escolha correta entre várias possibilidades torna-se mais óbvia. Para mim, esta é uma indicação de que o sistema está funcionando e estou seguindo em direção à minha verdadeira vontade e uma conexão consciente com o SAG.

Quando se está comprometido com a lei de Thelema, faz sentido que estejamos fazendo ativamente o trabalho de autoexame e auto exploração, de encontrar e fazer a verdadeira vontade. Como diz o Livro da Lei:

“Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Faz aquilo, e nenhum outro dirá não. Pois vontade pura, desaliviada de propósito, liberta da ânsia de resultado, é de todas as vias perfeita.”

Nós nos comprometemos a explorar a natureza e os poderes do nosso ser. A verdadeira vontade é a nossa natureza, e há poder a ser encontrado nessa exploração.


Traduzido por Alan Willms.

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